A revista alemã Lateinamerika Nachrichten (Informes sobre a América Latina) está promovendo uma campanha de envio de postais ao Presidente da Assembléia Legislativa da Nicarágua, René Núñez Téllez, para que este país volte atrás a sua política pró-vida e legalize o aborto terapêutico.

Para os analistas, este novo caso de pressão européia sobre a Nicarágua constitui uma intromissão sem precedentes. No postal –que os cidadãos alemães são convidados a assinar e mandar à Embaixada da Nicarágua na Alemanha– se lê uma falaciosa mensagem sobre as numerosas mortes que supostamente a lei pró-vida causou.

A campanha se denomina "Eu decido minha vida. Sim ao Aborto Terapêutico" e o texto do postal diz: "Com grande preocupação me inteirei que na Nicarágua foi proibido o aborto terapêutico. Como resultado disso, desde outubro do ano 2006, as mulheres não podem abortar embora tenham sido violadas sexualmente ou sua vida se encontre em perigo devido a complicações da gravidez. Até julho de 2007 esta proibição já causou a morte de 54 mulheres".

"A penalização do aborto terapêutico é um atentado à vida da mulher e ocasiona sofrimento tanto físico como espiritual. Além disso é uma violação dos direitos humanos. Por tal motivo, solicito urgentemente que como Presidente da Assembléia Nacional se declare a favor da restauração do aborto terapêutico, tal e como era possível durante mais de 110 anos", adiciona.

Segundo Carlos Polo, diretor para a América Latina do Population Research Institute, esta campanha, protagonizada por um pequeno setor da sociedade alemã, "é uma intromissão intolerável de cidadãos alemães em um país que não é o seu" e "o texto da postal amostra um grande desconhecimento do que se vem discutindo na Nicarágua e o que preocupa aos nicaragüenses".

"Nenhum congressista nicaragüense nem outra autoridade incluiu os casos de violação no chamado aborto ‘terapêutico’ nem pretendeu em nenhum momento elevá-lo à categoria de direito humano. Esse discurso só pertence a este grupo de alemães", adverte Polo.

Do mesmo modo, Polo esclarece que "a postal entrevista a morte de 54 mulheres pela penalização do aborto, cifra totalmente arbitrária e sem sustento como foi explicado recentemente pela Ministra da Saúde da Nicarágua".

"A campanha destes alemães se intitula ‘Eu decido minha vida’. Terei que escrever para dizer que estaria perfeito que a decidam mas em seu próprio país não no alheio", adiciona e lamenta que "a única razão que ampara este tipo de pressão é que um reduzido grupo de alemães se considera superior aos nicaragüenses. Recordemos que outro grupo de alemães parecido matou seis milhões de judeus quase pela mesma razão".