A revista Convivenciacuba.es afirmou que a visita do Papa Bento XVI a Cuba de 26 a 28 de março deve ajudar à ilha a "transitar do medo à esperança" para poder construir um país com liberdade e responsabilidade.

Em seu editorial de 19 de dezembro, a revista afirmou que "Cuba necessita uma profunda transição. Mas não só uma transição política e econômica. Precisa passar do ódio para a tolerância e a inclusão. Mas sobre tudo e primeiro de tudo, Cuba precisa transitar do medo à esperança".

"Cuba não terá mudado realmente se você encontrar medo a seu redor. Se a televisão ameaçar e ataca. Se os jornais forem libelos denigrantes dos diferentes. Se seu bairro for um ninho de desconfiança e delatores. Se seu trabalho for uma matilha de invejas e corrupções, algo anda mal em Cuba e deve mudar", advertiu.

O artigo advertiu que "onde não há esperança, o futuro se afasta de cada um e do país", e portanto "a visita do Papa, sua preparação e sua continuidade, podem ser avaliadas pelos passos concretos neste itinerário urgente de transição do medo à esperança e da esperança à reconstrução do País com liberdade e responsabilidade".

O editorial também se referiu ao lema "A caridade nos une", escolhido para celebrar os 400 anos do achado da imagem da Virgem da Caridade do Cobre, Padroeira de Cuba, e que é "o fim e o centro da visita papal".

O texto indicou que unidade não significa "uniformidade no pensar", e sim inclusão, por isso a viagem do Papa "deve ser inclusiva de todos os representantes da nação cubana, filhos todos da Caridade: crentes, não-crentes, governo, oposição e sociedade civil, os que vivemos na Ilha e os que vivem na Diáspora. Se algum destes grupos ficasse fora da visita papal, e da vida de Cuba, a unidade na caridade não seria possível".

A revista também expressou seu desejo de que a visita seja "uma escola testemunhal e profética para a reconstrução de uma sociedade civil sã". "É um dever pastoral e evangelizador da Igreja, contribuir com sua missão educadora à formação da soberania cidadã, a participação cívica responsável e a inseparável coerência entre a ética e a política, sem optar por nenhuma ideologia nem opção política partidista", acrescentou.

O editorial esclareceu que as mudanças estruturais que Cuba requer "não são o objetivo da visita do Papa mas uma necessidade urgente do povo que o Papa visita e da Igreja que o recebe. Estas mudanças não são tarefa do Papa, ou da Igreja em Cuba exclusivamente, mas cada reforma substancial tem sua base na alma dos povos e no espírito dos cidadãos".

O texto também advertiu que Cuba necessita uma reconciliação após cinco décadas de enfrentamentos e que deve incluir "uma comissão da verdade; uns processos judiciais com todas as garantias, sem vinganças nem penas de morte; uma anistia sem amnésia para nunca mais cair no mesmo fosso; e um espírito de magnanimidade que é a mistura do perdão e da fraternidade".

O editorial também pediu uma "verdadeira liberdade religiosa", que "não é ‘a permissão’ para cada ação ou obra das Igrejas, nem ter um escritório especial para controlar suas atividades", e sim o direito de cada cidadão a não ser "açoitado, discriminado, excluído ou reprimido por sua fé e pelas conseqüências que sua fé tem em suas opções políticas, econômicas e sociais".

"Promover este conceito mais integral da liberdade religiosa pode ser apoio e fonte, inspiração e complemento de todas as demais liberdades, direitos humanos e expectativas com relação à vida das Igrejas e à visita do Papa", afirmou.

Finalmente a revista exortou os cubanos a "não permanecerem indiferentes diante do acontecer nacional", pois a visita de Bento XVI "não é exclusiva da Igreja, é uma tarefa cívica e religiosa. Todos deveríamos opinar, sugerir, colocar para fora a procissão que levamos dentro, mostrar a alma, já que se trata, sobre tudo, da visita de um líder espiritual".