Domingo de Ramos: Bendito o que vem em nome do Senhor!
REDAÇÃO CENTRAL, 05/04/2020 (ACI).- Neste dia 5 de abril, a Igreja celebra o Domingo de Ramos, dando início à Semana Santa. O Evangelho do dia corresponde à leitura de Mateus. O primeiro (Mt 211-11) narra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, já o segundo (Mt 2711-54) traz a narração da Paixão de Cristo.
A seguir, leia os Evangelhos deste Domingo de Ramos:
Mt 21,1-11
Naquele tempo, 1Jesus e seus discípulos aproximaram-se de Jerusalém e chegaram a Betfagé, no monte das Oliveiras. Então Jesus enviou dois discípulos, 2dizendo-lhes: “Ide até o povoado que está ali na frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada, e com ela um jumentinho. Desamarrai-a e trazei-os a mim! 3Se alguém vos disser alguma coisa, direis: ‘O Senhor precisa deles’, mas logo os devolverá’”.
4Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo profeta: 5Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta”.
6Então os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes havia mandado. 7Trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram sobre eles suas vestes, e Jesus montou. 8A numerosa multidão estendeu suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos das árvores, e os espalhavam pelo caminho. 9As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!”
10Quando Jesus entrou em Jerusalém a cidade inteira se agitou, e diziam: “Quem é este homem?” 11E as multidões respondiam: “Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia”.
Mt 27,11-54
Narrador 1: Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, segundo Mateus: Naquele tempo, 11Jesus foi posto diante de Pôncio Pilatos, e este o interrogou:
Leitor: “Tu és o rei dos judeus?”
Narrador 1: Jesus declarou:
— “É como dizes”.
Narrador 1: 12E nada respondeu, quando foi acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos. 13Então Pilatos perguntou:
Leitor: “Não estás ouvindo de quanta coisa eles te acusam?”
Narrador 1: 14Mas Jesus não respondeu uma só palavra, e o governador ficou muito impressionado. 15Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiro que a multidão quisesse. 16Naquela ocasião, tinham um prisioneiro famoso, chamado Barrabás. 17Então Pilatos perguntou à multidão reunida:
Leitor: “Quem vós quereis que eu solte: Barrabás, ou Jesus, a quem chamam de Cristo?”
Narrador 2: 18Pilatos bem sabia que eles haviam entregado Jesus por inveja. 19Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer a ele:
Mulher: “Não te envolvas com esse justo, porque esta noite, em sonho, sofri muito por causa dele”.
Narrador 2: 20Porém, os sumos sacerdotes e os anciãos convenceram as multidões para que pedissem Barrabás e que fizessem Jesus morrer. 21O governador tornou a perguntar:
Leitor: “Qual dos dois quereis que eu solte?”
Narrador 2: Eles gritaram:
— “Barrabás”.
Narrador 2: 22Pilatos perguntou:
Leitor: “Que farei com Jesus, que chamam de Cristo?”
Narrador 2: Todos gritaram:
— “Seja crucificado!”
Narrador 2: 23Pilatos falou:
Leitor: “Mas, que mal ele fez?”
Narrador 2: Eles, porém, gritaram com mais força:
— “Seja crucificado!”
Narrador 1: 24Pilatos viu que nada conseguia e que poderia haver uma revolta. Então mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse:
Leitor: “Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. Este é um problema vosso!”
Narrador 1: 25O povo todo respondeu:
— “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre os nossos filhos”.
Narrador 1: 26Então Pilatos soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus, e entregou-o para ser crucificado. 27Em seguida, os soldados de Pilatos levaram Jesus ao palácio do governador, e reuniram toda a tropa em volta dele.
Leitor: 28Tiraram sua roupa e o vestiram com um manto vermelho;
Narrador 1: 29depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em sua cabeça, e uma vara em sua mão direita. Então se ajoelharam diante de Jesus e zombaram, dizendo:
— “Salve, rei dos judeus!”
Narrador 2: 30Cuspiram nele e, pegando uma vara, bateram na sua cabeça. 31Depois de zombar dele, tiraram-lhe o manto vermelho e, de novo, o vestiram com suas próprias roupas. Daí o levaram para crucificar. 32Quando saíam, encontraram um homem chamado Simão, da cidade de Cirene, e o obrigaram a carregar a cruz de Jesus. 33E chegaram a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer “lugar da caveira”.
