O presidente da comissão bíblica de Lahore, Pe. Emmanuele Asi, denunciou que as minorias religiosas são as últimas que recebem as ajudas para os danificados pelas inundações, pois são considerados cidadãos de segunda classe no Paquistão.

O sacerdote disse ao escritório de imprensa das Obras Pontifícias na Alemanha, que 97 por cento da população paquistanesa é muçulmana. Os cristãos são 1,8 por cento. As demais minorias são os hindus, os sikh e os bahai. Ele assinalou que a discriminação existe apesar de que a Constituição garanta a liberdade religiosa. "Quando era menino, por exemplo, eu não podia tocar o poço de nossa escola porque eu era cristão", recordou.

Durante a entrevista, difundida pela agência Fides, o Pe. Asi advertiu sobre a gravidade das inundações que já afetam quase 14 milhões de pessoas. Indicou que os que mais sofrem são as mulheres e crianças e que o Governo parece não estar em condições para enfrentar a tragédia. O sacerdote relatou que os danificados estão sendo alojados em mesquitas e igrejas.

"Devemos atuar de uma maneira muito específica e rápida. Em meados de outubro começa o inverno. Se para a chegada do frio as pessoas não tiverem alojamento e roupa abrigada, a situação piorará", alertou o sacerdote.

Discriminação religiosa

O também membro da presidência do Instituto Teológico pelos Leigos do Paquistão assinalou que a discriminação contra as minorias religiosas é algo atual. Indicou que poucos muçulmanos freqüentam lugares onde existem membros de outra fé, e "diante dos tribunais o testemunho de um muçulmano vale o testemunho de dois fiéis de outras religiões".

"Normalmente os muçulmanos e os cristãos convivem pacificamente, mas para as minorias cristãs e de outras religiões a situação é sempre a mesma. Sempre pode acontecer algo. As leis paquistanesas prevêem a pena de morte por blasfêmia e por desgraça freqüentemente se abusa da lei contra a blasfêmia para combater atos discriminatórios", denunciou.

O sacerdote disse que se pode chegar inclusive ao incêndio de "um povoado inteiro no qual vive um cristão denunciado. Freqüentemente o conflito entre um muçulmano e um cristão termina com a morte de um inocente".

Com respeito à presença de talibãs, o Pe. Asi disse que este pequeno grupo influi nas montanhas do noroeste, onde no passado valiam as leis tribais e não a Constituição paquistanesa. "A maior parte dos muçulmanos não vê com bom olho os talibãs. Sua idéia de um Islã com preceitos e proibições muito rígidas lhes parece muito arcaica", relatou.