Em uma entrevista concedida a Claudia Korol, da "Agência de Informação Frei Tito para América Latina", o frade dominicano brasileiro Alberto Libanio Christo, conhecido como "Frei Betto", proclamou sua admiração por Fidel Castro e pelo "pai" do terrorismo urbano Carlos Marighella, uma vez que reconheceu com entusiasmo sua participação na guerrilha marxista durante o governo militar do Brasil.

Na surpreendente entrevista, Frei Betto confessa, 22 anos depois de publicar seu livro elogiando Castro "Fidel e a Religião", que "eu desde muito moço tinha admiração pela Revolução Cubana, porque sou da geração que tinha quase 20 anos nos primeiros anos da revolução. Uma geração que seguiu a guerra do Vietnam, os Beatles… Para mim Cuba era um paradigma. Depois que entrei na luta armada contra a ditadura militar no Brasil, quando fui preso, escutávamos na cela a Radio Havana Cuba, para saber notícias do Brasil".

Ante a pergunta de que impressão tem sobre Fidel e sua personalidade, o dominicano brasileiro assinala que "Fidel é um homem exemplo de homem novo, de revolucionário, de uma pessoa que dedicou sua vida a libertar um povo e a outros povos também, por toda sua solidariedade com os países pobres do mundo".

"Meu sonho é que todos os cubanos e todos nós, revolucionários, militantes de esquerda, consigamos ser um dia como Fidel", adiciona Frei Betto, e assinala que "Fidel se adiantou na história. vai ser sempre uma pessoa que vai servir de exemplo, como Che, que deu sua vida pelos mais pobres".

"Eu penso isso: que Fidel criou uma sociedade socialista que se mantém, porque soube cultivar aqui valores muito originais", assinala também na entrevista.

Para o religioso brasileiro, "Cuba tem professores e médicos em mais de 40 países do mundo. Acredito que isto cria um exemplo e uma esperança para nós, que queremos construir um novo projeto civilizador (sic)".

E insiste: "Fidel foi uma figura preponderante. vai deixar um exemplo. E aí se trata que a revolução saiba cultivar esta herança, este exemplo, como fazemos hoje com Che (Ernesto Guevara)".

Guerrilha Urbana

Na extensa entrevista, Frei Betto se refere também a seu livro "Batismo de Sangue" que foi recentemente levado a cinema no Brasil, e no qual "quis recordar, visitar todos os lugares de um grupo de frades dominicanos que no Brasil se uniram à 'Ação Liberadora Nacional' de Carlos Marighella, um grande revolucionário, e participamos como grupo de apoio à guerrilha urbana".

"Batismo de Sangue –explica o próprio frade dominicano– é uma narração detalhada de todos os feitos que envolveram os dominicanos. Inclusive da morte de Marighella, a maneira como foi morto, e o drama da tortura de Frei Tito, que acabou suicidando-se para evitar o desespero".

Na entrevista, Frei Betto se detém a elogiar longamente Marighella, o revolucionário marxista autor do "Manual do Guerrilheiro Urbano", que serviu como guia de treinamento de organizações terroristas no mundo, do ETA na Espanha e as "Brigadas Vermelhas" na Itália, até os fundamentalistas islâmicos do Al Qaeda.

O manual escrito por Marighella inclui passagens como esta: "O terrorismo é uma ação que usualmente envolve plantar uma bomba ou uma explosão de fogo de grande poder destrutivo, a qual é capaz de produzir perdas irreparáveis ao inimigo". "Embora o terrorismo geralmente envolve uma explosão, há casos nos quais se pode levar a cabo uma execução (assassinato) e a queima sistemática de instalações, propriedades, e depósitos... É essencial assinalar a importância do fogo e da construção de bombas incendiárias como bombas de gasolina na técnica de terrorismo revolucionário. O terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode abandonar".

Este texto e outros onde se explica detalhadamente como cometer assassinatos de pessoas inocentes, não impede Frei Betto de expressar-se elogiando Marighella.

"Marighella –diz o frade– rompeu com o partido depois que veio a ditadura de 64, porque o partido optou por uma via pacífica, uma via não armada, e Marighella, desde meu ponto de vista com muito acerto, viu que não era possível nesse momento uma via não pacífica, quando havia uma repressão brutal, e a única resposta tinham que ser as armas. Claro que eu tenho orgulho desse momento, de ter lutado a seu lado, de ter participado de sua organização revolucionária".

Frei Betto diz mais ainda de Marighella e sua guerrilha: "Reconheço que tínhamos tudo. Tínhamos ideologia, tínhamos coragem, tínhamos idealismo, tínhamos dinheiro das expropriações bancárias (roubos a bancos). O único que não tínhamos era um detalhe, mas esse detalhe é essencial: não tínhamos o apoio do povo".

A Teologia da libertação

Perguntado sobre a teologia da libertação, Frei Betto assinala que esta "está disseminada pela Igreja"; mas destaca que "do ponto de vista doutrinal e hierárquico há uma vaticanização da Igreja Católica, um controle cada vez maior. Cada vez temos menos uma Igreja com cara de nossos povos, com cara mestiça. Temos uma Igreja cada vez mais europeizada, do ponto de vista de sua estrutura de poder".

O dominicano, entretanto, considera que a "esperança" está nas "comunidades de base" que "seguem com outra visão, que não é a visão destes bispos europeizados". "As comunidades eclesiais de base seguem sendo elementos de fermentação de uma consciência crítica do mundo, do sistema, e um lugar de formação de quadros", conclui.