Um dos mais importantes representantes da teologia marxista da libertação -contrária à doutrina católica- na América Latina, o sacerdote belga Joseph Comblin, de 88 anos de idade, morreu no domingo 27 de março na cidade brasileira de Simões Filho, no estado da Bahia por causas naturais.

O sacerdote, indica a agência EFE, que sofria de problemas cardíacos e usava marca-passo, foi encontrado morto no quarto no que estava alojado por outros religiosos que o esperavam para a oração da manhã.

Segundo o jornal italiano La Stampa, Comblin é autor de 70 obras das que "O Povo de Deus" é considerada a mais importante por ter animado a criação das comunidades eclesiais de base.

Estes grupos que nasceram como uma resposta à realidade de muitos católicos no Brasil e outros lugares da América, com o tempo perderam sua dimensão religiosa para converter-se em núcleos político-sociais, como explicou em maio de 2007 à agência ACI Prensa, do grupo ACI, o Bispo Auxiliar de Salvador, Dom João Carlos Petrini, um dos impulsores das primeiras comunidades eclesiais de base (CEBs).

Naquela entrevista em Aparecida (Brasil) no contexto da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, o Prelado assinalou que as CEBs, quando se ideologizam, são um "suicídio" para a Igreja.

Esse mesmo mês e também no marco da V Conferência, o grupo de pressão "Amerindia" que chegou a Aparecida para "assessorar" os bispos, distribuiu aos participantes do evento dois folhetos; um dos quais era o texto de 63 páginas "O que é a Verdade?" escrito por Joseph Comblin.

Este folheto consistia em um retorno às antigas teses liberacionistas do teólogo e uma explicação da realidade desde uma perspectiva ideológica segundo a qual a perda massiva de fiéis no Brasil a favor de seitas e outras denominações é conseqüência de que não existem suficientes "comunidades eclesiais de base" (CEBs) e não o contrário, como demonstraram diversos estudos pastorais e sociológicos realizados não só no Brasil, mas também no resto da América Latina.

Em outubro e novembro de 2006, Comblin fez uma excursão pelo Chile para promover a teologia marxista da libertação como "preparação" para a V Conferência. Visitou Curicó, Talca e Valparaíso, onde pronunciou similares conferencia e retornou a Santiago para participar em uma mesa redonda sobre o diálogo entre cristãos e muçulmanos.

Joseph Comblin foi ademais um dos seguidores e principais assessores do Bispo brasileiro Hélder Câmara, conhecido como o "Bispo vermelho" por ser também um expoente da teologia marxista da libertação.

Em 1968, quando se desenvolvia a Conferência dos Bispos da América Latina em Medellín (Colômbia), Comblin afirmou que "não se pode falar de desenvolvimento sem primeiro realizar uma revolução social que leve à destituição da aristocracia dominante".

Em 1972 em um encontro na localidade espanhola do Escorial, disse que "muitas vezes os temores da Igreja Católica de Roma ou dos bispos carecem de fundamento. Nunca foi possível tão bem como na América Latina colocar a doutrina marxista ao serviço de movimentos não marxistas".

Em 2002 Comblin publicou dois livros nos quais criticava a reforma dos estatutos da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB).

Em sua opinião as conferências episcopais, como a CNBB, estavam perdendo sua importância por que o Papa "não vê vozes discordantes e não permite aos bispos nenhuma iniciativa relevante. Sua única função consiste em aplicar os decretos romanos".

Também criticava João Paulo II e sugeria que o Santo Padre revisasse o celibato sacerdotal, as questões de comportamento sexual, e a nomeação de bispos, para fazê-los algo "mais popular".

Joseph Comblin foi expulso do Brasil em 1971. Foi viver no Chile onde seguiu difundindo as idéias da teologia marxista da libertação o que lhe valeu a expulsão em 1978. Esse ano voltou para o Brasil, ao estado da Paraíba.

Em 1976, em Riobamba, Equador, foi detido junto a outros sacerdotes, acusado pelos militares de atentar contra a segurança do Estado.

O teólogo saltou à fama com um livro chamado "Teologia da Revolução" publicado em 1973. Foi um duro crítico do documento da II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano (Medellín, 1968) o qual qualificou de "desenvolvimentista" e defensor de posturas "terceiristas".

Comblin igualmente criticou as reuniões episcopais de Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e a de Aparecida em 2007.