O Arcebispo de Buenos Aires, Cardeal Jorge Bergoglio, pediu aos catequistas portenhos quebrar seus esquemas, não ceder à tentação de reduzir seu campo de ação ao intra-eclesial e "recomeçar desde Cristo" sua tarefa evangelizadora.

Através de uma carta, o Cardeal reconheceu as "enormes dificuldades que apresenta a tarefa" de evangelizar em "tempos de mudanças", e recordou aos catequistas que "apenas pondo o olhar no Senhor poderemos cumprir sua missão e adotar suas atitudes".

Para o Cardeal, "uma das contribuições mais lúcidas da recente Assembléia de Aparecida foi tomar consciência de que possivelmente o perigo maior da Igreja não é ter que buscar fora mas sim dentro de seus próprios filhos; na eterna e sutil tentação da defesa e fechamento para estar protegidos e seguros".

Segundo o Cardeal Bergoglio, o primeiro desafio dos catequistas hoje é centrar-se em Cristo para recomeçar n'Ele evitando a tentação de "acreditar que seu âmbito de ação se reduz ao intra-eclesial, e os leve a estar muito em torno do templo e ao átrio".

"Quando nossas palavras, nosso horizonte, têm a perspectiva do fechamento e do pequeno mundo, não tem que nos assombrar que nossa catequese perca a força do Kerigma e se transforme em ensino insípido de doutrina, em comunicação frustrante de normas morais, em experiência exaustiva de estar semeando inutilmente", advertiu.

O Cardeal recordou que "recomeçar desde Cristo é concretamente imitar ao Mestre Bom, ao único que tem Palavra de Vida Eterna e sair uma ou mil vezes aos caminhos, em busca da pessoa em suas mais diversas situações".

Do mesmo modo, assinalou que este "recomeçar a partir Cristo", implica "cuidar da oração em meio de uma cultura agressivamente pagã, para que a alma não se enrugue, o coração não perca seu calor e a ação não se deixe invadir pela pusilanimidade".

"Na vida de todo cristão de todo discípulo, de todo catequista, não falta à experiência de deserto, de purificação interior, de noite escura, de obediência da fé, como a que viveu nosso pai Abraão. Mas aí também está a raiz do discipulado. Os cansaços do caminho não podem acovardar e deter nossos passos porque equivaleria a paralisar a vida", adicionou.

O Cardeal Bergoglio convidou os catequistas a "deixarem-se desinstalar para não aferrar-se ao já adquirido, ao seguro, ao de sempre" e "supõe não ter medo à periferia", "sair de seus esquemas" mas manter "em todo momento a experiência de que Ele é nosso único pastor, nosso único centro".

Depois de agradecer a entrega dos catequistas, o Cardeal insistiu em pedir para deixar "a caverna, abre portas, anime-se a transitar caminhos novos. A fidelidade não é repetição. Buenos Aires necessita que não deixe de pedir ao Senhor a criatividade e audácia para atravessar muralhas e esquemas que possibilitem, como naquela gesta de Paulo e Barnabé, a alegria de muitos irmãos".