O Presidente da Conferência Episcopal da Bélgica (CEB) e Arcebispo de Bruxelas, Dom André-Mutien Joseph Léonard, explicou que embora os abusos sexuais cometidos contra menores por parte de membros do clero sejam crimes deploráveis que ferem profundamente, não se pode culpar o celibato, já que este "não é fonte de desequilíbrio para o sacerdote, mas sim fonte de graça".

Em entrevista concedida ao L’Osservatore Romano, o também Arcebispo Primaz da Bélgica comentou que procurar as causas destes crimes "sempre é difícil. Entretanto, estou convencido de que não é correto dirigir estes acontecimentos desviados para o celibato dos sacerdotes".

"Sobre tudo –continuou– porque cada um de nós sabe bem que os abusos sexuais contra menores acontecem principalmente entre as paredes domésticas, na família. Creio que a ninguém pensaria, por essa razão, em acusar o matrimônio como uma fonte de desequilíbrio mental para estes atos".

O problema está, prosseguiu, "no desenvolvimento pessoal do indivíduo. É uma razão a mais para nos concentrarmos na formação do sacerdote. É necessário estar muito atentos ao equilíbrio do candidato ao sacerdócio".

Dom Leonard disse logo que sobre este aspecto dos candidatos ao sacerdócio e para evitar futuros casos de abusos, "concentraremo-nos muito mais neste aspecto específico da formação, começando pelo discernimento. Procuramos reforçar a equipe de acompanhamento que, sobre tudo nos primeiros anos, afiançam os aspirantes ao sacerdócio, procuram entender mais profundamente sua índole, suas personalidades, seu equilibro. Mas, repito, o celibato não é fonte de desequilíbrio para o sacerdote e sim fonte de graça".

Logo depois de explicar extensamente todos os trabalhos que se realizam na Bélgica para evitar casos de abusos sexuais como o que levou a renunciar a um bispo há alguns dias, o Prelado se referiu às vítimas destes crimes e disse que "muitos denunciam ou protestam por fatos que aconteceram há 40 ou inclusive 50 anos atrás. Mas seguindo o modo de atuar da mesma Conferência Episcopal que se recomendou em todo o país, convida-se as vítimas, verdadeiras ou supostas, a dirigir-se imediatamente à autoridade judicial para denunciar o fato".

Ressaltando a política de tolerância zero do Episcopado, o Arcebispo de Bruxelas indicou que "é muito importante que as vítimas sejam escutadas. Mas devem denunciar o fato à justiça. Nós o aconselhamos (…). É algo que sempre favorecemos, mas que agora consideramos imprescindível".