O fundador e superior general do Sodalício de Vida Cristã, Luis Fernando Figari, afirmou que nos últimos tempos –devido à secularização e ao agnosticismo funcional – se empobreceu a palavra "reconciliação" e alentou os católicos a recuperarem seu significado a partir da iniciativa de Deus que sai ao encontro dos homens para superar as profundas rupturas suscitadas pelo pecado.

Ao participar do Congresso Internacional "Caridade, Reconciliação e Dignidade Humana", organizado pelo Arcebispado de Lima e a associação “Vida y Espiritualidad” (VE), o fundador da Família Sodálite, explicou que "existem palavras que não se entendem ou são mal entendidas. Também há outras que, à força de serem utilizadas, perdem ou vêem debilitada sua carga significativa. Uma delas é a ‘reconciliação’. No mundo secular se usou e inclusive se abusou muito da palavra, não poucas vezes em um sentido restringido, despojando-a de sua magnitude".

Figari ofereceu a exposição "O Senhor Jesus, Reconciliador do ser humano", e assinalou que agora vivemos em "uma das épocas mais escuras da humanidade", e neste contexto se "fala da reconciliação em muitos âmbitos, o que em princípio não está mau".

Entretanto, explicou que as tentativas históricas por alcançá-la -como a Sociedade das Nações, logo depois da chamada Primeira guerra mundial, ou a Organização das Nações Unidas, logo depois da Segunda- não foram suficientes.

"Problemas urgentes como a globalização ou a situação de um mercado mundial e a mundialização das finanças, referidos de maneira sugestiva na encíclica social do Magistério do Papa Bento, falam com claridade da necessidade de reajustes, mas melhor ainda, de reformas substanciais que vão à raiz e sirvam de cura às doenças", indicou.

"Em nossos dias se fala muito de reconciliação. Entretanto, ou se pratica pouco, ou se restringe seu significado segundo prismas ideológicos. Obviamente, se não se entende bem o que ela é, a compreensão limitará sua aplicação e concreção na vida das pessoas e dos povos", advertiu.

Do mesmo modo, recordou que a Igreja ensina há muito tempo que os direitos da pessoa "brotam de sua dignidade de filho de Deus, criado à sua imagem e semelhança".

O fundador peruano recordou que este ano 2009 foi declarado pela ONU como o Ano Internacional da Reconciliação. Diante disto, considerou que "não podemos menos que albergar um grande júbilo interior" mas "tampouco podemos calar o incômodo porque essa reconciliação é exposta em um sentido incompleto" pois "não esgota o alcance do que é a desejada reconciliação que o ser humano anseia, e que encontra sua explicitação na divina Revelação".

Assinalou Figari que a referida resolução convida a promover um conceito autêntico de reconciliação, como se tem feito desde meados dos anos ‘80 no Peru, procurando apresentar uma visão completa da reconciliação em seus diversos aspectos, segundo uma concepção integral do ser humano. "A apresentação da reconciliação em relação a Deus, conosco mesmo, a outros e ao mundo foi uma constante dos diversos Congressos Internacionais da Reconciliação e outros eventos e publicações que foram se aprofundando em uma visão integral da reconciliação como resposta que, nascida da fé, busca apresentar ao homem de hoje Cristo Reconciliador".

Figari pediu que se deve recordar que "a reconciliação é uma iniciativa divina, expressão da superabundância do amor de Deus pelo ser humano, que se manifesta na história e alcança sua plenitude na Encarnação do Senhor Jesus. Ele é a Reconciliação".

"O Senhor Jesus que, em sua pessoa e seus mistérios, veio reconciliar o ser humano com Deus, com as profundidades do seu ser mais íntimo, com outros seres humanos, e com a criação, apresenta-se hoje como ontem aos seres humanos na proclamação e consumação sempre atual de seu amor. É o mesmo, ontem, hoje e o será sempre, como lemos na Escritura e o repetimos tanto nos últimos anos no Continente da Esperança", adicionou.