Rimsha Masih, uma menina cristã de 11 anos com Síndrome de Down, foi presa no dia 11 de agosto, acusada de blasfemar após supostamente queimar algumas páginas com textos do Corão, o que segundo a lei islâmica pode ser motivo de morte.

A polícia paquistanesa deteve a jovem Rimsha em um bairro pobre do Islamabad, a capital do Paquistão, onde reside um importante número de cristãos, depois de que uma multidão furiosa exigisse um castigo para a suposta blasfêmia.

Alguns informes de organizações humanitárias que trabalham na zona, dizem que a menor queimou papéis que tinha recolhido de um amontoado de lixo, com a intenção de fazer fogo para cozinhar. Nesse momento, alguém ingressou na moradia e acusou a ela e a sua família de queimar páginas que continham versos do Corão.

Em declarações à CNN, um oficial da polícia local, Qasim Niazi, assinalou que na sexta-feira havia mais ou menos 150 pessoas reunidas no local onde vive a população cristã e que eles sofreram ameaças de ter suas casas queimadas.

"A multidão queria queimar a menina para dar-lhe uma lição", declarou.

Em declarações recolhidas pelo The Australian, Farrukh Saif, porta-voz do grupo cristão de direitos humanos com sede no Paquistão World Vision Progress, disse que Rimsha assegura que "ela estava queimando lixo, e que não sabia que um livro do Corão estava entre os papéis, porque não sabe ler".

De acordo com a Rádio France International, depois da detenção da menor, "numerosos cristãos que viviam em seu bairro abandonaram suas casas por temor às represálias".

A BBC informou que o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, ordenou uma investigação sobre a detenção da Rimsha. Os pais da jovem, conforme explicou o informativo britânico, receberam resguardo policial depois de receber ameaças.

O Ministro para a Harmonia Nacional do Paquistão, Paul Bhatti, irmão do católico Shahbaz Bhatti, assassinado por ódio à fé no dia 2 de março de 2011 nas mãos de extremistas muçulmanos, disse à BBC que é improvável que a menina com síndrome de Down "tivesse profanado de propósito o Corão".

Rimsha seguirá detida até o dia 25 de agosto, data em que se formalizará sua denúncia por blasfêmia.

O caso da Rimsha Masih é parecido ao caso da católica Ásia Bibi, que ainda está presa. Em 2009 foi atacada por uma multidão e levada a uma delegacia de polícia "para sua segurança", onde foi acusada de blasfêmia contra Maomé. Desde sua detenção denunciou ser perseguida em razão de sua fé e negou ter proferido insulto contra o Islã.

Ao ser condenada a morte por um juiz paquistanês, Ásia Bibi disse que "fui julgada por ser cristã. Acredito em Deus e no seu amor enorme. Se o juiz me condenou à morte por amar a Deus, estarei orgulhosa de sacrificar minha vida por Ele".

Lei da Blasfêmia

A Lei da Blasfêmia agrupa várias normas contidas no Código Penal inspiradas diretamente na Shariah –lei religiosa muçulmana– para sancionar qualquer ofensa de palavra ou obra contra Alá, Maomé ou o Corão.

A ofensa pode ser denunciada por um muçulmano sem necessidade de testemunhas ou provas adicionais e o castigo supõe o julgamento imediato e a posterior condenação à prisão ou morte do acusado.

A lei é usada com frequência para perseguir a minoria cristã, que está acostumada a ser explorada no trabalho e discriminada no acesso à educação e aos cargos de função pública.