Oct 25, 2025 / 07:24 am
“Eu diria que ele é um ilustre desconhecido, frei Galvão é o nosso primeiro santo brasileiro e está aquém ainda de ser mais explorado pelos fiéis católicos brasileiros”, disse à ACI Digital o vigário do santuário de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, em Guaratinguetá (SP), frei Leandro Costa. Segundo ele, embora seja muito conhecido pelas pílulas de fé, frei Galvão, que será celebrado no sábado (25) pela Igreja, tem muito a ensinar por sua vida de santidade.
“O frei Galvão se destaca por suas virtudes, que começam já de casa”, disse.
Antônio de Sant’Anna Galvão nasceu em Guaratinguetá, em 10 de maio de 1739, em uma família que tinha muitas posses. Seus pais, Antônio Galvão e Isabel Leite, tiveram 11 filhos.
“Ele tem uma família que o incentivava na vivência da caridade”, contou o frei Leandro. Segundo ele, “há relatos de que, vendo a mãe envolvida com a caridade, frei Galvão – no caso ainda só Antônio – já ia crescendo e percebendo essa ação caritativa”.
Em casa, também aprendeu a ter uma vida “de piedade” e uma devoção à santa Ana, avó de Jesus. “O Sant’Anna que ele acrescenta ao nome quando faz os votos certamente é referência à devoção à santa Ana, a quem sua família tinha uma devoção muito particular”, disse, destacando que “na casa museu Frei Galvão”, em Guaratinguetá, “nós encontramos o oratório dando referência à devoção à santa Ana”.
Para o vigário, essa realidade familiar de frei Galvão mostra que “santos podem nascer de famílias que se santificam todos os dias, no trabalho, na caridade, na vida de oração, no compromisso, tudo isso fomenta a santidade”.
Vida religiosa
Aos 16 anos, Antônio Galvão entrou para o convento franciscano de São Boaventura de Macacu, Porto das Caixas (Itaboraí), Capitania do Rio de Janeiro. Em 1761, fez seus votos solenes e, um ano depois, foi admitido à ordenação sacerdotal. Foi, então, enviado para o convento de São Francisco, em São Paulo, a fim de aperfeiçoar os seus estudos de filosofia e teologia.
Frei Leandro Costa chamou atenção para o fato de que frei Galvão, “o primeiro santo brasileiro”, é “franciscano” e, “curiosamente, a primeira missa celebrada no Brasil foi pelos frades”. “Deus provê, dá-nos a graça de ter o primeiro santo brasileiro dessa semeadura”.
Segundo ele, frei Galvão “se destaca muito” dentro “da vida religiosa franciscana”. Ainda “muito jovem” e devido “aos dons que trazia consigo e que Deus lhe deu”, ele assumiu como guardião do Convento de São Francisco, em São Paulo (SP). “E a guardiania é o cuidado da casa e dos seus co-irmãos, dos confrades”, ressaltou.
Também foi porteiro, que “é quem tinha contato com toda a sociedade”. “Então, todas as grandes personalidades paulistanas, frei Galvão tinha contato. Ele tinha jeito de falar, sabia se comunicar, era inteligente o suficiente para poder mediar as situações”, disse o vigário.
“Mas também”, acrescentou, “na portaria em um convento franciscano, para quem conhece a história sabe que é o lugar onde o necessitado bate sem dificuldade, existe uma liberdade do necessitado vir ao frade. E frei Galvão se ocupou disso”.
Frei Leandro citou ainda a função ocupada por frei Galvão como confessor, “que é a expressão da sua vida religiosa, ele era o confessor de São Paulo”.
Dons extraordinários
À medida que frei Galvão “ia vivendo sua vida religiosa”, contou o frei Leandro, “Deus expressa na vida dele a sua glória, fazendo dele um homem com dons extraordinários”. Entre esses dons está o da levitação, “um dos milagres representados em um painel no presbitério do santuário”.
Segundo frei Leandro, esse dom da levitação levou inclusive a criação de uma jaculatória, “na piedade popular” que dizia: “Meu frei Galvão, você que não pisa no chão, na minha aflição, dai-me consolação”. A versão hoje usada no santuário não faz mais referência ao milagre: “Na minha aflição, dai-me consolação, meu santo frei Galvão”.
O santo também tinha “o dom da bilocação”. O vigário narrou um episódio de um moribundo em Potunduva, interior de São Paulo, que ia morrer sem confissão e invocou frei Galvão. O frade, porém, estava em São Paulo celebrando uma missa e, naquele momento, “pediu que todos rezassem por uma pessoa que morria”. “Segundo a história, ele apareceu em Potunduva ao homem que morria e este homem se confessou e morreu”.
