Uma jovem argentina de 21 anos, cuja mãe sofre de problemas mentais e foi violada em 1987, escreveu uma comovente carta clamando pela vida do bebê de outra mulher também descapacitada mental que foi violada e cujos pais pedem lhe seja permitido abortar na localidade de Santiago del estero.

“Eu e minha irmã (gêmea) hoje temos quase 22 anos e por mais desgraça (como diz meu vô) que vivemos, muitas vezes somos duas guerreiras da vida com muitas ânsias de fazer de nossa vida algo bom, e acredito que esse bebê de quase três meses espera pelo mesmo”, expressou a jovem no texto divulgado pelo jornal El Liberal e recolhida por Tucumán Notícias.

A moça, que por motivos pessoais preferiu guardar o anonimato, afirmou que se sente identificada com o recente drama desatado em Santiago del estero, mas não do lado da justiça ou da jovem violada, mas sim “do lado do bebê”.

Em sua carta, relatou que ambas as irmãs foram criadas por sua avó e que a mãe “é como uma irmã mais velha". Recordou que a mãe sofreu “muito em sua vida” e embora tenham passado por diversos problemas, como filha teve uma infância feliz.

Reconheceu que várias vezes se perguntou por que não tinha pai, até que logo depois de tanta insistência, quando era adolescente sua mãe lhe revelou a verdade: “Você não tem papai, fui violada... não lhe disse isso antes porque não podia lhe dizer a uma neném de 12 anos que foi fruto de uma violação, e que estava disposta às dar de presente ou as dar em adoção”.

“Pensou em nos dar em adoção, mas nunca pensou em abortar. Nunca pensou em nos tirar a possibilidade de viver, ainda sendo doente mental, nunca pensou em nos matar, apesar de não nos querer...”, recordou e assegurou que ama a sua mãe “porque é minha mãe” e porque “teve o valor de me contar o que lhe aconteceu e posso com ela compartilhar sua dor”.

Por isso, agradeceu ao advogado Luciano Paván, também de Santiago del Estero, por oferecer-se a adotar ao bebê de três meses a cuja mãe querem obrigar a abortar.

“Se a família da jovem não pode ou não quer (fazer-se carrego) por ‘X’ motivos, fico contente de saber que há gente que sim pode, e que está em contra do aborto.

Eu não acredito que o que eu escreva hoje mude nada, ou talvez sim, um pouco os pensamentos da gente... sei lá...”, expressou.

O caso

Recentemente, a imprensa local informou do caso de uma jovem de 22 anos descapacitada mental que ressultou grávida produto de uma violação.

Conforme se indicou, a família e outros grupos abortistas estão pedindo se submeta à mulher a esta prática, dado que no país o aborto está permitido para os casos de violação de uma mulher “demente”. Entretanto, o caso ainda não chegou ao Poder Judicial porque os médicos estão tratando de determinar seu grau de descapacidade.

Ante isto, o advogado Luciano Paván expressou ao jornal La Liberal seu desejo de adotar ao bebê para evitar que seja abortado.

O advogado, casado e com dois filhos, disse que “me move a necessidade de nos justificar com a vida. Quero evitar que matem a alguém. Não podemos dirigir uma linguagem contraditória e dizer que defendemos a vida e os direitos humanos e, simultaneamente, estamo-lhe negando a vida e seus direitos a um novo ser”.

“Estou em condições de me fazer carrego do bebe sem me importar as circunstâncias nem as conseqüências físicas ou mentais que possa ter ao nascer”, afirmou.

A carta completa da moça está em: http://www.tucumanoticias.com.ar/noticia.asp?id=23081