Hoje pela tarde faleceu Oswaldo Payá Sardiñas, histórico líder católico da dissidência de Cuba, em um acidente de trânsito na província de Granma, ao sudeste de Cuba.

O acidente ocorreu aproximadamente às 3:00 p.m. (hora local) quando Payá e outras três pessoas se transladavam em automóvel de Havana até a cidade de Bayamo em Granma.

Elizardo Sánchez, presidente da Comissão Cubana de Direitos humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), seu irmão Carlos Payá que radica em Madrid e secretário do Bispo de Bayamo, Dom Carlos Amador, confirmaram a notícia à agência Europa Press.

Por sua parte, Rosa María Payá, filha de Oswaldo, confirmou a notícia à rede CNN. "Havia um automóvel tentando tirá-los da estrada, investindo contra eles em todo momento. Assim pensamos que isto não foi um acidente. Alguém queria causar-lhe um mal e terminaram matando meu pai", relata a mulher em uma gravação difundida por Carlos Payá.

A filha de Payá foi avisada pela polícia cubana do acidente, e os acompanhantes proporcionaram os detalhes do fato.

"Há vinte anos pensávamos que este desenlace era uma possibilidade", disse Carlos Payá em entrevista com a CNN em espanhol, e adicionou que seu irmão permanentemente açoitado pela polícia.

A página www.oswaldopaya.org publicou uma nota afirmando: “às 16:00 horas de 22 de julho se confirmava a fatal noticia, a morte de líder do Movimento Cristão Liberação  Oswaldo Payá, e Harold Cepero,  líder  juvenil do MCL. As circunstâncias destas mortes  não foram esclarecidas e estão abertas todas as hipóteses. Portanto demandamos  à Junta Militar cubana uma investigação transparente e chamamos a todos os amigos solidários com a causa da libertação dos cubanos que se mantenham alertas e apoiando-nos nesta demanda”.

"Responsabilizamos a junta militar cubana e o (presidente) general Raúl Castro pela vida do nossa líder Oswaldo Payá e pela de seus acompanhantes", diz outro artigo da página.

Carlos Payá disse que Oswaldo “era um dissidente pacífico, nomeado seis vezes ao prêmio Nobel da Paz, mas sobre tudo um grande ser humano, uma das pessoas mais bondosas que pode haver neste mundo. Uma pessoa dedicada de corpo e alma a buscar a paz e a reconciliação entre os cubanos".

Para o Carlos Alberto Montaner, colaborador da CNN em espanhol, esta foi "a perda mais terrível que podia ter o movimento democrático dentro do país".

A família do dissidente cubano se transladou a Bayamo para identificar o cadáver de Payá.

Oswaldo Payá o mais importante líder da dissidência cubana. Promotor e impulsor do Projeto Varela, que tem como objetivo fundamental a volta à democracia e a liberdade de Cuba.

Em 2002, o Parlamento rechaçou sua proposta, que, segundo o então presidente, Fidel Castro, era um complô dos Estados Unidos para derrocar seu Governo.

Em outubro desse mesmo ano, o Parlamento Europeu concedeu-lhe o prêmio Andrei Sajarov, um reconhecimento aos que promovem aos Direitos humanos e a Liberdade de Pensamento pela sua luta pacífica a favor da democracia

Payá, líder do Movimento Cristão de Liberação, foi enviado a um acampamento de trabalhos forçados na década de 1960.

Dias antes da histórica visita que o Papa Bento XVI fez a Cuba no mês de março deste ano, Oswaldo Payá conversou amplamente com a agência do grupo ACI em espanhol, ACI Prensa.

Naquela oportunidade criticou a falta de direitos e o cativeiro que por décadas vive Cuba sob o regime comunista dos irmãos Fidel e Raúl Castro. Entretanto, assinalou que "não se pode condicionar o que o Papa deve dizer" quando chegar à ilha.

"Eu não vou pôr palavras na boca do Papa. O que temos é uma atitude de escuta e eu acredito que as mudanças em Cuba são responsabilidade de nós os cubanos e não é justo nem tampouco saudável que se crie a expectativa de que o Papa e seu discurso serão o que produza as mudanças políticas em Cuba. Porém, sim esperamos uma mensagem de esperança", expressou.