Em uma Nota Doutrinal ata pública hoje no Vaticano sobre alguns aspectos da Evangelização, a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) ofereceu importantes elucidações sobre o "conceito da missão evangelizadora cristã" que saem ao encontro da "confusão crescente" gerada pelo ambiente agnóstico e relativista de nosso tempo.

O documento responde de maneira clara e contundente a enganos propalados inclusive em setores eclesiásticos nos últimos tempos que assinalam que a evangelização é um atentado contra a liberdade do outro e que sustentam que é desnecessária a promoção da conversão a Cristo. Deste modo esclarece aos que assinalam que evangelizar é uma intromissão e empobrecimento inaceitáveis nas culturas locais e que o aumento de membros na Igreja significa o crescimento de um grupo de poder.

A "Nota Doutrinal a respeito de alguns aspectos da Evangelização" foi apresentada esta manhã no Escritório de Imprensa da Santa Sé pelos cardeais William Joseph Llevada, Francis Arinze e Ivan Dias, respectivamente prefeitos das Congregações para a Doutrina da Fé; para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e para a Evangelização dos Povos; e o Arcebispo Angelo Amato, Secretário da CDF.

Segundo o resumo da Nota, "hoje existe uma ‘confusão crescente’ sobre o mandato missionário da Igreja. Alguns opinam que ‘qualquer tento de convencer a outras pessoas em questões religiosas seja um limite à liberdade’, sugerindo que baste ‘convidar às pessoas a atuar segundo sua consciência’ e ‘ajudar aos seres humanos a ser mais humanos ou mais fiéis à própria religião, para construir comunidades capazes de obrar pela justiça, a liberdade, a paz, a solidariedade’, sem apontar à conversão a Cristo e à fé católica".

Apontando outro engano atual, a CDF constata que "outros sustentam que não se deve promover a conversão a Cristo porque é possível salvar-se ‘sem um conhecimento explícito de Cristo e sem uma incorporação formal à Igreja’".

Antropologia, eclesiologia e ecumenismo

Ao abordar as implicações antropológicas, o resumo observa que "algumas forma de agnosticismo e relativismo negam a capacidade humana de conhecer a verdade, enquanto a liberdade humana não pode desvincular-se de sua referência à verdade".

A respeito, o resumo esclarece que "o ensino e o diálogo com que se pede a uma pessoa, em plena liberdade, que conheça e ame a Cristo, não é uma intromissão indevida na liberdade humana, mas sim uma "oferta legítima e um serviço que pode fazer mais fecundas as relações entre os seres humanos".

"Com a evangelização, as culturas se enriquecem positivamente com as verdades do Evangelho. Do mesmo modo, com a evangelização, os membros da Igreja Católica se abrem a receber os dons de outras tradições e culturas".

"Qualquer tentativa de diálogo que comporte a coação ou uma instigação imprópria, desrespeitosa da dignidade e a liberdade religiosa dos dois atores do diálogo, não pode subsistir na evangelização cristã", prossegue.

Referindo-se às implicações eclesiológicas, o resumo afirma que para a evangelização cristã "a incorporação de novos membros à Igreja não é a extensão de um grupo de poder, mas sim a entrada na amizade com Cristo, que une o céu e a terra, continentes e épocas diferentes".

Ao referirem-se asas implicações ecumênicas, o documento "reafirma o importante papel do ecumenismo na missão evangelizadora da Igreja. As divisões dos cristãos podem comprometer seriamente a credibilidade da missão evangelizadora da Igreja".

"Quando a evangelização católica se leva a cabo em um país onde vivem cristãos não católicos –se lê no texto– os católicos devem cumprir a própria missão emprestando a máxima atenção ao verdadeiro respeito por suas tradições e riquezas espirituais" e "com um sincero espírito de cooperação. A evangelização pode progredir com o diálogo e não com o proselitismo.