Em um artigo publicado pelo jornal Corriere della Sera, o escritor italiano Vittorio Messori criticou o assalto perpetrado por parte das autoridades belgas contra a Catedral de Malinas e o seqüestro de todos os membros da Conferência Episcopal. Para o Messori, estes exagerados fatos constituem um ato ridículo que poderia inspirar o polêmico autor do Código Da Vinci, Dan Brown.

Com o título “O caso belga ou quando os magistrados copiam Dan Brown”, Messori questiona “o exagero –não se sabe se grotesco ou ignóbil– da magistratura belga, que envia uma brigada de guardas para seqüestrar a Conferência Episcopal do país por inteira”.

“Severos oficiais confiscam todos os telefones dos prelados e os impedem toda comunicação com o exterior. Mas para impedir o que? Que os bispos liguem para o Vaticano pedindo uma blitz liberadora da seção de pára-quedistas da Guarda Suíça? Que ninguém avise a algum monsenhor, dedicado a práticas indecorosas no mesmo edifício, não seja que se recomponha em seguida e despeça rapidamente o menor, dado que chegaram em casa severos custódios da moralidade laical? Que não liguem para seus cúmplices de cada diocese para que façam desaparecer todo rastro de exercício sexualmente incorreto, depois de que há anos na Bélgica –e não só ali– tudo foi crivado tanto pelas autoridades religiosas como pelas estatais?”, questiona Messori segundo a tradução publicada pelo jornal La Razón, da Espanha.
“De vodevil foi também o do coronel comandante da operação que, ante o passaporte diplomático do núncio apostólico, presente na reunião episcopal, consulta com seus superiores e estes com o ministro (virtual, por outra parte, posto que faz tempo que a Bélgica não tem governo)”, explica Messori.

Para o autor, “o ridículo mais devastador para a magistratura do assalto belga chegou com a profanação das tumbas dos dois cardeais arcebispos na cripta da milenária e esplêndida catedral de Malinas, Mechelen em flamenco, que por antigo privilégio, é ainda a metrópole religiosa do país”.

“Não excluamos outros nos que, além de Dan Brown, também Umberto Eco poderia inspirar-se para acrescentar um capítulo a uma nova edição do pêndulo de Foucault’. Que, como já sabem, é uma sarcástica estafa sobre personagens como estes juízes, obcecados com enigmas, mistérios, códigos secretos: sempre e unicamente católicos, entende-se”, indica.

“Todos sabem, de fato, que o modo mais rápido e seguro de ocultar dossiês comprometidos é convocar uma equipe de operários, fazê-los trabalhar durante horas ante dois sarcófagos artísticos para levantar a pesadíssima laje de pedra sem danificá-la muito, levantá-la com a maquinaria apropriada e, antes de voltá-los para fechar e selar, preenchê-los com documentos que atestam os ritos obscenos dos prelados. Tudo de noite, obviamente, dado que a catedral de Malinas é uma das mais freqüentadas, não só pelos devotos, mas também pelos turistas, que poderiam suspeitar do vaivém de pedreiros e dos meios”, ironiza Messori.

O autor italiano “deixando à parte o amargo humor negro”, precisa que “o caso dos abusos sexuais é muito grave para deixá-lo nas mãos de semelhantes inquisidores”.

“O Secretário de estado tem feito seu trabalho protestando, mas melhor que deixe estar os bolcheviques russos e os anarquistas espanhóis, que eram terrivelmente sérios em sua ferocidade. Poder-se-ia, em troca, recordar coisas evidentes mas esquecidas de uma Bélgica que se gaba de ser um dos países mais secularizados, onde a marginalização dos católicos cresce cada dia mais”, acrescenta.

Messori recorda que “o Estado nasceu, em 1830, pela livre união de valões e flamengos: falavam línguas distintas, tinham tradições e histórias distintas, mas estavam unidos por um catolicismo sólido e fervente. Portanto, não suportavam a submissão ao persecutório calvinismo holandês. A união durou enquanto que o país se reconheceu católico: agora, diluído esse adesivo, Bélgica é já uma ficção ingovernável. Possivelmente, semelhantes operações confirmam a confusão de um Estado que há anos não consegue formar nem sequer um Governo, mas, ao menos na ‘intelligentzia’, parece unido só pela aversão anti-romana”.