Um ano após ter assumido suas responsabilidades como Delegado Pontifício para a Legião de Cristo, o Cardeal Velasio de Paolis avaliou em um discurso a atual situação da congregação religiosa e criticou duramente os dissidentes que promovem críticas que geram divisão e tensões internas.

Em um extenso discurso pronunciado em italiano no Centro de Estudos Superiores da Legião em Roma no último 3 de julho, o Cardeal apresentou uma "apreciação provisória" do que considera que ser "um terço" do caminho percorrido rumo ao capítulo geral da Legião de Cristo que, dentro de dois anos, deveria aprovar mudanças, incluindo a revisão de suas constituições.

"Este período", disse o Cardeal "ofereceu também um motivo para uma maior serenidade ao interior da congregação e de uma consolidação da renovada fidelidade dos membros à congregação".

"Se for verdade que 2010 foi o ano em que o instituto sofreu as maiores perdas… também é verdade que a saída esteve na verdade contida se tivermos presente aos sacerdotes".

Entretanto, ao referir-se ao abandono de parte de membros mais jovens, destacou "o influxo negativo exercido por alguns companheiros que ao entrar no processo de renovação colocam-se diante dele de um modo absolutamente crítico para o caminho de renovação".

"Desde o início constituiu-se um grupo que foi qualificado, não sei por quem, de ‘dissidentes’", observou o Cardeal.

"Na verdade não é muito numeroso, assim que se trata de pouquíssimas pessoas que o guiam. Estes, fazendo ênfase sobre a ‘contaminação’ assim chamada ‘estrutural’ da congregação manifestaram uma radical desconfiança para a continuação e a renovação da congregação. E, de qualquer maneira, puseram-se em antagonismo aos mesmos superiores legítimos, quase considerando-se custódios da ortodoxia do caminho a ser percorrido, utilizando amplamente o instrumento de Internet, com uma rede que se estende a 200 ou possivelmente mais pessoas: legionários, ex-legionários ou amigos de legionários com quem eles se reúnem habitualmente".

O Delegado Pontifício assinalou que estes "dissidentes" parecem "depositários de uma missão profética onde alguns pensam ter uma particular vocação de substituir os superiores, de erigirem-se como mestres da vida espiritual e fazerem-se professores de sã doutrina"; e projetam "um influxo negativo sobre os mais jovens. Este tipo de informação para alguns seria o motivo pelo qual os mais jovens abandonam a Legião".

"Alguns que guiam este grupo" acrescentou o Cardeal De Paolis "estão inquietos por sua vocação e fazem recair sobre outros suas inquietações sem um fim positivo".

"Detidos como estão na ferida sofrida na congregação, parecem gozar-se olhando as chagas e reabri-las continuamente, em vez de olhar com maior profundidade e com esperança para o futuro, trabalhando pela verdadeira renovação, tomando o verdadeiro caminho de conversão", acrescentou.

"Necessitamos, sim, ser conscientes que somos pecadores. Mas deter-se aí é a morte! Se aquilo for um momento para dar-se conta que temos necessidade de Deus, então é graça, e a graça é a que vem ao encontro".

Em relação ao último, o Cardeal advertiu que "a comunidade, ou nosso grupo de interesse, não é um instrumento para desafogar nossas frustrações ou encontrar justificações. Nossa comunidade não é a ‘escarradeira’. E devemos nos sentir humilhados quando somos instrumentalizados desta maneira".

Mudanças

O Cardeal De Paolis se referiu também às mudanças que se realizam na Legião de Cristo; e mencionou o trabalho das diversas comissões de trabalho que vêm enfrentando temas como "(o) estudo da situação econômica", "(a) questão dos ressarcimentos econômicos", "o estudo da Universidade Européia de Roma"; entre outros.

"O trabalho desempenhado por mim e meus conselheiros foi realizado, sobre tudo, acompanhando os superiores em seu serviço da autoridade, particularmente delicado neste período. Acreditamos oportuno ampliar o conselho geral com dois novos conselheiros nomeados depois da consulta a toda a congregação".

"Enfrentamos diversos problemas que se apresentavam com maior urgência como o de delimitar a figura do fundador e de seus escritos na vida da congregação; a legislação sobre o foro interno e foro externo; sobre a relação superior-diretor espiritual-confessor em relação aos religiosos em particular; realizou-se uma aproximação ao tema do Regnum Christi, em particular do ramo dos consagrados, especialmente das consagradas, em cujo tempo desenvolveu-se também a visita apostólica concluída precisamente durante estes dias. Examinaremos atentamente a questão quando o visitador ofereça suas conclusões".

"Porém o tema mais importante que o Papa nos deu é o da revisão das Constituições posto que modelam seu estilo de vida, sua espiritualidade, seu apostolado; contêm seu carisma e os instrumentos para vivê-lo".

Na avaliação, o Cardeal De Paolis esclarece ademais que "buscamos evitar, na medida do possível, intervenções sobre as Constituições, quer dizer, mudá-las imediatamente, preferindo que seja o capítulo que tome as decisões definitivas".