Nesta sexta-feira, 4, o Pe. Cesar Augusto dos Santos, SJ., vice-postulador da causa de canonização de José de Anchieta e responsável pelo programa brasileiro da Rádio Vaticano, falou em entrevista a ACI Digital sobre a devoção dos brasileiros ao Pe. Anchieta, o apostolado deste missionário jesuíta no campo da evangelização da cultura e animou os jovens brasileiros a aprenderem de seu ardor e modelo de santidade.

Falando sobre a canonização equipolente e o tema do segundo milagre usualmente requerido para a elevação aos altares na qualidade de santo, Pe. César explicou que “esta forma de canonização não dispensa o segundo milagre. Ela não se atém a isso, ao contrário, procura saber sobre a antiguidade da devoção, sua permanência durante séculos e sua amplidão”.

“Por exemplo: no caso do Papa João XXIII, foi dispensado esse milagre e sua canonização será a que estamos acostumados a presenciar e não a equipolente. No caso de José de Anchieta, sua devoção entrou no V século e, nem mesmo a ação do Marquês de Pombal em expulsar os jesuítas do Brasil, possibilitou a interrupção dessa devoção”, esclareceu.

Falando sobre o amor e devoção dos brasileiros ao missionário que recebeu o título de Apóstolo do Brasil no dia de sua missa de corpo presente, o sacerdote afirmou: “Ao fazer a pesquisa da amplidão da devoção de Anchieta em todo o Brasil, fiquei admirado em saber que em cada Estado da Federação, temos pelo menos 50 devotos. O número de igrejas, capelas, altares, monumentos, instituições escolares, hospitalares, ruas, edifícios que são dedicados ou possuem o nome de Anchieta é grandioso, sem falar nomes de pessoas e de famílias”, acrescentou.

Falando especificamente sobre o processo de canonização, Pe. Cesar afirma: “tivemos o cuidado de verificar que esses sinais de devoção a Anchieta fossem posteriores à Beatificação. Não contamos o antes, mas apenas o depois”.

Ao ser perguntado sobre a quantidade de testemunhos de graças alcanças, o jesuíta foi enfático: “Houve muitas, mas muitas graças mesmo”.

“Nos cinco anos em que mantivemos o escritório da Vice-Postulação, recebemos cerca de 300 cartas por mês, sem contar os e-mails. Eram pequenas graças, graças importantes e graças que se assemelhavam a milagres. A maioria tratava de saúde, emprego e relacionamento. Recordo-me de algumas relacionadas a câncer de pele, gravidez e acidentes”, sublinhou o padre.

Partilhando seu testemunho de ter acompanhado o processo de São José de Anchieta nas suas últimas fases, Pe. Cesar expressou: “Minha experiência é a de que a ação de Deus é maravilhosa. Você percebe como Deus foi bom em criar alguém como José de Anchieta, conservá-lo nessa bondade e colocá-lo junto a nós, em nosso Brasil, em nossa terra”.
“Ainda não conhecemos José de Anchieta. Cada vez que leio suas cartas, reflito sobre sua vida, aprendo algo novo”, assinalou.

Outro aspecto da vida do santo que Pe. Cesar ressaltou em sua entrevista foi o apostolado na Evangelização da cultura do Brasil.

“José de Anchieta começou sua ação missionária escrevendo a gramática da língua tupi, dando registro gráfico e estruturando o idioma indígena.; também o teatro de Anchieta, influenciado por Gil Vicente, foi totalmente marcado pela cultura indígena com cantos, danças e adereços; não poderemos nos esquecer da absorção da medicina indígena no uso de ervas, raízes e argila; enfim, ele foi o Mestre de Piratininga, o escritor de cartas, conhecedor de nossa ecologia – veja-se a Carta de São Vicente na qual fala de modo impressionante de nossa fauna, flora, acidentes geográficos, firmamento e estações. Podemos dizer que Anchieta está no início de nossa cultura”, declarou.

Concluindo sua entrevista, Pe. Cesar enviou uma especial exortação aos jovens católicos do Brasil: “Aprendam de Anchieta: ele, um jovem europeu e doente, que chegou a um Brasil Colonial bastante
Inóspito, (...) e que não se intimidou com os desafios, mas amou a terra que Deus lhe dava e tirou de seu coração todo o amor necessário para vencer as dificuldades e cumprir sua bela missão”.

“Nossa juventude encontra muitos e tremendos desafios, mas se der vazão ao amor que está dentro de si, se aceitar ser humano e enfrentar com dignidade todos os desafios, ela multiplicará José de Anchieta e teremos muitos novos e novas Anchietas”, concluiu.