Sep 23, 2025 / 13:22 pm
O papa Leão XIV recebeu ontem (22) o cardeal Robert Sarah em audiência privada na primeira vez que os dois se encontraram formalmente desde que Leão XIV foi eleito papa em maio.
O conteúdo da conversa não foi tornado público, como é “geralmente” o caso com esse tipo de audiência, disse Matteo Bruni, porta-voz da Santa Sé, ao jornal National Catholic Register, da EWTN.
Numa entrevista recente, o ex-liturgista-chefe da Santa Sé disse que estava olhando com “grande confiança” para o pontificado de Leão XIV, por acreditar que o papa estava “trazendo de volta a centralidade indispensável de Cristo”.
O cardeal guineense disse ao jornal Avvenire, da Conferência Episcopal Italiana (CEI), em 12 de setembro, que acolheu com satisfação a “consciência evangélica” de Leão XIV e como ele está comunicando que sem o Senhor, “não podemos fazer nada, nem construir a paz, nem construir a Igreja, nem salvar almas”.
Ele também elogiou o “espírito de escuta e diálogo” do papa e sua “prudente consideração da Tradição”. Só com uma Tradição viva que permita a transmissão da Revelação Divina a Igreja poderia existir, disse o cardeal, dizendo também que isso está “tudo em perfeita continuidade com as decisões do Concílio Vaticano II”.
O cardeal Sarah, de 80 anos de idade, disse que, independentemente do rito católico autêntico a que pertençam, "todos os batizados têm cidadania" se dividirem o credo. Ele disse que a diversidade secular de ritos na Igreja nunca criou problemas para as autoridades, pois a unidade da fé era clara e reconhecida como um "grande tesouro".
"Eu me pergunto se um ritual com cerca de mil anos pode ser proibido", perguntou o cardeal, referindo-se implicitamente à Traditionis custodes, motu proprio do papa Francisco publicado em 2021, que resultou em restrições severas ao rito romano tradicional anterior à reforma do Concílio Vaticano II. "Se a liturgia também é uma fonte para a teologia, como o acesso a fontes antigas pode ser proibido?”, disse ele. “Seria como proibir o estudo de Santo Agostinho para aqueles que desejam refletir corretamente sobre a graça ou a Trindade".
Na mesma entrevista, o cardeal falou da necessidade de superar duas visões ideológicas na Igreja “que se alimentam uma da outra”. Elas ou desejam apagar ou negar a Tradição para se assimilar ao mundo, ou veem a Tradição como “cristalizada e mumificada”, afastada de qualquer processo frutífero da história.
“A missão da Igreja é única e, como tal, deve ser cumprida em espírito de comunhão”, disse Sarah. “Existem diferentes carismas, mas a missão é una e pressupõe comunhão”.
Referindo-se ao seu último livro, Deus Existe? O Grito do Homem Pedindo Salvação, em tradução livre, o livro foi publicado só em italiano até o momento, o cardeal destacou que Deus se tornou um estranho na vida de muitas pessoas, substituído por "ídolos de todos os tipos". O homem "destronou Deus" e desistiu de buscar o sentido da vida, da morte, da alegria e do sofrimento, disse ele. “Estes foram substituídos por riqueza, poder e "a posse de coisas, até mesmo de pessoas".
Mas Deus “não é uma ideia, não é uma convicção pessoal vagamente racional ou emocional”, disse também o cardeal Sarah. “Deus é uma certeza: a certeza de que o Filho do Homem realmente existiu e ainda habita entre nós. A verdade existe. A Encarnação aconteceu. Assim como há 2025 anos alguns o encontraram e o reconheceram, hoje ainda é possível encontrá-lo, reconhecê-lo, segui-lo e morrer por Ele”.
Falando sobre alguns aspectos do pontificado anterior, o cardeal disse que a dimensão sinodal precisa ser “aprofundada e esclarecida” para “evitar desvios ideológicos” que colocam duas eclesiologias — a sinodal e a comunitária — uma contra a outra.
“A comunhão é um fim; a sinodalidade é um meio, a ser testado”, disse o cardeal Sarah. “A comunhão é hierárquica, porque é assim que Jesus queria que a sua Igreja fosse; a sinodalidade, como nos lembrou o papa Leão, é mais um estilo”.
Sobre a Fiducia supplicans, a declaração da Santa Sé publicada em 2023 que permitiu bênçãos não litúrgicas de uniões homossexuais, o cardeal Sarah disse esperar que ela pudesse ser "esclarecida e talvez reformulada". Ele disse também que a considerava "teologicamente fraca e, portanto, injustificada".
“Ela põe em risco a unidade da Igreja”, disse Sarah. “É um documento a ser esquecido".
Respondendo se, dada a sua idade avançada, poderia tornar-se uma ponte entre continentes, o cardeal Sarah disse que tenta falar sobre o Evangelho às pessoas “saciadas e desesperadas” do Norte e oferecer uma “voz de esperança para o Sul”, que “não perdeu as razões de viver e morrer, de lutar e de amar, mas está retido por problemas que poderiam de fato ser resolvidos, mas que ninguém parece realmente querer resolver devido a interesses não reconhecidos”.
O cardeal disse que a Igreja na África pode oferecer “aquele frescor de fé, aquela autenticidade e entusiasmo que às vezes não surgem no Ocidente”. Ele pediu aos fiéis que não se esqueçam “do preço altíssimo que estão pagando em termos de martírio violento: certamente será fecundo, semente de novos cristãos”.
A audiência de ontem com o papa Leão XIV ocorreu dois meses depois de o papa ter enviado o cardeal Sarah como seu enviado ao 400º aniversário da aparição de santa Ana em Sainte-Anne-d'Auray, na Bretanha, noroeste da França.
Numa homilia contundente na missa solene que marcou o aniversário, o cardeal Sarah enfatizou a importância da adoração eucarística e que a liturgia "não é um espetáculo humano", mas é "imbuída de beleza, nobreza e sacralidade". Ele também alertou contra a redução da religião a uma mera ação humanitária.
O cardeal convidou os fiéis a seguirem o exemplo de santa Ana, mãe da Bem-Aventurada Virgem Maria, amando e adorando o Senhor acima de todas as coisas num mundo que rejeita Deus e tem uma visão falsa da religião.
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