Narrador 1: 34Ali deram vinho misturado com fel para Jesus beber. Ele provou, mas não quis beber. 35Depois de o crucificarem, fizeram um sorteio, repartindo entre si as suas vestes. 36E ficaram ali sentados, montando guarda. 37Acima da cabeça de Jesus puseram o motivo da sua condenação:
— “Este é Jesus, o Rei dos Judeus”.
Narrador 1: 38Com ele também crucificaram dois ladrões, um à direita e outro à esquerda de Jesus. 39As pessoas que passavam por ali o insultavam, balançando a cabeça e dizendo:
Leitor: 40”Tu, que ias destruir o Templo e construí-lo de novo em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!”
Narrador 2: 41Do mesmo modo, os sumos sacerdotes, junto com os mestres da Lei e os anciãos, também zombavam de Jesus:
Leitor: 42"A outros salvou... a si mesmo não pode salvar! É Rei de Israel... Desça agora da cruz! e acreditaremos nele. 43Confiou em Deus; que o livre agora, se é que Deus o ama! Já que ele disse: Eu sou o Filho de Deus”.
Narrador 1: 44Do mesmo modo, também os dois ladrões que foram crucificados com Jesus o insultavam. 45Desde o meio-dia até as três horas da tarde, houve escuridão sobre toda a terra. 46Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito:
— “Eli, Eli, lamá sabactâni?”
Narrador 1: Que quer dizer:
— “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
Narrador 1: 47Alguns dos que ali estavam, ouvindo-o, disseram:
— “Ele está chamando Elias!”
Narrador 1: 48E logo um deles, correndo, pegou uma esponja, ensopou-a em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara, e lhe deu para beber. 49Outros, porém, disseram:
— “Deixa, vamos ver se Elias vem salvá-lo!”
Narrador 1: 50Então Jesus deu outra vez um forte grito e entregou o espírito. (Todos se ajoelham)
Narrador 2: 51E eis que a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e as pedras se partiram. 52Os túmulos se abriram e muito corpos dos santos falecidos ressuscitaram! 53Saindo dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, apareceram na Cidade Santa e foram vistos por muitas pessoas. 54O oficial e os soldados que estavam com ele guardando Jesus, ao notarem o terremoto e tudo que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram:
— “Ele era mesmo Filho de Deus!”
9 coisas que deve saber sobre o Domingo de Ramos
REDAÇÃO CENTRAL, 05/04/2020 (ACI).- O Domingo de Ramos, celebrado neste dia 5 de abril, marca o início da Semana Santa comemorando não um, mas dois acontecimentos muito significativos na vida de Cristo.
Aqui estão as 9 coisas que você precisa saber sobre essa data.
1. Este dia é chamado de "Domingo de Ramos" ou "Domingo da Paixão"
O primeiro nome vem do fato de se comemorar a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando a multidão o recebeu com ramos de palmas (João 12, 13).
O segundo nome provém do relato da Paixão que é lido neste domingo, porque de outro modo não seria lido em um domingo, já que no próximo a leitura tratará da Ressurreição.
Segundo a carta circular do Vaticano sobre “A Preparação e Celebração das Festas Pascais” de 1988, o Domingo de Ramos "une num todo o triunfo real de Cristo e o anúncio da paixão. Na celebração e na catequese deste dia sejam postos em evidência estes dois aspectos do mistério pascal".
2. Ocorre uma procissão antes da Missa
A procissão pode ocorrer apenas uma vez, antes da Missa. Pode ser tanto no sábado, como no domingo.
"Desde a antiguidade se comemora a entrada do Senhor em Jerusalém com a procissão solene, com a qual os cristãos celebram este evento, imitando as aclamações e os gestos das crianças hebreias, que foram ao encontro do Senhor com o canto do Hosana", detalha a carta das celebrações da Páscoa.
3. Pode-se levar palmas ou outros tipos de plantas na procissão
Não é necessário usar folhas de palmeira na procissão, também podem utilizar outros tipos de plantas locais, como oliveiras, salgueiros, abetos ou outras árvores.
De acordo com o Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia: "Os fiéis gostam de conservar em suas casas, e às vezes no local de trabalho, os ramos de oliveira ou de outras árvores, que foram abençoados e levados na procissão".
4. Os fiéis devem ser instruídos sobre a celebração
De acordo com o Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia, "os fiéis devem ser instruídos sobre o significado desta celebração para que possam compreender seu significado".
