Na Sexta-feira 22 de junho, o Senado do Paraguai destituiu Fernando Lugo do cargo de Presidente da Nação "por mau desempenho de suas funções", logo que no dia 15 do mês um choque entre policiais e camponeses deixou um saldo de 17 mortos. Segundo o jornal “A Folha de São Paulo”, Dom Claudio Giménez, presidente da conferência episcopal paraguaia aprova o processo que tirou o ex-bispo do poder.

No episódio que culminou com a saída de Fernando Lugo, seis policiais e onze camponeses morreram durante o desalojamento de uma propriedade rural no nordeste do Paraguai, o que provocou a renúncia do ministro do Interior, Carlos Filizzola, e do comandante da Polícia Nacional, Paulino Rojas.

Lugo tentou acalmar a crise política através de uma comissão investigadora, mas isto não evitou que a Câmara de Deputados aprovasse o início de um processo de julgamento político por sua responsabilidade no enfrentamento entre policiais e camponeses. O Senado, encarregado de realizar o julgamento, convocou a sessão extraordinária. Logo do debate decidiu retirar Fernando Lugo do cargo de Presidente da República.

No dia anterior, a Conferência Episcopal Paraguaia havia publicado um comunicado chamando "os líderes políticos, as organizações sociais, os sindicatos e a cidadania a manter a calma, a serenidade e a evitar todo tipo de enfrentamentos e de violência que ponham em risco a integridade e a vida das pessoas".

Segundo informou a Folha de São Paulo nesta segunda-feira, 25 de junho, o Presidente da Conferência Episcopal do Paraguai, Dom Claudio Giménez, aprova o processo que tirou o ex-bispo do poder como também disse considerar o ex-presidente culpado pelas mortes dos 17 policiais e camponeses no enfrentamento do dia 15.

Dom Claudio Gimenez disse que "normalmente, quando uma empresa tem falhas, o gerente é o responsável final. Então acredito que, nesse sentido, se a segurança falha, o Poder Executivo é o último responsável".

"Não há nenhuma dúvida de que se atuou conforme a Constituição nacional. É claro que o procedimento é algo a ser melhorado no futuro, e a Constituição teria que ser mudada, porque ela não fixa prazos exatos para o processo de julgamento político," afirmou Dom Gimenez.

Para o Bispo de Cacupé, o processo de impeachment se deu "de forma muito rápida" --em pouco mais de 30 horas-- e poderiam ter sido ampliados os prazos para que a defesa de Lugo se preparasse. Mas, segundo relata a “Folha”, ele discorda que tenha havido um golpe de Estado. Ele lembra que vários países como os EUA, Alemanha e Espanha já reconheceram o novo governo.

"Pouco a pouco, os países da região vão ter que ir aceitando também, em especial o Brasil", disse.

Durante seu mandato, Lugo manteve uma relação delicada com a igreja, agravada pelos escândalos de paternidade relacionados à época em que ainda era sacerdote. Devido à tensão política no país, revela a Folha de S. Paulo, Dom Giménez chegou a pedir pessoalmente a Lugo que renunciasse.

"Ele recusou e preferiu seguir adiante. Então foi retirado." Lugo "teve boas intenções em seu governo, mas não conseguiu avançar". "Acredito que os outros seguirão os passos que propuseram, sobretudo na área social. Não pode haver retrocesso", disse o religioso nas declarações reunidas pelo jornal brasileiro.

Perdeu o estado clerical

Vale recordar que, em 30 de julho de 2008, a Santa Sé anunciou a perda do estado clerical do ex-bispo e então Presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo. Por isso sua destituição deste cargo por parte do Congresso isso não significa que Lugo retomará os trabalhos de um pastor da Igreja, como especularam alguns meios de imprensa.

No comunicado de 2008, assinado pelo então Prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Giovanni Battista Rè, informou-se que Lugo –Bispo Emérito de San Pedro-, tinha solicitado no dia 18 de dezembro de 2006 "a perda do estado clerical para apresentar-se como candidato nas eleições para a Presidência da República do Paraguai".

"A Santa Sé, depois de ter tentado dissuadir Dom Fernando Lugo para que não se apresentasse como candidato à Presidência da República, suspendeu-o do exercício do ministério sacerdotal", indicou o texto.

Do mesmo modo, advertiu que o cargo "de Presidente da República do Paraguai não é compatível com as obrigações do ministério episcopal nem do estado clerical".

Por isso, logo depois de um cuidadoso exame, o Papa Bento XVI concedeu a Lugo a "perda do estado clerical, com a conseguinte perda dos direitos inerentes ao mesmo, dispensando-o ao mesmo tempo dos votos religiosos feitos na Sociedade do Verbo Divino, da obrigação do celibato e das demais obrigações que o estado clerical comporta".

Ao finalizar o comunicado, a Nunciatura no Paraguai confirmou então que "a atuação eclesiástica no caso do Sr. Fernando Lugo deveu-se exclusivamente a razões canônicas e pastorais".