Desde a prisão de Sheikhupura, perto de Lahore (Paquistão), Asia Bibi, a primeira mulher cristã condenada à morte sob a polêmica Lei de Blasfêmia, reiterou sua inocência e assegurou que confia que "Deus escutará minhas preces, me ajudará a sair daqui e voltarei à minha família e à minha casa".

Em uma entrevista difundida no dia 20 de fevereiro pelo jornal espanhol El Pais, Bibi recordou o começo de seu calvário e se declarou inocente de blasfêmia.

"Um dia protestei ante o coletor de impostos porque deixava os seus animais livres e faziam destroços em minha casa. Ele me insultou e daí começou uma campanha contra mim", afirmou Asia.

A mulher trabalhava no campo e um dia recolhendo frutas em uma plantação teve o gesto de oferecer água às suas companheiras. "Elas me disseram que não podiam tirar do mesmo cubo que uma cristã e começou uma discussão entre nós, mas nunca blasfemei", explicou Bibi e assegurou que cinco dias depois dos fatos, foi acusada de blasfêmia e levada à prisão.

Atualmente é a única mulher condenada à morte entre 2.400 presidiários, dos quais 95 por cento são homens.

A cristã, que em junho completará dois anos na prisão, habita uma cela de apenas três metros quadrados, passa seus dias lendo a Bíblia e cozinha sua própria comida ante a possibilidade de que seja envenenada pelos radicais muçulmanos.

Bibi coincide com seus advogados que o processo judicial é afetado pela pressão de fundamentalistas islâmicos.

"Eu não cometi blasfêmia. Nunca falaria contra o Profeta. E acredito que Deus viu tudo e ao final as coisas voltarão para seu lugar", afirma Bibi e considera que seu caso pode estar relacionado aos problemas de convivência com algumas pessoas de sua aldeia, que a discriminavam junto com sua família por serem cristãos.

A mulher sofre pelos rumores sobre ameaças de morte contra sua família e diz que tem muita saudade da sua filha Isham, de 12 anos de idade, "é minha alegria, uma menina muito boa, muito sorridente, e me dói muito não vê-la crescer".

Extremistas muçulmanos ofereceram mais de quatro mil euros a quem assassinasse Asia Bibi. Seu marido não pode trabalhar e seus filhos não podem ir à escola, pois são alvos declarados pelos radicais islâmicos.

"Tenho que confrontar esta prova com paciência e com coragem", acrescentou Bibi.

A Lei de Blasfêmia agrupa várias normas contidas no Código Penal inspiradas diretamente na Xaria –lei religiosa muçulmana– para sancionar qualquer ofensa de palavra ou obra contra Alá, Maomé ou o Corão. A ofensa pode ser denunciada por um muçulmano sem necessidade de testemunhas ou provas adicionais e o castigo pode chegar ao juízo imediato e a posterior condenação à prisão ou à morte do acusado.

A lei é usada com freqüência para perseguir a minoria cristã, explorada no campo do trabalho e discriminada na distribuição de cargos públicos.