"Deve ser lembrado, oportunamente, que o importante é a participação na procissão e não só a obtenção das folhas de palmeira ou de oliveira", que também não devem ser conservadas "como amuletos, nem por razões terapêuticas ou mágicas para afastar os maus espíritos ou para evitar os danos que causam nos campos ou nas casas", indica o texto.
5. Jesus reivindica o direito dos reis na entrada triunfal em Jerusalém
O Papa Emérito Bento XVI explica em seu livro "Jesus de Nazaré: Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição" que Jesus Cristo reivindicou o direito régio, conhecido em toda a antiguidade, da requisição de meios de transporte particulares.
O uso de um animal (o burro) sobre o qual ninguém havia montado é mais um indicador do direito régio. Jesus queria que seu caminho e suas ações fossem compreendidos com base nas promessas do Antigo Testamento que nele se tornaram realidade.
"Ao mesmo tempo, esse atrelamento a Zacarias 9,9 exclui uma interpretação ‘zelota’ da sua realeza: Jesus não Se apoia na violência, não começa uma insurreição militar contra Roma. O seu poder é de caráter diferente; é na pobreza de Deus, na paz de Deus que Ele individualiza o único poder salvador", detalha o livro.
6. Os peregrinos reconheceram Jesus como seu rei messiânico
Bento XVI também assinala que o fato de os peregrinos estenderem suas capas no chão para que Jesus caminhe também "pertence à tradição da realeza israelita (2 Reis 9, 13)".
"A ação realizada pelos discípulos é um gesto de entronização na tradição da realeza davídica e, consequentemente, na esperança messiânica", diz o texto.
Os peregrinos, continua, "cortam ramos das árvores e gritam palavras do Salmo 118 – palavras de oração da liturgia dos peregrinos de Israel – que nos seus lábios se tornam uma proclamação messiânica: ‘Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem do nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!’ (Mc 11, 9-10; cf. Salmos 118, 26)".
7. "Hosana" é um grito de alegria e uma oração profética
No tempo de Jesus essa palavra tinha significado messiânico. Na aclamação de Hosana se expressam as emoções dos peregrinos que acompanham Jesus e seus discípulos: o jubiloso louvor a Deus no momento da entrada processional, a esperança de que tivesse chegado a hora do Messias.
Ao mesmo tempo, era uma oração que indicava que o reino davídico e, portanto, o reino de Deus sobre Israel, seria restaurado.
8. A multidão que aplaudiu a chegada de Jesus não é a mesma que exigiu sua crucificação
Em seu livro, Bento XVI afirma que, os três Evangelhos sinóticos, assim como o de São João, mostram claramente que aqueles que aplaudiram Jesus na sua entrada em Jerusalém não eram seus habitantes, mas as multidões que acompanhavam Jesus e entraram na Cidade Santa com ele.
Este ponto é mais claro no relato de Mateus, na passagem depois do Hosana dirigido a Jesus: "E entrando em Jerusalém, a cidade inteira agitou-se e dizia: ‘Quem é este?’. A isso as multidões respondiam: ‘Este é o profeta Jesus, o de Nazaré de Galileia’" (Mt 21, 10-11).
As pessoas tinham escutado falar do profeta de Nazaré, mas isso não parecia importar para Jerusalém, e as pessoas de lá não o conheciam.
9. O relato da Paixão desfruta de uma solenidade especial na liturgia
A Carta das Celebrações das Festas Pascais diz o seguinte no número 33:
"É aconselhável que seja cantada ou lida segundo o modo tradicional, isto é, por três pessoas que representam a parte de Cristo, do cronista e do povo. A Passio é cantada ou lida pelos diáconos ou sacerdotes ou, na falta deles, pelos leitores; neste caso, a parte de Cristo deve ser reservada ao sacerdote”.
A proclamação da paixão é feita sem os portadores de castiçais, sem incenso, sem a saudação ao povo e sem o toque no livro; só os diáconos pedem a bênção do sacerdote.
“Para o bem espiritual dos fiéis, é oportuno que a história da Paixão seja lida integralmente sem omitir as leituras que a precedem".
5 conselhos para viver bem a Semana Santa
REDAÇÃO CENTRAL, 05/04/2020 (ACI).- Como viver bem a Semana Santa? Pe. Gianfranco Castellanos Melzi, Capelão da Universidade Católica San Pablo de Arequipa, no Peru, compartilha estes 5 conselhos para que todo cristão possa acompanhar cada passo da liturgia deste tempo.
