Os bispos do Japão solicitaram ao fundador do Caminho Neocatecumenal, o espanhol Kiko Argüello, que retire o seu movimento do país por cinco anos para refletir sobre sua atividade apostólica nesta nação que –segundo os prelados– em alguns casos colidiria com a cultura local.

O Arcebispo de Nagasaki, Dom Joseph Mitsuaki Takami, informou à agência ACI Prensa que se trata de um pedido temporário e não de uma saída sem retorno. "Logo depois desses cinco anos estaremos preparados para conversar estes assuntos com eles. Não queremos que vão embora e que nunca voltem. Não, não. Queremos que trabalhem de forma que nos agrade e para isso devem aprender japonês e particularmente a cultura japonesa", indicou.

Dom Takami conversou com o ACI Prensa no dia 16 de dezembro, logo depois da audiência privada que quatro bispos japoneses sustentaram no dia 13 de dezembro com o Papa Bento XVI no Vaticano no marco de sua visita ad limina.

Nesta reunião, revelou o Arcebispo Takami, o Papa expressou sua desconformidade com a idéia de que o Caminho Neocatecumenal, que serve no Japão há 30 anos, saia do país. Além disso, nem a Santa Sé nem este movimento se pronunciaram publicamente a respeito.

Embora não se conheça todos os detalhes da reunião entre o Papa e os bispos, o Arcebispo disse que "todos os prelados do Japão estão muito interessados nela" e acatarão o que finalmente disponha o Pontífice.

Dom Takami recordou que depois de uma série de conversações entre o Papa e os bispos japoneses foi fechado em março de 2009 o seminário Redemptoris Mater do Caminho Neocatecumenal de Takamatsu, na ilha de Shikoku, devido a problemas com a diocese local.

Depois do fechamento do seminário, os estudantes foram enviados ao Redemptoris Mater de Roma, também do Caminho. Como reitor do mesmo foi nomeado o Bispo Emérito de Oita (Japão), Dom Takaaki Hirayama.

Em declarações à ACI Prensa, o vice-reitor do seminário romano, Pe. Angel Luis Romero, explicou que não consideram prudente dar alguma declaração sobre este tema no momento, já que esperam um pronunciamento oficial de seu fundador, Kiko Argüello, no futuro próximo.

Logo depois do ocorrido em Takamatsu, o Vaticano nomeou um vigário para que tratasse com os bispos o tema da presença do Caminho Neocatecumenal no Japão e expressou sua confiança em que o seminário "siga contribuindo à evangelização do país da maneira mais apropriada para obter este objetivo".

Dom Takami explicou que um dos problemas entre sua diocese e o Caminho está na obediência dos sacerdotes pertencentes a este movimento. "Dizem que querem ser obedientes ao bispo na diocese em que trabalham, mas não o fazem, não completamente. Não é suficiente ou não o fazem de maneira adequada", lamentou.

Do mesmo modo, explicou que os problemas se estendem à liturgia, pois embora usam o japonês vernacular em suas orações, não traduzem os cantos. "Usam tudo o que têm de acordo à espiritualidade de Kiko (o fundador), que é muito, mas muito diferente da nossa cultura e nossa mentalidade", acrescenta.

Dom Takami lamentou que alguns membros do Caminho Neocatecumenal promovam suas celebrações litúrgicas como superiores à maneira "imperfeita" em que os sacerdotes diocesanos celebram a Missa, o que gera ainda mais divisão.

Para o Arcebispo também é complicada a relação financeira com o Caminho Neocatecumenal, que mantém sua economia à margem das paróquias, o que faz mais difícil prestar informação ao governo e debilita as mesmas paróquias.

Dom Takami enfatizou que os bispos estão unidos no desejo de obedecer o Papa no que diz respeito ao futuro do Caminho no Japão.