A Igreja no Astúrias (Espanha) anunciou que por respeito à privacidade das famílias católicas, não colocará os arquivos paroquiais a disposição de uma consulta indiscriminada solicitada pelo juiz Baltasar Garzón à Conferência Episcopal Espanhola (CEE) com o fim de elaborar umas listas de falecidos nas repressões da Guerra Civil e da pós-guerra.

 

Fontes da Igreja regional assinalaram que tanto a remissão de arquivos paroquiais à Audiência Nacional como o acesso da Polícia judicial aos livros dos templos constituiriam "uma consulta indiscriminada que poderia vulnerar a privacidade de uns dados amparados por 75 anos de proteção, segundo as normas eclesiásticas".

 

A isso se soma o caso de famílias que não desejam que se façam públicos os dados de seus antepassados, adicionaram as fontes.

 

O Vigário geral da diocese, Juan Antonio Menéndez, explicou que os familiares "sempre podem solicitar as partidas de falecimento de seus antepassados, mas os livros paroquiais constituem um arquivo vivo, e o livro como tal não se pode deixar à investigação". "A normativa geral da Igreja distingue entre o arquivo vivo e o arquivo histórico, de livre consulta", explicou.

 

Agustín Hevia Ballina, diretor do Arquivo Diocesano e também do da Catedral, assim como presidente da Associação de Arquivistas da Igreja na Espanha, precisa que "os livros paroquiais são públicos, em efeito, mas não de consulta indiscriminada"; e explicou que estes "gozam de 75 anos de privacidade protegida, segundo as normas eclesiásticas, que regem do Arquivo Segredo Vaticano até o de cada paróquia".

 

Em 26 de setembro, o Secretário Geral e porta-voz do Episcopado Espanhol, Dom Juan Antonio Martínez Caminho, manifestou que "o ânimo de colaboração da Igreja com a justiça é absoluto, e a Conferência Episcopal fará todo o possível" para atender a petição do juiz. Entretanto, Hevia Ballina explicou que no processo "não pode ser violada a

privacidade dos descendentes, que são reclamantes, e pode haver familiares que não desejem que os dados de seus antepassados figurem em uma lista pública".

 

O juiz, pelo contrário pode solicitar dados de pessoas concretas, para realizar verificações. O perito explicou além que as notas nos registros paroquiais "dependiam do pároco desse momento; muitas vezes não se detalhavam as causas do falecimento"; em conseqüência, a Igreja não confeccionou listas de fuzilados, "porém registrou a ata individual de cada falecido que recebeu sepultura".

 

O Vigário lembrou que sim existem "listas que são totalmente públicas: as placas nos templos".

 

A catedral de Oviedo, em efeito, conta com uma lápide que contém o nome de 200 sacerdotes executados na Revolução de 1934 ou na Guerra Civil. «É uma lista cuja reprodução se pode remeter ao juiz». O mesmo acontece com as duas lápides da basílica do Sagrado Coração, em Gijón.