Frei Leandro citou ainda o dom de “perceber as coisas que a pessoa fez no passado e prever as que via no futuro”.
Mosteiro da Luz
Em 1774, frei Galvão fundou o Recolhimento, hoje Mosteiro da Luz, das irmãs concepcionistas. O próprio frei Galvão projetou e trabalhou na construção do recolhimento, incluindo a capela.
“O Mosteiro da Luz é uma expressão material de um compromisso para além do serviço ministerial ali do altar”, disse o frei Leandro.
Segundo o frade, havia naquela época uma religiosa, Helena Maria do Sacramento, “que tinha visões místicas e frei Galvão foi convidado para interpretar, para ver a veracidade dessas visões, dos sonhos que ela tinha”. No sonho, a irmã via Jesus e, debaixo dela, ovelhas, que “eram outras irmãs”. Frei Galvão foi chamado para interpretar esse sonho e verificar a veracidade do sonho. Em seguida, “o bispo permitiu a construção de um recolhimento”. Depois de um tempo, a irmã Helena Maria morreu e frei Galvão “levou adiante a obra com outras irmãs”.
Já com a saúde debilidade, frei Galvão recebeu autorização especial para morar no Recolhimento da Luz, onde passou os últimos dias de sua vida, aos cuidados das religiosas. Ele morreu em 23 de dezembro de 1822, aos 83 anos.
Segundo frei Leandro, frei Galvão não chegou a ver a obra concluída, embora a tenha “idealizado” e começado. “Tem até nas paredes do quarto dele rabiscos, o que seria. Ele desenha uma igreja com duas torres”, ao contrário do que foi construído, com uma torre.
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Mais tarde, a idealização do Mosteiro da Luz deu a frei Galvão “o título de patrono dos construtores civis”.
Frei Galvão está enterrado no Mosteiro da Luz.
Devoção mariana
Segundo frei Leandro Costa, outro dado que “é muito eloquente” na vida de frei Galvão é sua devoção mariana, particularmente a “devoção dele a Maria Imaculada”.
“Em 1766, isso é testificado, ele escreve a sua carta de consagração, e ao final dessa carta ele assina, Frei Antônio de Sant’Anna Galvão”, assinatura feita “com o próprio sangue”, contou o vigário do santuário. Segundo ele, essa consagração “perpassa a vida de frei Galvão do começo ao fim, tudo que ele fez, todas as obras que ele fez, todas as suas atitudes e as pílulas da fé, no fundo, são uma devoção mariana”.
Frei Leandro destacou que “o dogma da Imaculada Conceição é defendido pelos franciscanos já no século XIII” e “todo frade – e com frei Galvão foi a mesma coisa – é imaculista”. “Quando fazia os votos, o frade tinha que professar a defesa à Imaculada Conceição”, contou, ressaltando que frei Galvão viveu no século XVIII e o dogma da Imaculada Conceição foi proclamado pelo papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854.
O vigário do santuário ressaltou ainda o fato de a imagem de Nossa Senhora Aparecida ter sido encontrada em 1717 em Guaratinguetá, cidade onde frei Galvão nasceu anos depois, em 1739. “Naquela época não era a cidade de Aparecida como conhecemos hoje, mas sim Guaratinguetá”, disse.
Devoção a frei Galvão
Embora muitos considere que muitos aspectos da vida de frei Galvão ainda precisam ser mais conhecidos pelos católicos brasileiros, frei Leandro contou que tem percebido que “a devoção a ele tem aumentado”. Este ano, para a festa de frei Galvão, que começou dia 16 e segue até o dia 26 de outubro, a estimativa é de receber cerca de 100 mil pessoas.
Atualmente, no santuário, são celebradas sete missas e, segundo o vigário, participam “pessoas da região, das cidades vizinhas como Lorena, Aparecida, Cachoeira Paulista, Potim, mas também de outros lugares”. “O afluxo de pessoas tem aumentado muito”, disse o frade, ressaltando que veem “gente de norte a sul vindo ao santuário” e também de outros países, “como a Polônia”.
Frei Leandro disse perceber também um aumento na demanda pelas pílulas de fé, que são produzidas no santuário e “distribuídas para todo o Brasil”. “Muitas pessoas ligam pedindo”, disse.
Além disso, as pílulas também se tornaram conhecidas fora do Brasil e “há vários países que pedem”. Inclusive, as pílulas já foram traduzidas para o inglês e há projeto para a tradução ao espanhol.
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