Em um artigo titulado "O suicídio mediático do espírito crítico", Luca M. Possati deu conta em L'Osservatore Romano de um evento na Universidade La Sapienza que criticou a quem se opôs à visita do Papa Bento XVI a esse centro de estudos e tratou as realidades da fé e a razão.

 

Possati assinala que o encontro, realizado em 6 de fevereiro na faculdade de ciências políticas de La Sapienza, tinha por título "Fé, Razão e Universidade" e teve duas perguntas sobre as que girou o diálogo: Qual é a natureza e missão do Papado? e Qual é a natureza da universidade?

 

"Sentimos a exigência de refletir sobre as palavras do Papa porque entendemos que a universidade deve ser um lugar de pluralismo, aonde se discutam os pontos de atrito para esclarecê-los através do diálogo", disse Fulco Lanchester, presidente da faculdade. Em sua opinião, o escândalo da suspensa visita do Santo Padre foi causado sobre tudo por alguns meios de comunicação "que aproveitaram a situação para fins polêmicos". Mais uma vez, expropriou-se à universidade "do papel como centro de reflexão crítica" e se gerou uma "reproposta de coisas obsoletas históricas que acreditávamos superadas", explicou Lanchester.

 

Por sua parte, Vittorio Possenti, professor de filosofia política na Universidade "Cà Foscari" de Veneza, assinalou que "deve existir uma relação entre fé e razão que deve ser, antes de mais nada, um recíproco reconhecimento", mas "tal relação pode instaurar-se somente se ambas as partes entendem ter o mesmo campo de ação: a verdade".

 

"Então –prossegue Possenti– para que haja uma razão aberta, que escuta e conhece seus próprios limites, não se pode não entrar em diálogo com a fé, sem que este diálogo ataque, porque não o faz, a autonomia das indagações racionais",

 

Para o professor de filosofia, o horizonte mais inquietante hoje em dia para o ocidente, é o "niilismo jurídico", quer dizer a posição em que se nega no mundo a existência de uma lei, de um direito fundamental. No niilismo jurídico prevalece o esquecimento da lei, o desprezo pelos direitos humanos.

 

Em sua opinião "a universidade deve superar esta dimensão de educar na liberdade, e chegar ao impulso desinteressado do conhecimento das lutas políticas pela supremacia e contra um laicismo fechado em seus próprios preconceitos, com freqüência mais anti-clerical do que leigo".

 

Na sua vez, Mario Caravale, professor de história do direito italiano de La Sapienza, comentou que "quando com freqüência se fala em modificar a nossa constituição, devemos perceber que existem normas fundamentais derivadas da nossa natureza de seres humanos, ainda mais concretamente, de nosso ser membros de uma comunidade".