A revista Espacio Laical, do Conselho Arquidiocesano de Laicos de Havana, assinalou que a mediação da Igreja para obter a liberação dos detentos políticos "deverá seguir seu curso inalterável"; em resposta à carta que um grupo de dissidentes enviou ao Papa Bento XVI criticando a atuação dos bispos.

Um grupo de dissidentes enviou recentemente ao Papa uma carta criticando o agir da Igreja em Cuba e afirmando que a aproximação para obter a liberação dos detentos era um apoio político ao Governo do Raúl Castro.

Diante disto, Espacio Laical afirmou que as gestões da Igreja "não representam um apoio ou ato de legitimação de nenhum poder temporário, nem governamental nem de oposição"; mas sim de "um afazer evangélico que procurou, na medida do possível, a atenuação da dor e do sofrimento" dos detentos políticos e seus familiares, acrescentando que muitos católicos cubanos se sentem orgulhosos da independência e autonomia mostrada pelo Episcopado durante muitos anos.

"Aqueles que se dirigiram ao Papa reclamam aos Bispos que eles não incluíram em sua agenda uma ‘conciliação’ dos interesses ‘da dissidência pacífica e dos compatriotas do exílio’ –por um lado- e do Governo cubano -pelo outro-, como a melhor solução para resolver os assuntos nacionais", indicou Espacio Laical.

Explicou que "essa fórmula política de acerto entre estas partes é uma áspera simplificação da realidade cubana, e de sua possível solução universal, muito mais rica em matizes, atores sociais implicados e propostas que emanam de nossa sociedade civil".

Espacio Laical indicou que "para que cobre vida um processo de ‘conciliação’ entre cubanos não depende essencialmente da vontade da Igreja, mas sim das atitudes dos atores políticos implicados" que devem renunciar ao aniquilamento do outro.

Nesse sentido, disse que é chamativo que a oposição radical, "que jamais trabalhou na construção de um cenário para um possível diálogo político com o Governo cubano (senão justamente o contrário)", recrimine o papel da Igreja.

Espacio Laical recordou que permitir o diálogo é responsabilidade do Governo e dos opositores.

A revista acrescentou que a carta enviada ao Papa deve ser vista "no contexto de uma campanha para torpedear as gestões empreendidas pela Igreja cubana", pois segundo fontes próximas à dissidência interna, esta "iniciativa" foi gerada fora de Cuba e foi "concebida como combustível para chegar a deslegitimar o atual processo".

Espacio Laical advertiu que "forças cubanas" dentro e fora da ilha tentaram fazer ver que a liberação dos presos políticos "foi o resultado da ‘pressão internacional’ e da ‘luta’ da dissidência interna; não da moderação e da disposição ao diálogo entre atores sociais e políticos. É possível que esta pressão tenha podido ter alguma influência. Não obstante, seria ilusório pensar que esta tenha sido sua causa eficiente".

A revista assinalou que a pressão não obteve nada em cinqüenta anos e que na verdade a carta "responde à política do ódio, que desvirtua a realidade interna do país apresentando-a como um cenário binário de bons e maus".

Espacio Laical qualificou de "estratégico" dirigir o debate "em torno da democracia, a reforma econômica, a justiça social, a soberania nacional e a conciliação entre cubanos". Acrescentou que isso será possível se os atores da sociedade civil se somam cada vez mais e se o Governo "tem a capacidade de incluí-los" para obter um consenso.

"Facilitar as atitudes que tornem possível esta realidade pode ser um trabalho da Igreja Católica, entretanto, isso não será efetivo sem uma disposição ao encontro entre os mais diversos setores nacionais. Este é um tema que requer de reflexão compartilhada e análise", afirmou.

Por isso, a revista prometeu convocar analistas da ilha e da diáspora "para analisar profundamente o atual processo de negociação entre a Igreja e o Governo cubano, a atual conjuntura política interna no país, o caminho retrocedido pelas relações Igreja-Estado que nos permitiram aceder ao cenário atual, assim como suas perspectivas futuras".

Mais informação em www.espaciolaical.net