1. Diminuir as distrações: O sacerdote explicou que como são dias que constituem um caminho que vai do sofrimento e dor à alegria, é importante “reduzir tudo aquilo que impeça a reflexão e recordar o motivo pelo qual é feriado”.
2. Participar das liturgias: "Não há motivo para não participar de cada rito", assegurou Pe. Castellanos, que argumentou que todos os lugares, todas as igrejas realizam as celebrações da Semana Santa.
3. Confissão: Também recordou que a Igreja Católica recomenda receber a comunhão pelo menos uma vez por ano na Páscoa, então, "seria importante realizar uma boa confissão durante a Semana Santa para poder se aproximar da comunhão".
4. Jejum: Da mesma forma, a Igreja sugere, "com um sentido penitencial", a prática do jejum e da abstinência dois dias por ano: Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa.
5. Alegria Pascal: Finalmente, Pe. Castellanos afirmou que "os cristãos devem se cumprimentar no dia da Páscoa como no Natal".
A saudação pascal é uma tradição que "não deve ser perdida", pois é "a alegria de saber que Jesus venceu a morte ressuscitando, cumprindo com sua promessa de salvação", concluiu o sacerdote.
Semana Santa 2020: Homilia do Papa Francisco na Missa do Domingo de Ramos
Vaticano, 05/04/2020 (ACI).- O Papa Francisco presidiu neste dia 5 de abril a Missa do Domingo de Ramos no interior da Basílica de São Pedro do Vaticano, e não na Praça como ocorre tradicionalmente, devido à pandemia do coronavírus COVID-19.
Em sua homilia, o Pontífice recordou que “o Senhor serviu-nos até ao ponto de experimentar as situações mais dolorosas para quem ama: a traição e o abandono”. E acrescentou que “Jesus sofreu a traição do discípulo que O vendeu e do discípulo que O renegou”.
Por isso, o Santo Padre assinalou que, “quando nos sentimos encurralados, quando nos encontramos num beco sem saída, sem luz nem via de saída, quando parece que nem Deus responde, lembremo-nos que não estamos sozinhos. Jesus experimentou o abandono total, a situação mais estranha para Ele, a fim de ser em tudo solidário conosco. Fê-lo por mim, por ti, por todos nós; fê-lo para nos dizer: ‘Não temas! Não estás sozinho. Experimentei toda a tua desolação para estar sempre ao teu lado’”.
“Hoje, no drama da pandemia, perante tantas certezas que se desmoronam, diante de tantas expetativas traídas, no sentido de abandono que nos aperta o coração, Jesus diz a cada um: ‘Coragem! Abre o coração ao meu amor. Sentirás a consolação de Deus, que te sustenta’”.
A seguir, o texto completo da homilia pronunciada pelo Papa Francisco:
Jesus «esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo» (Flp 2, 7). Deixemo-nos introduzir por estas palavras do apóstolo Paulo nos dias da Semana Santa em que a Palavra de Deus, quase como um refrão, nos mostra Jesus como servo: na Quinta-feira Santa, é o servo que lava os pés aos discípulos; na Sexta-feira Santa, é apresentado como o servo sofredor e vitorioso (cf. Is 52, 13); e, já amanhã, ouvimos Isaías profetizar acerca d’Ele: «Eis o meu servo que Eu amparo» (42, 1). Deus salvou-nos, servindo-nos. Geralmente pensamos que somos nós que servimos a Deus. Mas não; foi Ele que nos serviu gratuitamente, porque nos amou primeiro. É difícil amar, sem ser amado; e é ainda mais difícil servir, se não nos deixamos servir por Deus.
Uma pergunta: e como nos serviu o Senhor? Dando a sua vida por nós. Somos queridos a seus olhos, mas custamos-Lhe caro. Santa Ângela de Foligno testemunhou que ouviu de Jesus estas palavras: «Amar-te não foi uma brincadeira». O seu amor levou-O a sacrificar-Se por nós, a tomar sobre Si todo o nosso mal. É algo que nos deixa sem palavras: Deus salvou-nos, deixando que o nosso mal se encarniçasse sobre Ele: sem reagir, somente com a humildade, paciência e obediência do servo, exclusivamente com a força do amor. E o Pai sustentou o serviço de Jesus: não desbaratou o mal que se abatia sobre Ele, mas sustentou o seu sofrimento, para que o nosso mal fosse vencido apenas com o bem, para que fosse completamente atravessado pelo amor. Em toda a sua profundidade.
