Em uma entrevista exclusiva para o jornal espanhol 'La Razón', o superior geral dos "lefebvrianos", Dom Bernard Fellay, considerou que o Motu Proprio do Papa Bento XVI que permite o uso do Missal de 1962 como forma extraordinária de celebração da Missa "não é um passo, mas sim um salto" de peso histórico.

O bispo cismático conversou com o jornalista Vittorio Messori da casa geral da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X, que agrupa os seguidores de Marcel Lefebvre e atualmente conta com 481 sacerdotes, 90 irmãos laicos, 206 religiosas, 6 seminários, 117 priorados, 82 colégios, 6 institutos universitários, 450 lugares de culto em 62 países do mundo, e cerca de meio milhão de seguidores.

Conforme explica 'La Razón', as reações de Fellay são "mais positivas do que poderia prever qualquer que conheça a complexidade do dossiê aberto há decênios com a Santa Sé: a Missa não só em latim, mas também segundo o antigo ritual, é sempre a bandeira lefebvriana mais significativa. Mas os próprios dissidentes insistiram sempre no fato de que a nova liturgia eucarística não é mais que a expressão de uma orientação em muitos pontos inaceitável, assumida depois do Vaticano II pela Igreja Católica. Assim, em certos ambientes tradicionalistas, freqüentemente tem dito que um decreto como o aprovado pelo Papa Ratzinger não só não teria sido suficiente, mas também de alguma forma poderia ser inclusive desviador, reforçando os equívocos".

Entretanto, Fellay considera que "este é um dia verdadeiramente histórico. Expressamos a Bento XVI nossa profunda gratidão. Seu documento é um presente da Graça. Não é um passo, é um salto na boa direção".

Do mesmo modo, sustenta que a "normalização" da Missa "que não é a de São Pio V, mas sim da Igreja de sempre", é "um ato de justiça, é uma ajuda sobrenatural extraordinária em um momento grave de crise eclesiástica".

"A reafirmação por parte do Santo Padre da continuidade do Vaticano II e da missa nova com a Tradição constante da Igreja nos empurra a continuar com a discussão doutrinal. ‘Lex orandi, lex credendi’: se crê como se reza. E agora se reconhece que, na missa de sempre se reza ‘adequadamente’", indica.

"Este documento é uma etapa fundamental em um percurso que agora poderá acelerar-se, esperemos que com perspectivas reconfortantes, também na questão da excomunhão", espera Fellay.

Segundo Messori, "a estratégia da recuperação da Tradição, iniciada por João Paulo II, embora constrangido à obrigada excomunhão, toma com Bento XVI um êxito notável, na perspectiva do antigo projeto ratzingeriano de uma ‘reforma da reforma’ e não só daquela litúrgica".