18 de dezembro de 2025 Doar
Um serviço da EWTN News

Documento sinodal da Itália expõe tensão entre renovação ou ruptura

O cardeal Matteo Maria Zuppi (à direita), presidente da Conferência Episcopal Italiana, em missa na basílica de São Pedro, no Vaticano, em 7 de maio de 2025. | Dimitar Dilkoff / AFP via Getty Images

A aprovação do documento que resume o percurso sinodal da Igreja na Itália, em 25 de outubro, não marcou o fim do árduo processo do sínodo. Pelo contrário, começou um novo, ainda mais complexo, pois o documento certamente atende às expectativas da assembleia, mas também põe em discussão muitos princípios da Igreja.

O documento Fermento da Paz e da Esperança é extenso, chegando mesmo a pedir a bispos para apoiar protestos contra a “homofobia e a transfobia”, influenciando, na prática, decisões pastorais. O documento pede um estudo sobre a possibilidade de um diaconato feminino, tema para o qual o papa Francisco nomeou duas comissões, embora nenhuma delas tenha chegado a uma conclusão.

Obviamente, um documento sinodal não pode substituir a autoridade de um bispo, assim como uma conferência episcopal, que é um órgão administrativo, também não pode. A sensação, no entanto, é de que há uma tentativa de inverter essa dinâmica.

Algumas informações básicas

Para entender o que aconteceu, é preciso voltar um pouco no tempo. Como parte do seu processo sinodal, a Conferência Episcopal Italiana (CEI) elaborou um documento de síntese, uma série de proposições. Mas essas proposições não conseguiram o consenso dos cerca de mil delegados sinodais. Em abril deste ano, quando o texto foi analisado, ele teve um número exorbitante de emendas.

Naquele momento, decidiu-se adiar a discussão do documento, reescrevê-lo e até mesmo adiar a assembleia geral da CEI, que tradicionalmente ocorre em maio. As proposições foram reescritas para alcançar maior consenso, resultando no texto que foi divulgado inicialmente online e, em seguida, votado em sessão fechada na Terceira Assembleia Sinodal, em 25 de outubro.

O documento foi aprovado com 781 votos a favor e 28 contra, de um total de 809 votos. A presidência da CEI nomeará agora um grupo de bispos que, com base no documento, desenvolverá prioridades, resoluções e notas que serão centrais nos trabalhos da assembleia geral deste mês.

O atraso na aprovação do documento sumário no início deste ano foi uma quebra da praxe da Igreja na Itália, resultando no primeiro adiamento desse tipo em meio século.

A Igreja na Itália na última década viu uma concentração maior na implementação dos princípios sinodais, inspirando conferências episcopais de outros países a seguirem o exemplo. Esse “caminho sinodal” enfatiza a necessidade de contribuições e construção de consenso, junto com um processo estruturado de diálogo, escuta e “discernimento em oração”.

A dificuldade em chegar a um consenso sobre o documento de síntese deste ano reflete essa nova ênfase sinodal.

Os pontos mais controversos

Todos os pontos foram aprovados. Mas alguns com mais votos do que outros.

Que a CEI apoie e promova projetos de pesquisa de faculdades e associações teológicas para contribuir com o estudo de questões relacionadas ao diaconato feminino, iniciadas pela Santa Sé” recebeu 625 votos a favor e 188 contra.

Outro ponto proposto pela CEI é que ela “apoie com oração e reflexão os 'dias' promovidos pela sociedade civil para combater todos os tipos de violência e demonstre solidariedade com aqueles que são feridos e discriminados. Esses dias são contra a violência e a discriminação de gênero, a pedofilia, o bullying, o feminicídio, a homofobia e a transfobia”. Foi aprovada por 637 votos a 185.

Comentários

O arcebispo de Bolonha, Itália, cardeal Matteo Zuppi, presidente da CEI, falou sobre uma “operação corajosa” e de bispos que “escutaram juntos a voz do Espírito” e que “pararam de ignorar os problemas e de acreditar ser possível continuar adiando as decisões”.

O arcebispo de Módena-Nonantola, Erio Castellucci, presidente do Comitê Nacional do Caminho Sinodal da Igreja na Itália, elogiou o documento e disse ter esperança de que “a CEI torne obrigatórias as orientações pastorais contidas no documento”.

“Esperamos que a CEI faça a sua parte”, disse Castellucci, “adotando esse texto e não só divulgando-o, e começando a tomar as decisões que já podem ser tomadas”.

As melhores notícias católicas - direto na sua caixa de entrada

Inscreva-se para receber nosso boletim informativo gratuito ACI Digital.

Suscribirme al boletín

O presidente do comitê sinodal disse que o documento “não pretende ser um documento doutrinário”, mas visa “a corresponsabilidade, o que implica a renovação dos órgãos participativos dentro das comunidades, uma liderança mais compartilhada das comunidades cristãs, um papel mais reconhecido para as mulheres e uma difusão dos ministérios não só em torno do altar, mas no verdadeiro sentido de presença na comunidade, na sociedade e de modo mais geral”.

Nem todos os bispos, porém, apreciaram o documento. O bispo de San Miniato, Itália, Giovanni Paccosi, amigo do papa Leão XIV (ele foi missionário com Prevost no Peru), disse: “Senti em vários pontos a pressão de transformar o que era só um pedido de poucos em uma exigência universal, e a dificuldade enfrentada por aqueles que deveriam votar, já não podendo fazer distinções, em artigos que continham, misturadas, propostas desconexas e, na minha opinião, tendenciosas”.

O bispo de Ventimiglia-Sanremo, Antonio Suetta, enviou um texto ao site da União de Cristãos Católicos Racionais, no qual diz que a assembleia sinodal é “uma consulta de fiéis (e não-fiéis) promovida pela Conferência Episcopal Italiana em estilo sinodal”. Não se trata formalmente de um sínodo, nem de um pronunciamento da própria CEI, embora vários bispos também tenham estado presentes em assembleias subsequentes.

Suetta disse que “apesar da intenção de abrir o percurso sinodal ao maior número possível de pessoas envolvidas, estatísticas mostram que, em todos os níveis do percurso, os participantes ainda são uma minoria em comparação com os fiéis na Itália”.

“O texto aprovado resultante, infelizmente, registra tendências e visões da Igreja e da doutrina que, na minha opinião, precisam ser verificadas e retificadas à luz da doutrina católica, contida, por exemplo, no Catecismo da Igreja Católica e no magistério constante e ininterrupto sobre as questões debatidas hoje”, disse o bispo.

Nossa missão é a verdade. Junte-se a nós!

Sua doação mensal ajudará nossa equipe a continuar relatando a verdade, com justiça, integridade e fidelidade a Jesus Cristo e sua Igreja.

Doar