O Senhor serviu-nos até ao ponto de experimentar as situações mais dolorosas para quem ama: a traição e o abandono.
A traição. Jesus sofreu a traição do discípulo que O vendeu e do discípulo que O renegou. Foi traído pela multidão que primeiro clamava hosana, e depois «seja crucificado!» (Mt 27, 22). Foi traído pela instituição religiosa que O condenou injustamente, e pela instituição política que lavou as mãos. Pensemos nas traições, pequenas ou grandes, que sofremos na vida. É terrível quando se descobre que a confiança deposta foi burlada. No fundo do coração, nasce uma tal decepção que a vida parece deixar de ter sentido. É assim, porque nascemos para ser amados e para amar, e o mais doloroso é ser traído por quem nos prometera ser leal e solidário. Não podemos sequer imaginar como terá sido doloroso para Deus, que é amor.
Olhemos dentro nós mesmos; se formos sinceros para conosco, veremos as nossas infidelidades. Tanta falsidade, hipocrisia e fingimento! Tantas boas intenções traídas! Tantas promessas quebradas! Tantos propósitos esmorecidos! O Senhor conhece melhor do que nós o nosso coração; sabe como somos fracos e inconstantes, quantas vezes caímos, quanto nos custa levantar e como é difícil sanar certas feridas. E que fez Ele para nos ajudar, para nos servir? Aquilo que dissera através do profeta: «Curarei a sua infidelidade, amá-los-ei de todo o coração» (Os 14, 5). Curou-nos, tomando sobre Si as nossas infidelidades, removendo as nossas traições. Assim nós, em vez de desanimarmos com medo de não ser capazes, podemos levantar o olhar para o Crucificado, receber o seu abraço e dizer: «Olha! A minha infidelidade está ali. Fostes Vós, Jesus, que pegastes nela. Abris-me os braços, servis-me com o vosso amor, continuais a amparar-me... Assim poderei seguir em frente!»
O abandono. Segundo o Evangelho de hoje, na cruz, Jesus diz uma frase, uma apenas: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mt 27, 46). É uma frase impressionante. Jesus sofrera o abandono dos seus, que fugiram. Restava-Lhe, porém, o Pai. Agora, no abismo da solidão, pela primeira vez designa-O pelo nome genérico de «Deus». E clama, «com voz forte», «porquê», o «porquê» mais dilacerante: «Porque Me abandonaste também Tu?» Na realidade, trata-se das palavras de um Salmo (cf. 22, 2), que nos dizem como Jesus levou à oração inclusive a extrema desolação. Mas, a verdade é que Ele a experimentou: experimentou o maior abandono, que os Evangelhos atestam reproduzindo as suas palavras originais.
Porquê tudo isto? Uma vez mais… por nós, para servir-nos. Porque quando nos sentimos encurralados, quando nos encontramos num beco sem saída, sem luz nem via de saída, quando parece que nem Deus responde, lembremo-nos que não estamos sozinhos. Jesus experimentou o abandono total, a situação mais estranha para Ele, a fim de ser em tudo solidário conosco. Fê-lo por mim, por ti, por todos nós; fê-lo para nos dizer: «Não temas! Não estás sozinho. Experimentei toda a tua desolação para estar sempre ao teu lado». Eis o ponto até onde nos serviu Jesus, descendo ao abismo dos nossos sofrimentos mais atrozes, até à traição e ao abandono. Hoje, no drama da pandemia, perante tantas certezas que se desmoronam, diante de tantas expetativas traídas, no sentido de abandono que nos aperta o coração, Jesus diz a cada um: «Coragem! Abre o coração ao meu amor. Sentirás a consolação de Deus, que te sustenta».
Queridos irmãos e irmãs, que podemos fazer vendo Deus que nos serviu até experimentar a traição e o abandono? Podemos não trair aquilo para que fomos criados, nem abandonar o que conta. Estamos no mundo, para amar a Ele e aos outros: o resto passa, isto permanece. O drama que estamos a atravessar neste período impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor. Então, nestes dias da Semana Santa, em casa, permaneçamos diante do Crucificado – contemplai, contemplai o Crucificado! –, medida do amor de Deus por nós. Diante de Deus, que nos serve até dar a vida, contemplando o Crucificado peçamos a graça de viver para servir. Procuremos contatar quem sofre, quem está sozinho e necessitado. Não pensemos só naquilo que nos falta; pensemos no bem que podemos fazer.
