Em uma extensa conferência de imprensa em que não evitou nenhuma das questões expostas pelos jornalistas de distintos meios, o Secretário de estado Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, ao responder uma pergunta sobre a abolição do celibato para acabar com os escândalos de pedofilia, explicou que diversos estudos mostram que estes dois temas não têm relação, e advertiu que existe sim, um elo entre esta patologia e a homossexualidade.

Em conferência de imprensa realizada ontem de noite no Seminário Pontifício de Santiago e respondendo à última pergunta da mencionada roda de imprensa, o Cardeal vaticano disse: "muitos psicólogos e muitos psiquiatras demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram que o que sim existe é uma relação entre homossexualidade e pedofilia. Existem muitos documentos de psicólogos nesse sentido".

Acompanhado por diversos bispos da Conferência Episcopal do Chile, o Cardeal Bertone explicou que a carta que o Papa Bento XVI enviou aos católicos da Irlanda constitui "uma toma de posição muito forte a favor da claridade da posição da Igreja e de colaboração com as instâncias civis da nação, segundo a aceitação da culpa segundo a necessidade de resgatar as vítimas, também a figura do sacerdote católica nas comunidades da Irlanda e de todo o mundo. Está dirigida aos irlandeses mas é para todo o mundo".

Ante as diversas críticas que esta missiva gerou, o Secretário de estado comentou que "naturalmente não se pode contentar a todos. Alguns queriam que o Papa pedisse perdão nos dias de Páscoa. O Papa pediu perdão nesta carta e em outros momentos. A Páscoa são dias de alegria e não estão feitos para pedir perdão".

Seguidamente comentou que ante os escândalos dos pouquíssimos sacerdotes que cometeram crimes de abuso sexual contra menores, "o importante é orientar bem, aceitar os fatos do passado. É crucial acautelar o presente e o futuro através de uma formação integral, com virtudes humanas e sacerdotais aos candidatos ao sacerdócio. Seguir acompanhando o comportamento deles".

O Cardeal Bertone disse logo que a pedofilia golpeia e afeta "todas as categorias de pessoas, percentualmente em menor medida aos sacerdotes, embora este comportamento é muito mais grave e escandaloso quando se dá em presbíteros".

Ao ser interrogado sobre se o Santo Padre tem a intenção de encontrar-se com as vítimas de todos os abusos sexuais cometidos por membros do clero, o Cardeal recordou que "o Papa se encontrou com muitas vítimas em vários países. É impossível que o faça com todas elas. Seria interessante que os chefes de estado e os chefes de outras religiões se encontrassem com todas as vítimas de suas nações e credos. Esta patologia toca outras religiões e outros grupos".

"As estatísticas da Unicef, como diz um recente artigo de Joaquín Navarro Valls (Ex-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé) não consideram o clero católico porque a percentagem de sacerdotes é ínfima", ressaltou.

O Cardeal também se referiu à campanha mediática contra o Papa e pôs como exemplo a denúncia desta campanha pelo Wall Street Journal que informou em 6 de abril sobre as mentiras do New York Times, "dizendo que já não é um jornal de informação e que só ataca a Igreja Católica".

Logo depois de reiterar que em diversas ocasiões o Santo Padre pediu perdão pelos abusos contra menores cometidos por alguns sacerdotes, o Cardeal Bertone referiu que o Papa Bento sempre esteve muito consciente desta problemática e que sempre teve e segue tendo decisivas iniciativas a respeito.

"Queremos que outras iniciativas tomem de coração a dignidade das crianças, dos jovens, das mulheres. O Papa denuncia duramente o turismo sexual e defende a dignidade dos que são explorados desta forma. A Igreja o denuncia ante o silêncio de muitos", sublinhou.

Depois de negar energicamente o encobrimento de casos de abuso sexual e logo de explicar que esta não é uma prática habitual, o Cardeal vaticano tratou o caso do Pe. Lawrence Murphy, nos Estados Unidos.

Este caso, disse, "já foi explicado muitas vezes. Se vocês lerem o jornal Avvenire de 26 de março, explica-se bem, no qual eu mesmo falei. Eu escrevi para solicitar prosseguir o caso quando era secretário da Congregação para a Doutrina da Fé. O juiz civil, 20 anos antes, decidiu arquivar o processo".

O mencionado sacerdote "estava muito grave, em estado terminal. Quando recebemos esta informação, o importante era que ele já não podia fazer nenhum dano, que estava arrependido e nós o deixamos morrer em paz. Quatro meses depois, efetivamente ele morreu. Neste caso os meios de comunicação geraram muita confusão".