A análise histórica da Segunda guerra mundial e do papel que teve o Papa Pio XII no Holocausto deve ser estudado com objetividade e não com espírito de revanchismo histórico, assinalou o especialista judeu italiano Claudio Vercelli em um artigo do número de março da ‘Pagine ebraiche’, a revista mensal mais influente da comunidade judia na Itália.

A história "não é um maço utilizado para golpear na cabeça de alguém", escreve Vercelli, no artigo reproduzido integralmente na edição de hoje do jornal do Vaticano L’Osservatore Romano.

Vercelli propõe interpretar as ações do Papa Pacelli fora do contexto ideológico atual, onde sua figura é manipulada, e colocá-lo melhor no do momento histórico que ele teve que viver.

"O cenário que se abriu –ao Papa com o início da guerra–, ademais de angustiante por si próprio, foi o de uma confrontação entre dois totalitarismos que, para Pacelli, se apresentavam como igualmente detestáveis, embora sobre pressupostos diversos", escreve o perito.

Portanto, o suposto "silêncio" do Papa Pio XII sobre o holocausto hebreu deve ser compreendido no contexto que o Pontífice foi "apesar dele, um dos Papas que teve em sorte a difícil tarefa de conduzir a Igreja na época da modernidade, quer dizer, da política de massas e da sociedade das multidões, da qual o totalitarismo era uma poderosa variante".

O perito propõe finalmente compreender que, como máximo líder espiritual da Igreja, e como autoridade civil do Estado Vaticano, o Papa Pacelli "viveu um desdobramento que não se dispõe a sínteses fáceis".

"Todo pontificado conhece estações de amadurecimento durante e inclusive depois de sua conclusão. O resto, com toda honestidade, nos parece que é um exercício polêmico estéril", escreve Vercelli.

"Devemos nos mover na óptica do juízo, não do preconceito", conclui.