No marco das manifestações pacíficas de estudantes na região e em todo o país desde o dia 13 de fevereiro, violentamente reprimidas pelo governo, o Arcebispo de Valência (Venezuela), Dom Reinaldo del Prette Lissot, assegurou ter recebido diversas denúncias de torturas cometidas pela Guarda Nacional.

Em um comunicado publicado ontem no seu site, Dom Reinaldo del Prette Lissot indicou que “se apresentaram vários pais de família denunciando que os seus filhos sofreram torturas, ultrajes e humilhações por parte de membros da Guarda Nacional, durante o tempo em que ficaram detidos nas instalações militares”.

“Também me manifestaram o seu estado de impotência por não poder procurar uma delegacia para fazer a denúncia, nem conseguir desta a ordem para que um médico forense realize a devida perícia médica, nem tampouco poder transferi-los para Centros de Saúde, por estarem em prisão domiciliar”.

A imprensa internacional relatou os casos de Juan Manuel Carrasco, de 21 anos, e Jorge Luis León, de 25, que permaneceram por cerca de 60 horas em mãos da Guarda Nacional, sem comparecer ante um juiz. Nesse tempo sofreram torturas e abusos por parte das autoridades.
Os jovens denunciaram que foram espancados repetidamente, ao ponto que um deles fingiu estar morto para evitar que a violência continuasse. Juan Manuel disse também que os guardas o violentaram sexualmente com o canhão de um fuzil.

Dom Reinaldo del Prette Lissot fez um chamado “à Procuradoria do Ministério Público, para que se aproxime para conhecer estas denúncias e que estes fatos não fiquem sem punição, pois se forem confirmados, eles denigrem a imagem de uma Instituição como as Forças Armadas que está à serviço dos cidadãos, e estes poderiam perder toda a confiança nela”.

Além disso, Dom Prette Lissot fez um chamado para que a Procuradoria “realize uma exaustiva investigação dos acontecimentos do dia 18, onde vários manifestantes ficaram feridos de bala e alguns estão em estado grave”.

Entre os feridos do dia 18 de fevereiro está Génesis Carmona, Miss Turismo 2013, de apenas 22 anos que levou um tiro na cabeça enquanto participava pacificamente nas manifestações.

A jovem faleceu ontem ao meio dia, logo depois de ser operada na Unidade de Cuidados Intensivos.

Para o Arcebispo de Valência “é inconcebível que em uma manifestação pacífica, assistam pessoas armadas vestidas de civil e atirando indevidamente sobre os manifestantes, quando os únicos que detêm legalmente as armas da República são os funcionários de segurança, que devem estar devidamente uniformizados para sua identificação, e proteger as manifestações dos cidadãos”.

“A eles corresponde como neutralizar àquelas pessoas vestidas de civil que façam uso de uma arma dentro de uma manifestação pacífica; se não agirem assim, se tornam cúmplices destes delitos”.

“Basta deste enfrentamento entre os venezuelanos! Não somos inimigos para acabar com as nossas diferenças com a guerra, pois se continuamos por este caminho, entraremos em uma guerra civil, e nela ninguém ganha, não existem nem vencedores nem vencidos. Todos perdemos. Os venezuelanos somos irmãos”, concluiu.