A um mês da trágica morte do Oswaldo Payá e Harold Cepero, a líder do Movimento Cristão Liberação (MCL), Ofelia Acevedo, assinalou que segundo algumas informações que eles têm, estão convencidos que ambos morreram no dia 22 de julho logo depois de uma perseguição automobilística e não em um acidente por excesso de velocidade, como insiste o Governo de Cuba.

Em declarações difundidas nesta terça-feira pelo jornal espanhol ABC, a líder dissidente assinalou que não aceitam "a versão difundida pela televisão estatal. Recebemos muita informação e evidências do entorno do hospital e do acidente. Oswaldo não tinha nenhuma pressa de chegar, jamais teria arriscado a sua vida (…). Estamos convencidos de que houve uma perseguição".

"Não condeno a ninguém nem busco vingança. Mas sendo Oswaldo Payá quem é, devo-lhe uma explicação. Por isso reclamo uma investigação com nossas evidências e com as perguntas que alguém se faz a partir da versão oficial", acrescentou.

Por isso, indicou que a família do Payá também não aceita que o Governo comunista queira condenar ao espanhol Ángel Carromero –que dirigia o automóvel-, como responsável pela morte dos ativistas, pois isso parte da versão oficial do "acidente".

Durante a entrevista, a esposa do líder católico também citou o trabalho realizado pelo seu marido durante anos a favor das mudanças democráticas em Cuba, como são o Projeto Varela e o Projeto Heredia.

"O projeto político do MCL garante que os cubanos possam desenhar e decidir seu próprio futuro; garantindo pelas leis, direitos como a liberdade de expressão, associação... para que se crie o ambiente de confiança e respeito entre os cidadãos que permita começar um verdadeiro diálogo nacional e um processo de mudanças legais sem exclusões. Para isso trabalhou sem descanso toda sua vida", afirmou, e indicou que o sistema comunista afundou o povo cubano na pobreza.

Sobre uma maior ou menor relação entre a Igreja e a dissidência, disse que esta "depende fundamentalmente da hierarquia. A oposição não tem nem teve nenhum inconveniente nem nunca procurou nenhum problema com a Igreja".

Ofelia Acevedo também agradeceu as demonstrações de solidariedade que receberam de dentro e de fora da ilha e expressou que sente que a Cuba que sonhava seu marido está mais próxima. "Ele deixou o caminho preparado para isso, e agora mais, pois está abonado com o sangue do Oswaldo e do Harold", afirmou.

A outra vítima foi um ex-seminarista

Embora a figura mais conhecido do MCL seja Oswaldo Payá, diversos membros deste movimento como Regis Iglesias e Carlos Payá pediram várias vezes para não esquecer do Harold Cepero, o outro ativista também morto no dia 22 de julho.

Nesse sentido, em um artigo recolhido pelo blog Creerencuba.org, o reitor do Seminário São Carlos e São Ambrosio (Havana), Dom Antonio Rodríguez Díaz, recordou que Cepero foi um jovem católico que depois de ser expulso da Universidade de Camagüey em 2002 por assinar o Projeto Varela, iniciou um processo vocacional que o levou ao seminário desta cidade e posteriormente a Havana.

"Conheci a Harold faz quatro anos. Seus amigos o classificavam como um homem um pouco boêmio e malandrão (…). Pouco a pouco, na vida diária sob o mesmo teto, fui me dando conta de que era uma pessoa de grande sensibilidade para os problemas dos outros, acompanhada de uma grande dose de esquecimento de si mesmo. Era muito próximo a seus companheiros do Seminário, e também era muito querido e apreciado por eles", relatou.

Entretanto, em junho de 2010 descobriu que Deus não o chamava ao sacerdócio. "Se deu conta que embora fosse um seminarista correto, seu mundo não estava marcado pela vocação sacerdotal. Também eu o disse; e voluntariamente saiu do Seminário. Seu mundo era outro, o da Política", assinalou.

Dom Rodríguez recordou que Harold queria ser um leigo cristão comprometido no âmbito da política. "Sua vocação era ser cem por cento leigo. Deste modo, dedicou os dois últimos anos da sua vida à política militante, desde seu trabalho de humilde cozinheiro e homem da rua...", afirmou.

Entretanto, em 22 de julho morreu junto a Oswaldo Payá no Bayamo, "a cidade de Gramas, Aguilera, Figueredo e outros grandes da Pátria".

"A cidade do Hino lhe serve de altar para entregar sua alma a Deus. Uma das almas mais formosas que conheci na minha vida. Assim morreu Harold em meio de suas atividades políticas pacíficas, para fazer uma Cuba melhor onde todos estejam incluídos", expressou Dom Rodríguez.