Dec 5, 2025 / 16:04 pm
Os Arautos do Evangelho publicaram em novembro o livro O Comissariado dos Arautos do Evangelho para relatar o que consideram injustiças sofridas desde 2017 com intervenção do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica na organização. Na sua visão, os arautos são vítimas de perseguição do cardeal João Braz de Aviz, que era prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica na época das investigações da Santa Sé.
Os Arautos do Evangelho formam uma Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício fundada em 21 de setembro de 1999, em São Paulo (SP), pelo monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, ex-integrante da organização laica católica conservadora Tradição, Família e Propriedade. Scognamiglio foi ordenado padre aos 65 anos e morreu aos 85 anos, em 1º de novembro de 2024. Os Arautos do Evangelho tiveram seu reconhecimento pontifício pelo papa são João Paulo II, em 22 de fevereiro de 2001, data festa litúrgica da Cátedra de São Pedro.
Em 2017 o papa Francisco ordenou uma visita apostólica, para investigar suspeitas de irregularidades, sucedida por um comissariado, que é a nomeação pela Santa Sé de um comissário para governar temporariamente e reformar uma organização ou instituto religioso.
“O livro só pretende oferecer às almas de boa vontade um relato objetivo e documento dos fatos que nos fizeram chegar a essa situação – desde a Visita Apostólica iniciada em 2017, passando pelo comissariado começado em 2019 e que já se estende por mais de seis anos –, acompanhado de substanciosos estudos jurídico-canônicos que patenteiam, à luz do Direito Canônico, a gravidade desses mesmos fatos”, disse José Manuel Jiménez, doutor em direito canônico e co-autor do livro. “Os Arautos do Evangelho existem para servir a Igreja no imenso lavor de evangelização encomendada pelo Divino Mestre: Ide e pregai o Evangelho por todo o mundo (Mc 16, 15)”.
Jiménez e a co-autora irmã Juliane Vasconcelos Almeida Campos, doutora em Filosofia, são membros dos Arautos do Evangelho. A obra, segundo eles, é “ilustrada com fotos, testemunhos e documentos que mostram toda a verdade sobre o Comissariado a que foi submetida a Associação”.
“Num primeiro momento, esperançados com a próxima conclusão duma intervenção que o próprio comissário pontifício, o cardeal Raymundo Damasceno Assis, deseja encerrar há mais de um ano e meio, pensamos em escrever esta obra como um dossiê, apenas com finalidade histórica e documental”, disse Jiménez à ACI Digital. “Entretanto, vendo que a situação tende a se prolongar injusta e indefinidamente, pareceu necessário levar o trabalho a público. A legítima defesa é um direito natural de todo e qualquer acusado. E quando se trata, como em nosso caso, de acusações sem nenhuma prova, surge o direito à boa fama”. Segundo os decretos da visita apostólica e do comissariado, “todos e cada um dos membros” da associação são “suspeitos de graves delitos", disse Jiménez.
Ele contou que “inúmeras pessoas nas dezenas de países” em que atuam “em comunhão com bispos e párocos, e até inúmeras pessoas alheias” às suas atividades, os questionaram se eles não iam “se defender?”
“E a suspeita pairava de existirem realmente alguma causa grave que levava a prolongar o comissariado; o qual não pode deixar de ser declarado injusto e sob muitos aspectos ilegal. Daí a necessidade de dar uma explicação a tantas almas desejosas de praticar os Mandamentos em comunhão com a Igreja Católica, participando de nosso carisma”, disse.
Relato objetivo e documento dos fatos
Segundo Jiménez, os Arautos ensinam “os homens a viver em conformidade com o Evangelho, o que hoje é realmente raro em muitíssimos ambientes outrora católicos”.
“Essas atividades apostólicas estão sendo coarctadas pela falta de liberdade de autogoverno, e a grave suspeita de existirem, entre os arautos, escândalos morais como os que enchem cotidianamente a imprensa”, disse o autor. “Queremos proclamar a verdade, a fim que este injusto cerceamento da liberdade de evangelizar acabe. Como dizia um sacerdote arauto em recente podcast sobre o tema, a ilibada inocência de nosso fundador, monsenhor João Clá, ficou agora patente e juridicamente comprovada, tal qual o livro demonstra. Por que impedir este carisma de se difundir?”
Irregularidades canônicas
O decreto de intervenção do Comissariado diz que existem tanto na Associação Arautos do Evangelho como nas duas sociedades de vida apostólica: “situações problemáticas e de carência especialmente no que se refere a estilo de governo e de vida de cada um de seus membros, à pastoral vocacional, à formação das novas vocações, à fonte dos recursos financeiros e à administração, à gestão das obras e atividades apostólicas”.
“Qualquer leitor comum, e mais um jurista ou um canonista, pode perceber a vastidão das suspeitas levantadas sobre cada um dos membros”, comentou Jiménez. “O que torna qualquer tentativa de emenda impossível, dada a vaguidade das acusações”.
“Numa legislação civil, não ditatorial, cada uma dessas acusações deveria ser acompanhada de provas jurídicas incriminatórias, relativas às pessoas concretas acusadas: no caso os milhares de membros dos Arautos no mundo inteiro”, disse o autor.
Jiménez ainda contou que “ao longo destes oito anos de visita apostólica e comissariado tanto os visitadores quanto o comissário e seus auxiliares declararam repetidas vezes, e por escrito, não terem recebido do dicastério dirigido por dom João Braz de Aviz, e atualmente pela irmã Simona Brambilla, nenhum documento inculpando de algo específico a nenhuma pessoa concreta”.
“Por outro lado, ao longo da visita apostólica foi dada escuta privilegiada a desafetos declarados da instituição, mas não aos simpatizantes, vulnerando o princípio jurídico audiatur et altera pars (que a outra parte também seja ouvida)”, disse Jiménez.
“Poderíamos estender o relato de outras irregularidades por várias páginas: trocas irregulares de cargos, cancelamento arbitrário das ordenações sacerdotais e diaconais em oposição ao Direito, cerceamento do crescimento da instituição ao impedir a recepção e formação de jovens vocações, ataques explícitos às raízes carismáticas da instituição, modificação oculta do projeto para novas constituições e estatutos já aprovados consensualmente e um longo etcétera”, pontuou.
‘Animadversão’ do cardeal Aviz
Para Jiménez fica claro nos “documentos apresentados no livro” que “já desde os tempos em que dom João Braz de Aviz era bispo de Ponta Grossa (PR) manifestou animadversão contra os Arautos do Evangelho”.
Ele afirma que dom Braz de Aviz “já como prefeito da então Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica teve expressões como: Eu vou acabar com eles! Vou dar um pontapé no peito deles!”.
Durante todo o processo de intervenção, essa animosidade contra a instituição demonstrou-se, segundo Jiménez, “pela ausência completa de diálogo e iniciativas diretamente do dicastério contra a instituição”.
A ACI Digital tentou contato com o cardeal Aviz, mas até a publicação desta matéria não teve retorno.
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