Na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Bento XVI precisou que por Cristo, por sua justificação, "o ser humano se faz verdadeiramente justo aos olhos de Deus", tema fundamental no ensinamento do Apóstolo São Paulo.

Continuando as catequese sobre o Apóstolo dos Gentis, o Santo Padre explicou que quando Paulo se encontrou com o Senhor era "um homem realizado, irrepreensível quanto à justiça derivada da Lei", mas "a iluminação de Damasco mudou radicalmente sua existência e começou a considerar os méritos adquiridos durante uma carreira religiosa inpecável como 'lixo' diante do conhecimento sublime de Jesus".

Seguidamente Bento XVI assinalou que a Epístola aos Filipenses "oferece um testemunho comovedor da passagem de Paulo de uma justiça fundada na Lei e adquirida observando os preceitos, a uma justiça apoiada na fé em Cristo. Graças à experiência pessoal da relação com Jesus Cristo Paulo situa no centro de seu Evangelho uma oposição irredutível entre dois caminhos alternativos para a justiça: um construído sobre as obras da Lei, outro baseado na graça da fé em Cristo".

Assim, São Paulo diz aos cristãos de Roma: "todos pecaram e estão privados da glória de Deus, e são justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção  que está em Cristo Jesus e acrescenta: 'Afirmamos que o homem é justificado pela fé com independência das obras da Lei'".

"Lutero traduziu justificados pela só fé, mas antes de retomar a este ponto é necessário esclarecer qual a Lei da que fomos liberados e quais são as obras da Lei que não nos justificam. Já na comunidade de Corinto existia a opinião, que volta sempre na história, de que seria a lei moral e portanto a liberdade cristã seria a liberação da ética. É óbvio que esta interpretação é errada. A liberdade cristã não é libertinagem, não é liberação de fazer o bem".

"Para São Paulo, como para seus contemporâneos, a palavra Lei significava a Torah em sua totalidade, que implica um conjunto de comportamentos que vão do núcleo ético às observâncias rituais, que determinam substancialmente a identidade do homem justo, como a circuncisão, as regras alimentares, etc. Todos estes preceitos que expressam uma identidade social, cultural e religiosa eram muito importantes" na época helenística onde imperava o politeísmo, e Israel se sentia ameaçado em sua identidade e temia "a perda da fé no único Deus e em suas promessas".

Por isso, explica o Santo Padre, era necessário criar contra a pressão helenista, "um muro que protegesse a preciosa herança da fé e o muro eram os preceitos judaicos".

Pablo, depois de seu encontro com Cristo, compreendeu que "o Deus do Israel, o único Deus verdadeiro se converte no Deus de todos os povos, e o muro entre Israel e os pagãos já não é necessário. Cristo nos protege do politeísmo e suas separações. Cristo nos garante nossa identidade na diversidade das culturas e é Ele quem nos faz justos".

Seguidamente o Pontífice sublinhou que "ser justo significa simplesmente estar com Cristo, ser em Cristo e com isto basta. Os outros preceitos já não são necessários. Por isso, a palavra 'só fide' de Lutero é verdadeira se não se opuser à caridade, ao amor. A fé é olhar a Cristo, confiar-se a Cristo conformar-se a Cristo. E a forma, a vida de Cristo é o amor. Somos justos na comunhão com Cristo que é o amor. A justiça se decide na caridade".

"Podemos pedir somente ao Senhor que nos ajude a acreditar, assim acreditar se torna vida, unidade com Cristo, transformação, e transformados no amor a Deus e ao próximo seremos realmente justos aos olhos de Deus", concluiu.