Eis o meu servo que Eu sustento. O Pai, que sustentou Jesus na Paixão, anima-nos, também a nós, no serviço. É certo que amar, rezar, perdoar, cuidar dos outros, tanto em família como na sociedade, pode custar; pode parecer uma via-sacra. Mas a senda do serviço é o caminho vencedor, que nos salvou e salva, que nos salva a vida. Gostaria de o dizer especialmente aos jovens, neste Dia que, há 35 anos, lhes é dedicado. Queridos amigos, olhai para os verdadeiros heróis que vêm à luz nestes dias: não são aqueles que têm fama, dinheiro e sucesso, mas aqueles que se oferecem para servir os outros. Senti-vos chamados a arriscar a vida. Não tenhais medo de a gastar por Deus e pelos outros! Lucrareis… Porque a vida é um dom que se recebe doando-se. E porque a maior alegria é dizer sim ao amor, sem se nem mas... Dizer sim ao amor, sem se nem mas, como fez Jesus por nós.
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Papa no Domingo de Ramos: Abre o coração a Deus, sentirá sua consolação que sustenta
Vaticano, 05/04/2020 (ACI).- Na Missa celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, neste Domingo de Ramos, o Papa Francisco reconheceu que, diante do drama da pandemia do coronavírus, COVID-19, Jesus dia a cada um: “Coragem! Abre o coração ao meu amor. Sentirás a consolação de Deus, que te sustenta”.
“Hoje, no drama da pandemia, perante tantas certezas que se desmoronam, diante de tantas expetativas traídas, no sentido de abandono que nos aperta o coração, Jesus diz a cada um: ‘Coragem! Abre o coração ao meu amor. Sentirás a consolação de Deus, que te sustenta’”, incentivou o Papa.
O Santo Padre presidiu neste dia 5 de abril a Eucaristia no interior da Basílica de São Pedro, e não na Praça como ocorre tradicionalmente, devido às medidas adotadas pelas autoridades italianas frente à pandemia do coronavírus, COVID-19.
Nesta cerimônia que deu início à Semana Santa, o Papa Francisco caminhou da sacristia até o altar da cátedra, onde realizou o tradicional rito do Domingo de Ramos. Neste local, o Papa abençoou simbolicamente alguns ramos de oliveiras que em vasos que estavam colocados em frente ao altar, mas não foi realizada nenhuma procissão com ramos, nem houve procissão no ofertório.
Além disso, o Santo Padre abençoou com o incenso as duas imagens que estiveram presentes no momento extraordinário da Bênção Urbi et Orbi do dia 27 de março: o ícone bizantina da Salus Populi Romani e o Crucifixo de São Marcelo.
Imitar o exemplo de serviço de Jesus
Em sua homilia, o Pontífice recordou que “o Senhor serviu-nos até ao ponto de experimentar as situações mais dolorosas para quem ama: a traição e o abandono”. E acrescentou que “Jesus sofreu a traição do discípulo que O vendeu e do discípulo que O renegou”.
Por isso, o Santo Padre assinalou que, “quando nos sentimos encurralados, quando nos encontramos num beco sem saída, sem luz nem via de saída, quando parece que nem Deus responde, lembremo-nos que não estamos sozinhos. Jesus experimentou o abandono total, a situação mais estranha para Ele, a fim de ser em tudo solidário conosco. Fê-lo por mim, por ti, por todos nós; fê-lo para nos dizer: ‘Não temas! Não estás sozinho. Experimentei toda a tua desolação para estar sempre ao teu lado’”.
Verdadeiros heróis que saem à luz nestes dias
Além disso, o Papa dirigiu uma mensagem especial aos jovens por ocasião da 35ª Jornada Mundial da Juventude, em nível diocesano, com o tema: “Jovem, Eu te digo, levanta-te!” (Lc 7,14), incentivando-os a olhar “para os verdadeiros heróis que vêm à luz nestes dias”, porque “não são aqueles que têm fama, dinheiro e sucesso, mas aqueles que se oferecem para servir os outros”.
