Em uma entrevista concedida ao L'Osservatore Romano, Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido no mundo como "Pelé", disse estar agradecido porque "Deus me deu o dom de jogar futebol", e denunciou que a violência é o maior dos males deste esporte na atualidade.

Ao explicar os aspectos que não lhe parecem adequados no futebol atual, Pelé comenta na entrevista que "a coisa que mais detesto não tem nada a ver com a técnica, a tática ou outros aspectos nitidamente esportivos. O que mais me desgosta é a violência, que é, além disso, uma praga que caracteriza a toda nossa sociedade. A violência ligada ao futebol me parece verdadeiramente uma moléstia".

Referindo-se logo às quantidades astronômicas de dinheiro que se paga atualmente por alguns jogadores, o "rei do futebol" precisa que o problema que ele vê nisto é que "hoje um jogador desde muito jovem começa a jogar pensando já em quanto dinheiro poderá ganhar. Não lhe importa onde vai jogar. Um jogador vai ao Real Madrid e beija a camiseta. Ao dia seguinte troca de equipe e beija a nova camiseta jurando amor eterno". "Em realidade –adiciona– amam só o aumento de salário. E tudo isto é perigoso para o futuro do esporte".

Depois de explicar logo que começaram a chamá-lo de Pelé desde que tinha 7 ou 8 anos, nome que ele não gostava e que o fazia "litigar" muitíssimo, o ex-jogador de futebol relata que seu pai foi seu primeiro professor de futebol e foi "sobre tudo para mim, professor de vida, de respeito pelo próximo".

"Deus me deu o dom de saber jogar futebol –porque realmente é um dom de Deus– e meu pai me ensinou a usá-lo, ensinou-me a importância de estar sempre pronto e preparado; e que além de saber jogar bem devo ser também um bom homem".

Pelé recorda logo ter tido o "privilegio de falar com três Papas. Considero-me um homem muito afortunado por poder me encontrar e receber a bênção de Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI. Destes encontros conservarei com gosto as fotografias que me deram no Vaticano. Com estes três Pontífices pude falar sobre a vida e de Deus. Foram momentos muito importantes para mim que ficaram em meu coração".

Seguidamente o astro brasileiro animou os jovens a praticarem esporte para estar "afastados das drogas e de outras situações de marca social" e logo assegurou que o mundial que mais recorda é o do México 70, quando o Brasil obteve o título, "porque é o único no que participei inteiro jogando as classificações, as eliminatórias e a fase final".

Pelé também se dá tempo para contar como quase fica sem jogar o mundial da Suécia em 1958, quando o Brasil obteve também o título, porque um psicólogo no comando técnico tinha opinado que era muito jovem –tinha 17 anos– e como finalmente ele pôde jogar, por decisão do treinador. Relata além que seu gol número mil foi o mais emocionante de toda sua carreira; aquele 19 de novembro de 1969 quando o Santos, sua equipe de toda a vida, enfrentou-se ao Vasco da Gama no Maracanã.

Edson Arantes do Nascimento –cujo pai lhe deu esse nome por Thomas Edison, o famoso inventor americano– comenta assim a emoção desse dia: "pela primeira vez as minhas pernas tremeram diante da marca do pênalti. Todo mundo esperava esse gol. Nesse momento senti todo o peso da responsabilidade. E pensar que no estádio fiz gols de muitos modos: com dribles, de cabeça, com fintas… Mas aquela exigência foi verdadeiramente especial. Lembrança que um jornalista disse que Deus mesmo tinha preparado o jogo para que meu gol número mil coincidisse com essa circunstância: dessa maneira o mundo inteiro pôde aproximar-se para vê-lo".