Diante de 200 mil fiéis que estiveram presentes na última audiência geral do seu Pontificado, Bento XVI quis “dar graças de todo o coração a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, que semeia a sua Palavra, alimentando assim a fé no seu Povo”, lembrando em sua ação de graças especialmente os seus colaboradores e todos os que manifestaram sua proximidade nestes dias.  O Papa assinalou que a barca da Igreja, sobretudo em momentos difíceis, é guiada pelo Senhor, quem jamais permite que ela venha a naufragar.

Na véspera de deixar o ministério petrino (sua renúncia será efetiva amanhã, quinta-feira, 28 de fevereiro, às 20 horas, horário de Roma), o Papa quis, antes de mais, “dar graças de todo o coração a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, que semeia a sua Palavra, alimentando assim a fé no seu Povo” e declarou viver este momento com “grande confiança”, na certeza de que “a Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida”.

Em seu discurso em italiano, Bento XVI convidou todos a renovarem sua confiança no Senhor, no marco do Ano da Fé  “como crianças nos braços de Deus, na certeza de que esses braços sempre nos sustentam, permitindo-nos caminhar dia após dia, apesar da fadiga”.

Bento XVI quis agradecer neste momento especial da sua vida e antes da conclusão do seu pontificado os seus colaboradores mais próximos, e recordou: “um Papa nunca está sozinho na condução da barca de Pedro, embora lhe toque a primeira responsabilidade”.

“Nunca me senti sozinho na (responsabilidade) de levar a alegria e o peso do ministério petrino. O Senhor pôs ao meu lado muitas pessoas que, com generosidade e amor a Deus e à Igreja, me ajudaram com a sua proximidade”, recordou também o Papa, mencionando especialmente os cardeais, cuja “sageza, conselhos e amizade foram preciosos”, prosseguindo com os colaboradores mais diretos, desde o Secretário de Estado incluindo todos os que estão ao serviço da Santa Sé, muitos deles “na sombra, no silêncio e na dedicação quotidiana, com espírito de fé e de humildade”.

“Mas eu sempre soube que na barca está no Senhor e eu sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é d’Ele e Ele não a deixa naufragar, é ele quem conduz, certamente, através de homens ele escolheu, porque ele quis”, afirmou.

Segundo a nota Rádio Vaticano, Papa Bento agradeceu também ao Corpo Diplomático e manifestou uma especial e afetuosa gratidão à “sua” diocese de Roma, a todos os irmãos no episcopado e no presbiterado, todos e todas as consagradas, e todo o Povo de Deus.

Bento XVI agradeceu também de todo o coração as numerosas pessoas de todo o mundo que nas últimas semanas lhe enviaram – disse – “comoventes sinais de atenção, amizade e oração”.
“Sim, o Papa nunca está só, experimento-o agora uma vez mais, de um modo tão grande que toca o coração. O Papa pertence a todos e tantíssimas pessoas sentem-se muito perto dele”, completou.

Falando especificamente sobre sua renúncia o Santo Padre partilhou:
“Nestes últimos meses senti que as minhas forças tinham diminuído e pedi a Deus com insistência, na oração, que me iluminasse com a sua luz para me fazer tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja”.

“Dei este passo na plena consciência da sua gravidade e também novidade, mas com uma profunda serenidade de espírito. Amar a Igreja significa também ter a coragem de fazer escolhas difíceis, dolorosas, tendo sempre presente o bem da Igreja, e não nós próprios”, completou.

Para concluir, o Santo Padre invocou sobre toda a Igreja a intercessão da Virgem Maria convidando a comunidade eclesial a confiar-se a Ela com toda fé.

“Queridos amigos! Deus guia Sua Igreja, e a dirige sempre, e especialmente em tempos difíceis. Nunca percamos essa visão de fé, que é a única visão verdadeira da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de vocês, haja sempre a certeza alegre de que o Senhor está próximo, Ele não nos abandona, está perto de nós e nos envolve com seu amor. Obrigado!”, concluiu Bento XVI.

Após a catequese Bento XVI fez um resumo do seu discurso em várias línguas, entre elas o português:

Queridos irmãos e irmãs,
No dia dezanove de Abril de dois mil e cinco, quando abracei o ministério petrino, disse ao Senhor: «É um peso grande que colocais aos meus ombros! Mas, se mo pedis, confiado na vossa palavra, lançarei as redes, seguro de que me guiareis». E, nestes quase oito anos, sempre senti que, na barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. Entretanto não é só a Deus que quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho na condução da barca de Pedro, embora lhe caiba a primeira responsabilidade; e o Senhor colocou ao meu lado muitas pessoas que me ajudaram e sustentaram. Porém, sentindo que as minhas forças tinham diminuído, pedi a Deus com insistência que me iluminasse com a sua luz para tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e inovação, mas com uma profunda serenidade de espírito”.

“Amados peregrinos de língua portuguesa, agradeço-vos o respeito e a compreensão com que acolhestes a minha decisão. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja, na oração e na reflexão, com a mesma dedicação ao Senhor e à sua Esposa que vivi até agora e quero viver sempre. Peço que vos recordeis de mim diante de Deus e sobretudo que rezeis pelos Cardeais chamados a escolher o novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Confio-vos ao Senhor, e a todos concedo a Bênção Apostólica”.