Barbara Fralle, oficial do Arquivo Secreto do Vaticano e perita nos documentos originais do Papa Alejandro VI, assegura que tudo o que mostra a série de televisão Os Borgia sobre sexo, corrupção, e violência se apóia em lendas negras sem fundamento da realidade histórica.

Em uma entrevista concedida ao grupo ACI no dia 6 de novembro, Fralle explicou que há muitas lendas negras sobre o Papa Alejandro VI, e considerou que este polêmico personagem foi pivotal na defesa da dignidade dos indígenas quando Colombo descobriu as Américas e foi mecenas de grande parte do legado artístico do Renascimento que possui hoje a Itália.

A perita nos documentos custodiados no arquivo e na biblioteca apostólica do Vaticano sobre  a dinastia dos Borgia, explicou que a figura de Alejandro VI foi tergiversada pela lenda negra, escura, tenebrosa, que tem sua base em uma pequena parte de verdade, porque seus personagens e o contexto histórico que os rodeia se prestam, efetivamente, ao romance.

Ao referir-se à série de televisão, indicou que “quem escreve estas ficções condimenta a verdade com uma dose abundante de intrigas escandalosas, de amor, e adultério, para dar este gosto picante que atrai o público. Mas é necessário recordar que se trata de ficção”.

A série Os Borgia do Tom Fontana conseguiu uma alta sintonia em 85 países do mundo, tem milhões de visitas em Internet e anunciou sua terceira temporada para o ano 2013.

A série apresenta uma época de corrupção e depravação em que Rodrigo Borgia –o Papa Alejandro VI-, exerce de intermediário entre os conflitos dos reinos e os impérios do mundo.

Fralle assinala que como em todos os casos de obras cinematográficas “há algo de verdade, e muita lenda. Mas por outro lado, se a história fosse apresentada no cinema ou na televisão com suas conotações reais, isto não atrairia tantas pessoas”.

Nnaquele tempo “Roma era uma cidade corrupta, quer dizer, cheia de costumes imorais, e delitos de estado…Estamos nos anos que precedem o sisma de Lutero, que precisamente nasce como uma reação aos costumes morais da Igreja católica, mas não era apenas a Igreja Católica que estava corrompida, mas havia um estilo de vida absolutamente libertino e lascivo na sociedade”.

 “A má sorte de Alejandro VI se deve aos delitos de seu filho Cesar Borgia, que foi um personagem realmente tenebroso de uma ambição desmesurada, chegando ao ponto de matar seu irmão Juan por pura inveja”, recordou a perita.

Fralle indicou que no Arquivo Segredo Vaticano se conserva ainda a Bula chamada Inter Caetera, de Alejandro VI, pela qual foi consagrado que os habitantes da América deveriam ser tratados como filhos de Deus, e que o território pertencia à Coroa Espanhola.

Segundo estas indicações “foi a própria Isabel de Castilla, quem escreveu dando ordens muito exatas a Colombo e a outros sobre o fato de que estes indígenas, não deviam ser explorados. Deviam ser empregados nos trabalhos, por exemplo do campo, mas em troca de uma recompensa justa”.

“Portanto, tanto na mente do Papa, como da Rainha da Espanha, nunca esteve a idéia da escravidão”, afirmou a historiadora.

A escravidão “foi também usada por outros estados, como os portugueses ou os franceses, que em suas colônias, permitiram o tráfico de escravos e todos os horrores que conhecemos, mas em nossa documentação, está demonstrado que a Rainha de Castilla pensava em uma colônia habitada por súditos que trabalhassem em troca de uma recompensa e de um salário”, concluiu.

Em declarações ao grupo ACI, Mario Dal Bello, outro perito na história da família Borgia, e autor do livro “Os Borgia: A lenda negra”, explicou que Alejandro VI também foi quem instaurou “o ritual da Porta Santa”, que marca o início do Ano Santo, que é a cerimônia pela qual, os católicos dão começo a um ano jubilar, como visto recentemente no grande Jubileu do Ano 2000.