O Arcebispado de Havana anunciou a liberação de outros seis presos políticos, do grupo dos 52 detidos durante a Primavera Negra de 2003 que serão libertados nos próximos meses e que, da mesma forma que outros 26 dos seus companheiros, viajarão "em breve" à Espanha.

Os dissidentes são Marcelo Manuel Cano Rodríguez, médico e membro da Comissão Cubana de Direitos humanos que foi condenado a 18 anos da prisão; Regis Iglesias Ramírez, do Movimento Cristão Liberação, com a mesma pena; Juan Carlos Herrera Acosta, do grupo Jovens pela Democracia, sentenciado a 20 anos de cárcere; Efrén Fernández Fernández, integrante do Movimento Cristão de Liberação, condenado a 12 anos da prisão; Fabio Prieto Llorente, jornalista independente, com uma pena de 20 anos; e Juan Adolfo Fernández Saínz, jornalista da agência de notícias Pátria, sentenciado a 15 anos de reclusão.

Com este anúncio se somam ao número de dissidentes soltos que viajaram à Espanha depois de que o Governo comunicasse no fim de junho –coincidindo com a visita a Cuba do ministro dos Exteriores espanhol, Miguel Angel Moratinos– sua intenção de pôr em liberdade aos 53 detentos políticos do grupo da chamada Primavera Negra de 2003, uma das maiores ondas repressivas contra a oposição.

Estas liberações são fruto do diálogo que iniciou a Igreja Católica em Cuba, através do Arcebispo de Havana, Cardeal Jaime Ortega, para flexibilizar a postura do regime para a dissidência interna e permitir a liberação, ao menos, dos detentos políticos mais doentes.

"Deportações"

Apesar deste compromisso, até a data, o regime só liberou aqueles réus que aceitaram transladar-se à Espanha, ao menos momentaneamente, o que suscitou as críticas da oposição que qualificou estas liberações de "deportações".

Por sua parte, o porta-voz da Comissão Cubana de Direitos humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), Elizardo Sánchez, confirmou as seis liberações e assinalou que os traslados poderiam produzir-se inclusive na próxima semana.

Entretanto, Sánchez assegurou, em declarações à Europa Press, que existem "entre oito e dez" detentos que não acatam o "desterro" na Espanha e apontou que o Governo cubano mantém uma "demora" consciente para outorgar as liberações de determinados reclusos.

"Cada dia no cárcere conta", assinalou o porta-voz da CCDHRN, ao assegurar que a intenção de Havana é que o maior número possível de réus se some à única "alternativa" contemplada até agora. Quem não aceite vir à Espanha permanecerão na prisão "até o último momento", prognosticou.

Por sua parte, Berta Soler, uma das porta-vozes das Damas de Branco, celebrou este novo anúncio da Igreja Católica mas deixou claro que "até que as autoridades cubanas não os deixem sair e não cheguem à Espanha não podemos dizer que foram realmente liberados".

"Isto é sem dúvida um avanço, mas até que eles não estejam em um país livre não podemos dizer que foram soltos", comentou Soler em declarações telefônicas à agência Europa Press sem precisar mais detalhes sobre estas liberações porque até o momento não foram "informadas de nada".

Não obstante, ela assinalou que até esta quinta-feira a família de Juan Adolfo Fernández Saínz desconhecia sua liberação porque o Cardeal Ortega "não se colocou em contato com ele". "Isto foi uma surpresa porque as Damas de Branco até a quinta-feira só sabíamos da liberação de cinco presos", contextualizou.

A dama de branco também informou que alguns dos 21 prisioneiros de consciência que não foram "contatados" pelo Cardeal Ortega expressaram seu desejo de viajar a países como o Chile, Canadá e República Tcheca, uma vez que cheguem à Espanha.

Do mesmo modo, Soler recordou que os dissidentes Pablo Argüelles Morán, Eduardo Díaz Fleitas, Arnaldo Ramos Lauzerique, Félix Navarro Rodríguez e Nelson Molinet rechaçaram a proposta do Cardeal Ortega de viajar à Espanha e por esse motivo não foram liberados ainda. "Eles ainda estão esperando por serem liberados e acredito que merecem que sejam tirados do cárcere já", expressou.