Em meio a um caloroso debate nacional sobre a "reforma" constitucional empreendida pelo mandatário venezuelano Hugo Chávez, o Presidente do Concílio Plenário da Venezuela, o Arcebispo Ovidio Pérez Morales, assegurou que a "campanha sistemática de perseguição do meio oficial contra a Igreja para pretender calá-la" não terá êxito algum.

Não é possível que a Igreja cale "ante pretensões como as de declarar a Venezuela um estado socialista, marxista, leninista. Venezuela não pode ir ao que é Cuba do ponto de organização política", disse o Prelado em entrevista concedida a Globovisión.

Para Dom Pérez, uma das mais respeitadas figuras eclesiásticas no país, este tipo de procedimento pelo que quer fazer silenciar à Igreja e fazer que só se escute o que o oficialismo determina, "é característico de regimes ditatoriais, autocráticos e totalitários".

O Prelado reiterou que é impossível "que a Igreja possa calar ante uma pretendida reforma que não é reforma mas sim uma nova Constituição, em que se define a Venezuela como um Estado socialista à cubana no que não haverá um pluralismo democrático, onde haverá uma concentração absoluta de todo o poder no Presidente da República, em cujas mãos estará todo o político, econômico e cultural deste país".

Para o Arcebispo Emérito de Los Teques, o Presidente Hugo Chávez procura ser uma espécie de "sumo pontífice deste país, quer dizer, determinar o que é o que os bispos têm que dizer, o que é o que não podem dizer, quando devem falar e quando calar".

Referindo-se ao presidente do governo venezuelano, o Arcebispo Emérito disse "que quem exerce a primeira responsabilidade de condução do país tem que ser respeitoso do mais singelo dos cidadãos e com mais razão para os que exercem a direção da Igreja da maioria dos venezuelanos".

Mentiras e calúnias

Dom Pérez recordou deste modo que a Igreja saiu em defesa dos direitos de Chávez em abril de 2002 e reiterou que esta não se submeterá aos ditames do mandatário. "O que é o que se quer, que a Igreja não diga nenhuma palavra? A Igreja deu sua palavra quando ele foi preso e houve um bispo nomeado pela Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) para resguardar sua vida, para que seus direitos humanos fossem respeitados".

Naquela situação, "a Igreja sim era digna de respeito mas agora parece que a Igreja tem que submeter-se e ficar de joelhos ante o presidente da República e isso não se pode fazer por nossa própria missão", esclareceu.

Por outro lado, o Arcebispo se referiu ao primeiro vice-presidente da Assembléia Nacional, Roberto Hernández, quem afirmou recentemente que os prelados venezuelanos estão viajando ao Vaticano com o fim do obter o apoio pontifício para um golpe de estado. Trata-se de "uma das mentiras mais absolutas e o mentir da maneira mais descarada com essa desinformação", afirmou.

"A Igreja venezuelana não vai a Roma a nenhum encontro com o Santo Padre. Quem vai a Roma são os diretores do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) em reuniões regulares que têm com o Santo Padre, e desse conselho Dom Baltazar Porras, Arcebispo de Mérida, foi eleito vice-presidente. Esse é o motivo da ida a Roma; o outro é uma calúnia e uma mentira", concluiu.