O Vigário Geral da Legião de Cristo, Pe. Luis Garza, disse ao grupo ACI que as autoridades da Congregação deixariam seus postos a novos líderes no seguinte capítulo geral previsto, inicialmente, para o início do ano 2013.

Em diálogo com a agência ACI Prensa em Roma, o Pe. Garza assinalou que "em qualquer congregação religiosa as autoridades mudam com o tempo, assim acredito que o capítulo geral será um momento normal, parece-me, para mudar a liderança".

As palavras do sacerdote legionário se emolduram na avaliação que realiza o Vaticano sobre as constituições da congregação e sua missão no futuro, liderada atualmente pelo Cardeal italiano Velasio de Paolis, nomeado Delegado Pontifício da Legião de Cristo pelo Papa Bento XVI em 2010.

Logo depois de conhecer a dupla vida moral do fundador da congregação da Legião de Cristo, Pe. Marcial Maciel, a Santa Sé determinou uma visita apostólica realizada por cinco bispos nomeados pelo Papa entre julho de 2009 e março de 2010.

Completada a visita, o Papa nomeou o então Arcebispo de Paolis com potestades de superior geral.

Sobre o Cardeal de Paolis, o Pe. Garza disse à ACI Prensa que "é um bom homem, muito inteligente, muito sábio, muito prudente. Esteve nos ajudando a compreender a maneira que devemos andar e enfocar, em um sentido, o caminho para o futuro".

"Minha esperança é que possamos seguir servindo a Igreja com o mesmo entusiasmo ou inclusive maior, e com a mesma dedicação mas ao mesmo tempo purificando tudo o que estava mau e que definitivamente temos que mudar", acrescentou.

O Vigário da Legião de Cristo disse que "o temor que temos, claro está, é que devido à nossa falta de oração e à idéia de não estar sendo fiéis ao carisma que recebemos, possamos produzir mudanças que não estejam de acordo com o que Deus quer e com seus planos".

O sacerdote legionário não deseja ver sua congregação "empreender um caminho no qual a vida religiosa seja privada de todo valor".

"A vida religiosa, como a conhecemos, tem votos e é necessário cumprir com a obediência, a pobreza e a castidade. Se nos afastarmos desses princípios, das virtudes e dos votos, então se destrói a vida religiosa", explicou o sacerdote ao grupo ACI.

O Pe. Garza foi enfático ao afirmar que não acredita que esse afastamento dos votos ocorra ou que o Cardeal de Paolis o recomende.

O tema dos votos é um assunto delicado na Legião de Cristo. No ano 2007 o Papa Bento XVI aboliu um voto privado dos sacerdotes e seminaristas ao que chamavam "voto de caridade" que proibia qualquer crítica aos superiores em suas decisões.

Nesse tempo circularam também informações que davam conta de um "voto de humildade" que também foi suprimido. Este voto proibia os membros de aspirar a alguma posição como superior dentro da congregação.

Em maio de 2010 o Vaticano deu a conhecer um comunicado no qual assinalava que o Pe. Marcial Maciel "tinha criado em torno dele um mecanismo de defesa que o fez durante muito tempo inatacável, gerando como conseqüência que fosse muito difícil conhecer sua verdadeira vida" que ademais "estava na escuridão para grande parte dos legionários".

O Pe. Garza sempre assinalou que ele e o resto das autoridades da Legião tampouco conheciam a dupla vida de Maciel. Agora os líderes da legião parecem estar dispostos a avançar e deixar atrás a controvérsia.

O Vigário General disse logo que "tivemos o delegado (pontifício) por quase um ano, com o qual não sou exatamente preciso. Tomará uns dois anos mais revisar as constituições e logo provavelmente, ao final desse período, teremos nosso capítulo geral".

No seguinte capítulo geral serão escolhidas as novas autoridades da Legião. Isto poderia ocorrer no ano 2013, mas poderia ser adiado para o 2014 e inclusive até o 2015, dependendo de quando for completada a revisão das constituições.

Na opinião do Pe. Richard Gill, que foi sacerdote legionário durante 29 anos e que agora está incardinado na Arquidiocese de Nova Iorque (Estados Unidos), "a decisão de deixar as autoridades da Legião essencialmente intactas é um grave erro".

Em declarações ao grupo ACI, o Pe. Gill considerou que "ao não remover os principais superiores, ou ao menos a alguns deles, o Cardeal de Paolis não conseguiu enviar um sinal claro à Legião sobre o fato que os atuais superiores dirigiram as revelações da vida do Pe. Maciel de maneira completamente inaceitável".

"Duvido seriamente que a Legião possa esperar até o 2015 para um novo grupo de superiores", acrescentou, e assinalou que o futuro da congregação não está somente em boas constituições mas em uma boa liderança.

Para o Pe. Richard Gill "o futuro da Legião depende de promover uma liderança espiritual em seus membros, em que emirja uma nova geração de líderes que não estejam manchados pelo Pe. Maciel e os escândalos. A não ser que o grupo atual deixe suas posições, é difícil ver como essa nova geração possa surgir".

Sobre esta afirmação, o Pe. Garza disse à ACI Imprensa que ele e o resto das autoridades da Legião deixariam seus cargos imediatamente se o Cardeal Do Paolis lhes pede fazê-lo. Até o momento isso não aconteceu.

O Vigário Geral também concorda em que o futuro da Legião depende de uma nova liderança.

"Não é que eu creia que, em um sentido, possa fazer algo especial ou distinto de outros. A Legião tem muitos bons homens que podem seguir realmente este processo e fazer que a Legião melhore para servir melhor à Igreja", concluiu.