Joaquín Navarro-Valls, quem durante 22 anos foi porta-voz oficial do Vaticano, assinalou em uma entrevista que a Igreja conta na atualidade com um dos Papas mais brilhantes da história e considerou que um dos elementos mais originais de Bento XVI é sua confiança na racionalidade das pessoas.

Navarro-Valls que trabalhou por quase dois anos com o Bento XVI, foi entrevistado pelo jornal espanhol El Mundo sobre seu trabalho no Vaticano e alguns aspectos dos dois Papas que acompanhou.
Sobre Bento XVI disse que “é o Papa de toda a história da Igreja com a mais brilhante e numerosa bibliografia pessoal. Sua riqueza conceptual é fascinante. E penso que as pessoas também fora do âmbito católico são conscientes disso”.

O ex-porta-voz não acredita que o Santo Padre seja uma pessoa fria. “Eu diria o contrário. Sua forma de comover-se mais freqüente do que se crê não é reagir passionalmente frente às coisas”, indicou.
Além disso, considerou que os elementos mais originais de seu Pontificado são “sua confiança na racionalidade das pessoas, em sua capacidade de procurar a verdade” e o grande obstáculo que enfrenta “o anunciou ele mesmo poucos dias antes de ser eleito Pontífice: a ditadura do relativismo”.

De seu trabalho com o Papa João Paulo II, conserva 600 páginas de anotações. “Faz um ano e meio um agente americano me ofereceu um milhão e meio de dólares por escrever esse livro. O problema em parte é que aceitei nestes anos uma série de compromissos profissionais que me absorvem. Teria que deixar tudo isso e passar um ano e meio fechado em minha habitação para escrever esse livro. Para mim seria um imperativo moral fazê-lo, porque João Paulo II era muito querido, mas não totalmente conhecido”, adicionou.

Segundo Navarro-Valls “não se conhece suficientemente a pessoa, seu caráter (de João Paulo II). Por exemplo, tinha um grande senso de humor. Inclusive quando tinha que tratar problemas dramáticos não perdia sua visão positiva”.

Sobre o processo de beatificação de João Paulo II, explicou que “desde o ponto de vista estritamente técnico, poderia estar tudo preparado antes que acabe o ano. Os dois passos que restam, tecnicamente falando, são o decreto de virtudes e a declaração do milagre, do qual se lhe atribuem vários, um especialmente claro. A partir daí, tudo depende do Santo Padre”.