O Arcebispo de Mérida, Dom Baltazar Porras Cardozo, advertiu que a Venezuela vai para um regime onde o poder se concentra cada vez mais na figura presidencial, com um projeto de reforma constitucional que vai à linha de governos totalitários como o cubano ou o chileno de Augusto Pinochet.

O Prelado recordou que a democracia se apóia no equilíbrio de poderes e indicou que embora o Presidente Hugo Chávez o negue, muitas propostas em sua reforma constitucional vão na linha do marxismo-leninismo, "e o que é ainda mais perigoso, que vão à linha de constituições e de regimes autoritários e pouco participativos, como a Constituição chilena de Augusto Pinochet" e a cubana, "cujas coincidências não se podem apresentar certamente como um modelo de virtudes democráticas".

Nesse sentido, em entrevista ao jornal "La Verdad", Dom Porras informou que a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) fez consultas sobre os alcances do texto apresentado pelo Chávez à Assembléia Nacional, e anunciou que em seu momento os bispos terão alguma reunião para dar "uma opinião ponderada".

O Arcebispo esclareceu que os pontos de vista das diversas instâncias da Igreja não devem ser tomados "como uma opinião de tipo político", como se fosse um apoio ou rechaço "a uma proposta que vem de cima", já que o que se busca é integrar as diferentes posições que existem "em uma sociedade cada dia mais complexa" e refletir o que os venezuelanos querem "para seus filhos, para o dia de hoje e o de manhã".

Entretanto, recordou que já em julho a CEV advertiu que o fato de que não se levasse em conta setores não afins ao Governo, "arroja sérias dúvidas sobre o aspecto democrático da reforma constitucional". A urgência com que quer fazer a reforma e o querer que seja votada em bloco, assinalou, "supõe a falta real de participação que não só é expressar a opinião", mas também estas sejam recolhidas.

"Não há e não se vê até o momento nenhuma abertura para que setores diversos da população venezuelana, que não sejam só os que são convocados do oficialismo para dizer amém a tudo o que ali se apresenta, reflitam de verdade a configuração plural de uma sociedade como a venezuelana. Eu insisto em que o que está proposto aqui não é uma reforma, não é uma maquiagem, mas sim uma mudança em profundidade da própria sociedade venezuelana", expressou Dom Baltazar Porras.

Durante a entrevista, o Prelado também pediu ao Governo para "solucionar os problemas de casa" antes de repartir "dinheiro venezuelano para fora".

Finalmente, ante a pergunta de que segundo Chávez o objetivo da reforma é obter "a maior felicidade dos venezuelanos", o Arcebispo de Mérida recordou que "a felicidade não se constrói mediante a imposição nem mediante as maiorias. A fraternidade, a concordância dos diversos setores da sociedade só se constrói através do diálogo e do trabalho, não se constrói mediante a imposição ideológica de um sistema mas sim com o respeito à pluralidade".

A entrevista completa, em espanhol, se encontra em http://www.laverdad.com/detallenew.asp?mostrar=9&idcat=1&idnot=60712