Ao receber esta manhã as cartas créditos do novo embaixador da Bélgica ante a Santa Sé, Charles Ghislain, o Papa Bento XVI assinalou que a Igreja Católica tem o direito a expressar-se publicamente, a anunciar a mensagem que pode resumir-se nas palavras do Evangelho de São João: "Deus é amor". Esta faculdade, disse o Santo Padre, deve ser respeitada inclusive por quem não pensa de igual maneira.

Ao iniciar seu discurso em francês, o Pontífice expressou sua proximidade e solidariedade pelas dolorosas tragédias ocorridas em Liège e Buizingen. "Estas catástrofes não fazem mais que medir a fragilidade da existência humana e a necessidade, para protegê-la, de uma autêntica coesão social, que não obscurece a legítima diversidade de opiniões", disse.

"Ela repousa na convicção de que a vida e a dignidade humana constituem um bem precioso que deve ser defendido e promovido com firmeza apoiando-se no direito natural".

Bento XVI se referiu logo à grande contribuição da Igreja na cultura, vida e história da Bélgica, tarefa que realiza "com alegria ao ficar ao serviço de todos os componentes da sociedade belga".

Entretanto, prosseguiu, "não parece inútil sublinhar que Ela possui, como instituição, o direito a expressar-se publicamente. Compartilha-o com todos os indivíduos e todas as instituições para expressar sua opinião sobre os assuntos de interesse comum. A Igreja respeita a liberdade para todos de pensar distinto a Ela, e também Ela quer que seja respeitado o seu direito de expressão".

O Papa ressaltou logo que "a Igreja é a depositária de um ensinamento, de uma mensagem religiosa que recebeu de Cristo Jesus. Este pode resumir-se nestas palavras da Escritura Santa: ‘Deus é amor’ e projeta sua luz sobre o sentido da vida pessoal, familiar e social do homem. A Igreja, tendo como objetivo o bem comum, não reclama outra coisa que a liberdade de poder propor esta mensagem, sem impô-lo a ninguém, no respeito da liberdade de consciências".

Depois de pôr de exemplo do fruto das raízes cristãs da Bélgica ao Apóstolo dos leprosos, São Damião Veuster, o Santo Padre comentou que seu testemunho permite compreender "a todos que o Evangelho é uma força em que não há lugar para o medo. Estou convencido de que, diante das evoluções sociológicas, o terreno cristão é ainda rico em sua terra. Pode nutrir generosamente o compromisso de um crescente número de voluntários que, inspirados pelos princípios evangélicos de fraternidade e solidariedade, acompanham às pessoas que vivem dificuldades e que, por esta razão, precisam ser ajudados".

Seguidamente Bento XVI se referiu à "vocação européia" da Bélgica e saudou a comunidade católica do país, começando pelos bispos. A todos os membros da Igreja neste país os convidou a "testemunhar sua fé com audácia. Em suas atividades na cidade, que façam valer plenamente seu direito de propor os valores que respeitem a natureza humana e que correspondem às aspirações espirituais mais profundas e mais autênticas da pessoa".

Finalmente o Santo Padre repartiu sua bênção ao povo belga e o confiou ao amparo da Virgem Maria e de São Damião Veuster.