María Belén López, uma aeromoça da companhia Iberia que acompanhou os reis da Espanha em seu primeiro vôo a Roma, enviou uma carta ao rei Juan Carlos assinalando que, "com não pouca dor e muito mais decepção", devolve-lhe a foto dedicada que na mencionada viagem recebeu do rei, pois agora "meu lar não pode estar presidido pela foto de um monarca, supostamente católico", que avaliza a nova lei do aborto.

"Hoje, me sinto na obrigação moral de devolver essa fotografia que com tanto carinho e orgulho entesourei, e que, desde então, presidiu um lugar preeminente em minha casa", expressou López, quem disse que sempre considerou a monarquia como um "importante ponto de equilíbrio e reconciliação" para a Espanha.

O texto indicou que embora "alguém possa ter me advertido, com acerto, de que nossa Constituição o obriga a assinar tudo o que saia aprovado do Congresso dos Deputados. Entretanto, da mesma forma que o senhor soube encontrar habilmente, em outras ocasiões pontuais e não tão longínquas, alguns atalhos para contornar assuntos que tampouco contempla a Constituição, já poderia ter contribuído, agora, essa magnífica habilidade para evitar esta lei assassina, que ofende a sensibilidade e a dignidade de tantos espanhóis".

A aeromoça recordou que a nova lei do aborto desampara a mulher, desautoriza os pais de menores grávidas, desvincula de toda responsabilidade os homens e "enfrenta meia Espanha com a outra metade".

López advertiu que Rodríguez Zapatero demonstrou que quer governar só para os seus e "polarizou perigosamente a todos os espanhóis, como nunca tinha ocorrido na democracia". Por isso, depois de reafirmar seu orgulho de ser espanhola, recomendou ao monarca não perder de vista "o dia que um governo anti-espanhol, como o atual, ponha a sua mira na Coroa, porque o Sr. Zapatero já demonstrou que não lhe obscurece nada na hora de dar satisfação aos seus ‘como seja’".

Finalmente, Belén López expressou que "ao final seria muito penoso que ocorresse com a Coroa da Espanha algo parecido ao que motivou Winston Churchill dizer a seu oponente, Neville Chamberlain: ‘Eles deram a escolher entre a desonra e a guerra... escolheram a desonra, e, além disso, terão também a guerra’".