O perito na vida do Beato Papa Pio IX, Francesco Guglietta, revelou em um artigo publicado por L'Osservatore Romano, como o Pontífice decidiu consultar aos bispos do mundo para proclamar o dogma da Imaculada Concepção em 8 de dezembro de 1854.

 

Guglietta assinala que a revolução que terminou com a proclamação da "República Romana" em 1848 e forçou ao Papa a refugiar-se durante nove meses em Gaeta –a cidade marítima entre Roma e Nápoles-, teve um efeito profundo no Pontífice, que como o Cardeal Giovanni Maria Mastai Ferretti, tinha simpatizado abertamente com os movimentos revolucionários europeus.

 

"Neste lapso de tempo, em efeito, Pio IX perdeu progressivamente confiança nos processos de 'revolução' que tinham lugar na Europa e tomou distância do ambiente católico liberal, começando a ver no movimento de insurreição, assim como na 'modernidade' de então, uma perigosa insídia para a vida da Igreja", escreve Guglietta.

 

O perito assinala que "compreender o que aconteceu na forma de pensar de Pio IX em Gaeta tem uma relevância histórica notável", que segue sendo "uma investigação ainda pouco explorada".

 

Entretanto, diz o historiador, sim consta que o tempo do Papa em Gaeta foi fundamental para a decisão de proclamar o dogma Mariano da Imaculada Concepção.

 

"De maneira um pouco romântica em Gaeta, a tradição oral narra que foi prolongada a oração do Beato Pio IX frente à imagem da Imaculada Concepção do Scipione Pulzone conservada na esplêndida Capela de Ouro do complexo da 'Annunziata', a que o convenceu da bondade e fundamento do dogma Mariano", diz Guglietta.

 

Entretanto, mais relevante historicamente é um episódio relatado pelo historiador e catedrático francês Louis Baunard.

 

Baunard "narra de Pio IX que contemplando o mar agitado de Gaeta escutou e meditou as palavras do Cardeal Luigi Lambruschini: 'beatíssimo Padre, o senhor não poderá curar o mundo senão com a proclamação do dogma da Imaculada Concepção. Somente esta definição dogmática poderá restabelecer o sentido das verdades cristãs e retrair as inteligências dos caminhos do naturalismo nas que se perdem'".

 

Segundo Guglietta, o tema do naturalismo, que desprezava toda verdade sobrenatural, poderia considerar-se como "a questão de fundo" que impulsionou ao Papa à proclamação do dogma. "A afirmação da Concepção Imaculada da Virgem colocava sólidas bases para afirmar e consolidar a certeza da primazia da graça e da obra da Providência na vida dos homens".

 

O historiador assinala que Pio IX, embora o seu entusiasmo, acolheu a idéia de realizar uma consulta com o episcopado mundial, que expressou seu parecer positivo, e levou finalmente à proclamação do dogma.