Lucetta Scaraffia, historiadora e docente na Universidade La Sapienza de Roma, advertiu do perigoso horizonte que se abate sobre os seres humanos com a cada vez mais divulgada eugenêsia. Também precisa como não é um conceito novo senão que tem suas origens nos séculos XVIII e XIX.

Em sua conferência no Congresso sobre a encíclica Humanae Vitae que se celebra na Pontifícia Universidade Lateranenses, Scaraffia indicou que "a eugenêsia constitui hoje um verdadeiro perigo para nossa sociedade, um perigo com freqüência desconhecido e encoberto. Nos últimos decênios se converteu em uma prática quee aceita esta ideologia com raízes no século 19 e que está estreitamente ligada às novas aquisições tecno-científicas".

Em sua exposição titulada "Faz oitenta anos deu o alarme Chesterton e hoje se volta para a eugenêsia", a historiadora italiana sublinhou que com a eugenêsia "trata-se em substância de transformar a definição de humanidade, que até agora compreendia a todos os seres humanos, dividindo-os em indivíduos de série A, que têm o direito de viver; e aqueles de série B, imperfeitos e portanto 'anormais' que não têm direito a viver".

Para Scaraffia, existe além atualmente toda uma "ofensiva ideológica para negar que isto pertence ao âmbito da eugenêsia, ou para sustentar que existe uma eugenêsia má e uma boa".

"Alguns sustentam que o aborto 'terapêutico' de fetos com má formações não é uma prática eugênica, senão sobre tudo um 'ato de compaixão' porque procura eliminar a dor. Outros que a eugenêsia é má só quando quem realiza a opção é o estado e a finalidade é a criação de uma raça superior. Se em vez disso quem faz a opção é a mãe, que procura 'evitar' o sofrimento para si ou ao futuro menino, então se trataria de um ato de compaixão", expõe a historiadora.

Seguidamente e lembrando um escrito de 1922 de Gilbert K. Chesterton, de 1922, a historiadora italiana lembra que "os eugenesistas sustentam que seu projeto não alcançará nunca as mais temíveis conseqüências, porque estão eles para as controlar: e esta segurança, também presente nos horrores nazistas, faz verdadeiramente temer" e "lembrar a quem está a favor da seleção de embriões e o aborto terapêutico".

"'O gênero humano é um gênero, não um grau', escreve Chesterton. Explicando que nenhum médico 'tem o direito a ministrar a morte como remédio aos males' sempre referindo-se aos médicos que decidem que vida é 'indigna de ser vivida'".

"O escritor dá luzes sobre a aproximação desta ciência experimental, a eugenêsia, que quer apresentar como fonte de certezas: 'os eugenesistas não sabem o que querem, exceto que queiram a alma e seu corpo e o meu para descobri-lo' e se convertem assim na 'primeira religião experimental em vez de doutrinal'", explica Scaraffia.

"Chesterton analisa a cultura que constitui a base da eugenêsia, e define duas características essenciais: 'uma anarquia silenciosa que consome nossa sociedade' e que é 'a condição de ânimo e comportamento de quem não pode parar", e a 'idéia que não se pode tornar realidade, uma idéia radicada no materialismo e a negação de livre-arbítrio'", prossegue.

"Todas estas afirmações de Chesterton se podem aplicar amplamente às condições contemporâneas, e este fato prova que a diferença entre as duas eugenêsias não é tal, e que nos encontramos perante o mesmo tipo de mal que esteve no centro da catástrofe nazista", adverte a historiadora.

Lucetta Scaraffia nasceu em Torino em 1948. É historiadora e jornalista, docente de historia na Universidade La Sapienza de Roma. Ocupa-se especialmente da história da mulher e do cristianismo. Colabora com os jornais italianos Avvenire, Il Foglio, Corriere della Sera. É Vice-presidenta nacional da Associação Scienza & Vita.