Na primeira encíclica publicada durante o seu pontificado, o Papa Francisco assinalou a importância de "recuperar a ligação da fé com a verdade", especialmente por causa da "crise de verdade em que vivemos" no mundo contemporâneo.

O Santo Padre assegurou que "na cultura contemporânea, tende-se frequentemente a aceitar como verdade apenas a da tecnologia: é verdadeiro aquilo que o homem consegue construir e medir com a sua ciência; é verdadeiro porque funciona, e assim torna a vida mais comoda e aprazível".

Esta verdade parece ser hoje, assinalou, "a única certa, a única partilhável com os outros, a única sobre a qual se pode conjuntamente discutir e comprometer-se".

Ao mesmo tempo existiriam "as verdades do indivíduo", as quais são "válidas apenas para o sujeito mas que não podem ser propostas aos outros com a pretensão de servir o bem comum".

O Santo Padre lamentou que "a verdade grande, aquela que explica o conjunto da vida pessoal e social, é vista com suspeita".

"Porventura não foi esta — perguntam-se — a verdade pretendida pelos grandes totalitarismos do século passado, uma verdade que impunha a própria concepção global para esmagar a história concreta do indivíduo?".

Ante esse panorama, "resta apenas um relativismo, no qual a questão sobre a verdade de tudo — que, no fundo, é também a questão de Deus — já não interessa".

"Nesta perspectiva, é lógico que se pretenda eliminar a ligação da religião com a verdade, porque esta associação estaria na raiz do fanatismo, que quer emudecer quem não partilha da crença própria".

Por isso, o Santo Padre denunciou que existe uma "grande obnubilação da memória no nosso mundo contemporâneo", pois "de fato, a busca da verdade é uma questão de memória, de memória profunda, porque visa algo que nos precede e, desta forma, pode conseguir unir-nos para além do nosso ‘eu’ pequeno e limitado".

"É uma questão relativa à origem de tudo, a cuja luz se pode ver a meta e também o sentido da estrada comum".