Em um artigo publicado ontem no L’Osservatore Romano, o historiador e membro do Instituto da França, Alain Besançon, faz uma recontagem das notas mais destacadas dos cinco anos do pontificado de Bento XVI. Ao falar da campanha mediática contra o Santo Padre e a Igreja, ele explica que isto revela um ódio ao cristianismo. Também assegura que o Pontífice faz frente à "auto-demolição" da sociedade, da natureza e da razão.

O também colunista dos meios franceses como Le Figaro e Commentaire, assinala ao iniciar seu artigo a força de suas encíclicas Deus Caritas Est e Spe Salvi, sobre o amor e a esperança, respectivamente.

"Bento XVI se debateu incansavelmente pela claridade e a precisão. Nada lhe parece mais perigoso que o relativismo que fica de acordo com a sociedade democrática moderna: qualquer grupo organizado pode legitimar uma opinião apenas porque é sua opinião, sem necessidade de sustentá-la com a razão", diz Besançon.

Depois de elogiar a tarefa do Santo Padre na "restauração da inteligência no seio da Igreja", o historiador se refere a dois "acidentes no pontificado". O primeiro se refere ao seu discurso em Ratisbona, Alemanha: "era douto, moderado, benévolo, mas suscitou reações muito violentas".

"A reação desproporcionada –explica o perito– revelou sobre tudo a ignorância dramática do clero e dos fiéis com respeito à mensagem do Islã, e sem dúvida da própria mensagem, porque não se pode compreender uma sem a outra. De novo a necessidade de um redirecionamento da inteligência cristã se impõe de maneira absoluta".

Para Besançon, o segundo "acidente" se relaciona com a onda de ataques mediáticos contra o Papa e a Igreja, que busca apresentar o Santo Padre como encobridor de abusos cometidos por alguns membros do clero, quando nunca foi nem o é.

Ao respeito disto faz duas observações: "a primeira é que a escala de crimes, no último meio século, experimentou na opinião pública uma reestruturação e com freqüência o direito se acomodou a esta última. Em matéria sexual, muitos atos são consentidos, às vezes elogiados, atos que em outros tempos eram castigados com penas muito severas. O peso destas culpas perdoadas agora caiu totalmente sobre o ato de pedofilia".

A segunda, prossegue o historiador, "é que o próprio ponto de vista da Igreja é que a ofensa a Deus e o pecado é uma noção distinta à do crime ou delito. A Igreja não perdoa o crime, deixa ao juiz a tarefa de castigá-lo, mas a valoração do pecado espera por ela e é posta sob sua jurisdição. Ela tem as chaves para absolvê-lo ou não".

Besançon comenta logo que a Igreja sempre explica que o homem é pecador e o recorda em todas suas orações. "Existe então um estranho preconceito que faz que nos surpreendamos do fato de que alguns homens, apenas pelo fato de ter abraçado o estado clerical, não sejam distintos aos outros e forçadamente melhores. Não se encontrou até agora o modo para fazer os homens distintos do que são: orgulhosos, ávidos, luxuriosos, coléricos, sempre pecadores. Não é através de um prévio exame psicológico ou médico que se deixará de ser assim".

Entretanto, prossegue, isto não "elimina que a imensa campanha mediática arraste consigo coisas que não se aceitarão jamais: o matrimônio de sacerdotes, a ordenação de homens casados, e coisas pelo estilo".

Estas coisas, precisou o membro do Instituto da França "revelam o ódio pelo nome cristão ou uma perda de autoridade e confiança na Igreja Católica. Em algo, corresponde-lhe ao Papa sustentar o peso desta confusão. Seu pontificado logo depois de cinco anos me parece doloroso".

"João Paulo II combatia contra um regime político monstruoso: o comunismo, mas tinha da sua parte a sociedade e a humanidade inteira. Bento XVI tem contra ele o conjunto da sociedade moderna, nascida da crise dos anos 60, com sua nova moral e sua nova religiosidade".

Finalmente Alain Besançon assinala que o Papa Bento "encontra-se em uma situação parecida à de Pablo VI, logo do Concílio Vaticano II, que devia confrontar o que chamou: ‘a auto-demolição da Igreja. Esta vez a auto-demolição de toda a sociedade, da natureza e a razão. A glória de seu pontificado não é visível: é a do martírio".