O Sub-secretário do Pontifício Conselho para a Família, Pe. Carlos Simón, explicou que "não há nenhuma novidade" na postura do Papa Bento XVI sobre os preservativos no novo livro-entrevista que será apresentado nesta terça-feira 23 de novembro no Vaticano.

No livro "Luz do Mundo" do jornalista alemão Peter Seewald, o Papa expõe como exceção para o uso do preservativo o caso dos varões que se prostituem, como figura no texto original em alemão e a tradução ao inglês, que difere do que foi publicado pelo L’Osservatore Romano que em italiano usa o termo prostituta. A confusão se agravou quando diversos meios de comunicação difundiram este fragmento do livro fora de contexto e o apresentaram como uma mudança na doutrina da Igreja em matéria de sexualidade.

Em uma entrevista com o jornal espanhol La Razón, o Pe. Simón, médico e sacerdote, recordou que o Santo Padre já explicou na sua viagem a África em 2009 a postura da Igreja sobre luta contra a AIDS: a estratégia se fundamenta na promoção da abstinência e da fidelidade; e precisou que nas declarações do Papa a Seewald "não há nenhuma novidade".

"Desde o ponto de vista do meu dicastério não há mudanças: todo ato que não esteja dentro do matrimônio é já uma desordem objetivo. O que deve ser procurado é que este seja o menos mau possível", insistiu.

"O Papa já disse naquela viagem (à África) que na luta contra a AIDS a estratégia da Igreja era a abstinência, a fidelidade e a camisinha. As duas primeiras são formas de lutar contra a AIDS, como assinala o Papa, no contexto da educação e da não-trivialização da sexualidade. Como última via escapatória está o preservativo, nos casos onde as outras duas opções não se puderam desenvolver", explicou.

Do mesmo modo, considerou que "deve-se distinguir quando o Pontífice diz algo de modo coloquial do que quando ele o faz de maneira pedagógica ou em uma expressão de toda sua autoridade, como em uma encíclica. Não há contradição neste assunto".

"O que materialmente disse o Papa neste livro é que nos casos em que nem a abstinência nem a fidelidade puderam ser seguidas, que é a via pela qual aposta a Igreja, existe esta última opção. Uma pessoa pode fazer uso do preservativo de forma responsável para não contagiar nem produzir um mal que danifique a vida".
 
O Pe. Simón sublinhou que as declarações do Papa "entram dentro da tradição da teologia moral da Igreja. Para esta o ato sexual se entende dentro do contexto de uma relação conjugal. Aí é onde se aplica a moralidade. Todo ato fora do matrimônio a Igreja o rechaça como algo desordenadamente grave. Entramos, em um campo da saúde, trata-se de um terreno onde há um possível contágio".

O sacerdote esclareceu que o pecado é ter relações sexuais fora do matrimônio e "o preservativo então é um mal menor que evita um possível contágio. Em caso de que não haja este perigo é uma desfiguração de uma relação já alterada porque não esqueçamos que se trata de um anticoncepcional".

Para a Igreja, explicou, "os atos sexuais devem ter lugar entre dois cônjuges e, portanto, quando se realizam fora do matrimônio têm uma desordem intrínseca. O que o Papa disse é que em alguns casos nos que há um risco seguro de contágio então está justificado o preservativo. Vejo a novidade no aspecto terminológico, não na idéia nem no contexto. O Papa não revolucionou nenhum ensino da Igreja. Assinala que não se deve banalizar a sexualidade. No caso de que já se haja produzido uma desordem, que para a Igreja é algo grave, deve-se que procurar que não haja um mal ainda mais intenso".

Logo depois de comentar que a Igreja não vai promover o uso do preservativo na luta contra a AIDS quando a abstinência e a fidelidade falham, o Pe. Simón recordou que "a Igreja segue o que o Papa diz quando afirma que se deve integrar a sexualidade na esfera do amor e da entrega. Bento XVI é um grande pensador e está preocupado por conseguir que haja uma harmonia no homem. A Igreja deve insistir nesta via, que é a mais difícil mas faz do homem um ser autêntico, não banal".

"A Igreja seguirá resistindo às pressões daqueles que pedem distribuição dos preservativos. Existe ademais dados científicos que assinalam que a receita da abstinência, a fidelidade e, só em terceiro lugar, o profilático, conseguiram objetivos muito positivos na luta contra a AIDS", acrescentou.