“Senti-vos chamados a arriscar a vida. Não tenhais medo de a gastar por Deus e pelos outros! Lucrareis… Porque a vida é um dom que se recebe doando-se. E porque a maior alegria é dizer sim ao amor, sem se nem mas... Dizer sim ao amor, sem se nem mas, como fez Jesus por nós”, expressou o Papa.
Assim, o Santo padre convidou a refletir “como nos serviu o Senhor?”, e respondeu: “Dando sua vida por nós”. “Somos queridos a seus olhos, mas custamos-Lhe caro”, disse e acrescentou que “o seu amor levou-O a sacrificar-Se por nós, a tomar sobre Si todo o nosso mal”.
“É algo que nos deixa sem palavras: Deus salvou-nos, deixando que o nosso mal se encarniçasse sobre Ele: sem reagir, somente com a humildade, paciência e obediência do servo, exclusivamente com a força do amor. E o Pai sustentou o serviço de Jesus: não desbaratou o mal que se abatia sobre Ele, mas sustentou o seu sofrimento, para que o nosso mal fosse vencido apenas com o bem, para que fosse completamente atravessado pelo amor. Em toda a sua profundidade”, afirmou.
Traição e abandono
Ao se referir ao relato do Evangelho da Paixão de Jesus Cristo, o Pontífice explicou que “o Senhor serviu-nos até ao ponto de experimentar as situações mais dolorosas para quem ama: a traição e o abandono”.
“Pensemos nas traições, pequenas ou grandes, que sofremos na vida. É terrível quando se descobre que a confiança deposta foi burlada. No fundo do coração, nasce uma tal decepção que a vida parece deixar de ter sentido. É assim, porque nascemos para ser amados e para amar, e o mais doloroso é ser traído por quem nos prometera ser leal e solidário. Não podemos sequer imaginar como terá sido doloroso para Deus, que é amor”.
Por isso, incentivou a nos examinarmos interiormente, porque, “se formos sinceros para conosco, veremos as nossas infidelidades. Tanta falsidade, hipocrisia e fingimento! Tantas boas intenções traídas! Tantas promessas quebradas! Tantos propósitos esmorecidos”.
“O Senhor conhece melhor do que nós o nosso coração; sabe como somos fracos e inconstantes, quantas vezes caímos, quanto nos custa levantar e como é difícil sanar certas feridas”.
Nesse sentido, o Papa exortou a olhar o Crucifixo para meditar como Jesus “curou-nos, tomando sobre Si as nossas infidelidades, removendo as nossas traições. Assim nós, em vez de desanimarmos com medo de não ser capazes, podemos levantar o olhar para o Crucificado, receber o seu abraço e dizer: ‘Olha! A minha infidelidade está ali. Fostes Vós, Jesus, que pegastes nela. Abris-me os braços, servis-me com o vosso amor, continuais a amparar-me... Assim poderei seguir em frente!’”.
“Queridos irmãos e irmãs, que podemos fazer vendo Deus que nos serviu até experimentar a traição e o abandono? Podemos não trair aquilo para que fomos criados, nem abandonar o que conta. Estamos no mundo, para amar a Ele e aos outros: o resto passa, isto permanece”, recordou Francisco.
Pedir a graça de viver para servir
Deste modo, o Santo Padre explicou – referindo-se à pandemia do coronavírus – que “o drama que estamos a atravessar neste período impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor”.
“Então, nestes dias da Semana Santa, em casa, permaneçamos diante do Crucificado – contemplai, contemplai o Crucificado! –, medida do amor de Deus por nós. Diante de Deus, que nos serve até dar a vida, contemplando o Crucificado peçamos a graça de viver para servir. Procuremos contatar quem sofre, quem está sozinho e necessitado. Não pensemos só naquilo que nos falta; pensemos no bem que podemos fazer”, incentivou.
Por fim, o Papa Francisco destacou que “o Pai, que sustentou Jesus na Paixão, anima-nos, também a nós, no serviço. É certo que amar, rezar, perdoar, cuidar dos outros, tanto em família como na sociedade, pode custar; pode parecer uma via-sacra. Mas a senda do serviço é o caminho vencedor, que nos salvou e salva, que nos salva a vida”, concluiu.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.
Confira também:
Semana Santa 2020: Homilia do Papa Francisco na Missa do Domingo de Ramos https://t.co/KVOVZyHuPK
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