O Presidente do Equador, Rafael Correia, surpreendeu a imprensa européia quando em uma conferência que ofereceu na Universidade de Oxford repassou vários documentos pontifícios e reclamou ao Papa Bento XVI a publicação de uma encíclica que aborde sem eufemismos os problemas sociais, omitindo a recente Caritas in veritate.

Segundo a cadeia COPE, Correia pretendeu “dar cátedra de eclesiologia em Oxford” e disse que "gostaria de ver uma encíclica que denunciasse com vigor e frontalidade, sem eufemismos, a ideologia disfarçada de ciência que quis impor-se a nós como o final da história".

Correia “falou de vários documentos episcopais e do magistério pontifício, mas, no que teria sido uma resposta à sua reclamação, não mencionou documentos de Bento XVI como a recente encíclica Caritas in veritate”, adiciona a cadeia espanhola COPE.

A conferência de Correia se titulou “Experiência como cristão de esquerda em um mundo secular” e nela assegurou que “no plano pessoal, meus princípios sociais e econômicos se fundamentam na Doutrina Social da Igreja Católica e na Teologia da Libertação, e o socialismo do século XXI que estamos construindo na América Latina, ao menos no caso equatoriano, também se alimenta dessas fontes”.

Do mesmo modo, acusou a Igreja na América Latina de ter deslocado a questão social do “centro da ação pastoral” e pôr hoje “maior ênfase em questões de moral individual e em questões de rito”.

Correia elogiou a encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII por haver-se rebelado “ante as conseqüências da Revolução Industrial e a questão operária” e assegurou que “como católico, espero ansioso uma encíclica análoga para os tempos em que vivemos, denunciando a questão trabalhista e migratória”.

“Como poderemos explicar eticamente às futuras gerações que nesta suposta globalização, procuramos cada vez maior facilidade para a mobilização de capitais e mercadorias, mas penalizamos e até criminalizamos com um rigor cada vez maior a mobilidade dos seres humanos? Como a Europa, com estas políticas, pode chamar-se cristã? Com medidas coercitivas, com um apartheid institucionalizado, não se acaba com a miséria”, expressou o mandatário equatoriano ignorando o magistério do Papa Bento XVI.

Para surpresa de muitos, Correia insistiu em que como católico, espera “ansioso uma encíclica que denuncie como neste mundo, igual que na Revolução Industrial, o capital tem mais direitos que os seres humanos”.