No domingo 24 de julho, à idade de 75 anos, faleceu na capital do México o historiador e ex-sacerdote jesuíta Jan de Vos Van Gerven, perito em línguas indígenas e líder da teologia marxista da libertação –contrária à doutrina católica– que influiu no pensamento do falecido Bispo mexicano Samuel Ruiz.

Conforme informa o jornal mexicano La Jornada, Jan de Vos faleceu logo depois de uma cirurgia por uma severa condição cardiovascular.

Os restos do historiador e conhecedor das línguas indígenas do México serão levados a San Cristóbal de las Casas, estado de Chiapas. Nessa cidade ele residiu desde que chegou ao país em 1973.

Este ex-sacerdote jesuíta junto com Andrés Aubry foram dois teólogos que influenciaram o falecido Bispo mexicano Samuel Ruiz, considerado um emblema da "teologia da libertação a indígena" e que governou a diocese mais pobre do México durante 40 anos.

Andrés Aubry e Jan de Vos

Andrés Aubry era um homem próximo ao Bispo Ruiz. Foi sacerdote jesuíta e fundador do "Instituto de Assessoria Antropológica para a Região Maia A.C." (INAMERAC). Com sua companheira Angélica Inda (falecida em 2001), dirigiu o Arquivo Histórico da Diocese de San Cristóbal de las Casas durante 36 anos.

Tomou elementos para sua investigação de diversos autores comunistas como Fernand Braudel, Edgar Morin, que foi expulso do Partido Comunista Francês em 1951, e do norte-americano Immanuel Wallerstein.

Aubry promoveu os diáconos casados para o projeto do "sacerdócio uxorado" (casado) e impulsionou a chamada "igreja nativa", sob as duas modalidades: "horizontalista" em Ococingo, dos dominicanos, e "verticalista" em Bachajón, dos jesuítas.

Atacou em diversas ocasiões o Cardeal Angelo Sodano quando era Secretário de estado Vaticano, e os Cardeais Jorge Medina Estévez e Francis Arinze, consecutivamente, Prefeitos da Congregação para a Disciplina dos Sacramentos e o Culto Divino, quando proibiram a ordenação de mais diáconos, até que não fosse reiniciada a genuína evangelização e "afastada a desafortunada e falsa ‘ideologização’ na diocese de San Cristóbal de las Casas".

Andrés Aubry faleceu em um acidente automobilístico em 2007.

Durante o mesmo período que Aubry, Jan de Vos trabalhou em Chiapas como "agente de pastoral" durante 20 anos para logo deixar a ordem dos jesuítas. Uniu-se a uma das filhas do economista e sociólogo Daniel Cosío Villegas, Fundador do Fundo de Cultura Econômica e da Escola Nacional de Economia do México.

Converteu-se em um dos que influíram no pensamento do Bispo Ruiz que apoiava o sacerdócio casado e definia a "teologia indígena" como algo que "nasce no interior de um contexto de opressão. Não foi só uma conquista violenta desta terra por parte da Espanha: também a religião, como a supremacia política, foi imposta".

Em 1999 e depois de uma visita de João Paulo II ao México, a Arquidiocese da Cidade do México divulgou um documento anunciando a condenação do Pontífice à teologia indígena, como derivada da teologia marxista da libertação.

Nos últimos anos de seu trabalho pastoral ao final da década de 90, o Bispo se converteu em alvo de críticas de diversos setores, especialmente governamentais, por sua simpatia com o movimento guerrilheiro marxista conhecido como "Frente Zapatista de Libertação Nacional" que lançou uma ofensiva armada em Chiapas em 1994.

Em janeiro de 1960, apenas 3 por cento dos habitantes da diocese não estavam batizados; média que se manteve até 1986. No ano 2000, quando Dom Ruiz se tornou Bispo Emérito, a cifra tinha subido para 33 por cento.

O falecido Prelado chegou a fechar o seminário. Nos 40 anos que governou San Cristóbal de las Casas, só ordenou onze sacerdotes.