Esta manhã se deu a conhecer a "Carta de Sua Santidade Bento XVI aos Bispos da Igreja Católica sobre a remissão da excomunhão dos quatro Bispos consagrados pelo Arcebispo Lefebvre". Neste profundo e sentido texto, o Papa explica a detalhe as razões que o levaram a este gesto de misericórdia e suas implicâncias.
Na missiva, datada em 10 de março, depois de explicar que logo da confusão causada dentro e fora da Igreja por este gesto de misericórdia dele, o Santo Padre assinala que "um convite à reconciliação com um grupo eclesiástico comprometido em um processo de separação, transformou-se assim em seu contrário: uma aparente volta atrás respeito a todos os passos de reconciliação entre os cristãos e judeus que se deram a partir do Concílio, passos compartilhados e promovidos do início como um objetivo de meu trabalho pessoal teológico".
"Que esta superposição de dois processos contrapostos tenha acontecido e, durante um tempo tenha turvado a paz entre cristãos e judeus, assim como também a paz dentro da Igreja, é algo que só posso lamentar profundamente", acrescenta.
"Outro desacerto –prossegue– do qual me lamento sinceramente, consiste no fato de que o alcance e os limites da iniciativa de 21 de janeiro de 2009 não se ilustraram de modo suficientemente claro no momento de sua publicação".
A excomunhão, precisa o Papa, "afeta às pessoas, não às instituições. Uma ordenação episcopal sem o mandato pontifício significa o perigo de um cisma, porque questiona a unidade do colégio episcopal com o Papa".
Por isso, precisa Bento XVI, "a Igreja deve reagir com a sanção mais dura, a excomunhão, com o fim de chamar as pessoas sancionadas deste modo ao arrependimento e à volta à unidade. Por desgraça, vinte anos depois da ordenação, este objetivo não se alcançou ainda".
"A remissão da excomunhão tende ao mesmo fim ao que serve a sanção: convidar uma vez mais aos quatro Bispos ao retorno. Este gesto era possível depois de que os interessados reconhecessem em linha de princípio ao Papa e seu potestade de Pastor, apesar das reservas sobre a obediência a sua autoridade doutrinal e a do Concílio. Com isto volto para a distinção entre pessoa e instituição".
Seguidamente o Santo Padre assegura que "se deve distinguir este âmbito disciplinar do âmbito doutrinal. O fato de que a Fraternidade São Pio X não possua uma posição canônica na Igreja, não se apóia ao fim e ao cabo em razões disciplinar porém doutrinais. Até que a Fraternidade não tenha uma posição canônica na Igreja, tampouco seus ministros exercem ministérios legítimos na Igreja".
portanto, recalcou, "é preciso distinguir entre o plano disciplinar, que concerne às pessoas entanto tais, e o plano doutrinal, no que entram em jogo o ministério e a instituição".
"Para precisá-lo uma vez mais: até que as questões relativas à doutrina não se esclareçam, a Fraternidade não tem nenhum estado canônico na Igreja, e seus ministros, não obstante tenham sido liberados da sanção eclesiástica, não exercem legitimamente ministério algum na Igreja".
Por isso, escreve o Papa "à luz desta situação, tenho a intenção de associar próximo a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, instituição competente desde 1988 para essas comunidades e pessoas que, provindo da Fraternidade São Pio X ou de agrupamentos similares, querem retornar à plena comunhão com o Papa, com a Congregação para a Doutrina da Fé. Com isto se esclarece que os problemas que devem ser tratados agora são de natureza essencialmente doutrinal, e se referem sobre tudo à aceitação do Concílio Vaticano II e do magistério postconciliar dos Papas".
Bento XVI lembra logo que "não se pode congelar a autoridade magisterial da Igreja ao ano 1962, o qual deve ficar bem claro à Fraternidade. Mas a alguns dos que se mostram como grandes defensores do Concílio se lhes deve lembrar também que o Vaticano II carrega consigo toda a história doutrinal da Igreja. Quem quer ser obediente ao Concílio, deve aceitar a fé professada no curso dos séculos e não pode cortar as raízes das que a árvore vive".
Na carta, o Papa destaca que "conduzir aos homens para Deus, para o Deus que fala na Bíblia: Esta é a prioridade suprema e fundamental da Igreja e do Sucessor do Pedro neste tempo. Disto se deriva, como conseqüência lógica, que devemos ter muito presente a unidade dos crentes".
"Portanto, se o compromisso laborioso pela fé, pela esperança e o amor no mundo é nestes momentos (e, de modos diversos, sempre) a autêntica prioridade para a Igreja, então também formam parte dela as reconciliações pequenas e médias".
Certamente, acrescenta o Pontífice, "a muito tempo tempo e depois uma e outra vez, nesta ocasião concreta escutamos que representantes dessa comunidade muitas costure fora de tom: soberba e presunção, obcecações sobre unilateralismos, etc. Por amor à verdade, devo acrescentar que recebi também uma série de impressionantes testemunhos de gratidão, nos quais se percebia uma abertura dos corações".
Concluindo a missiva, o Papa agradece "de coração a todos os numerosos Bispos que neste tempo me deram provas comovedoras de confiança e de afeto e, sobre tudo, asseguraram-me suas orações. Este agradecimento serve também para todos os fiéis que neste tempo me deram prova de sua fidelidade intacta ao Sucessor de São Pedro. O Senhor proteja a todos nós e nos conduza pela via da paz".
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